quarta-feira, 29 de julho de 2009

Fábrica de dinheiro



Ainda no encalço da nossa vaga na calçada da fama, eis que me deparei com algo que só revelarei a vocês, porque de resto pode gerar algum mal entendido e problemas com a justiça.
Domingo, deixei o Tomás na casa da avó e fui com minha irmã ver, pela última vez, a mesa de bolo do casamento. Voltamos duas horas depois para almoçar e continuar com os preparativos, que têm me consumindo muito e, por isso, tenho deixado o filhote um pouco em segundo plano. E para explicar a ele a situação sempre justifico que precisamos ajudar a dinda a gastar pouco.
O fato é que ao entrar em casa a sala estava um caos, com papel, canetas, lápis de cor e tesouras espalhadas por todos os cantos. E meu filho estava alegre e faceiro jogando os tais papéis para cima. Eu, com a minha pouca paciência de costume, perguntei:
- O que é isso, Tomás? Que bagunça é essa?
- Mãe, você não vai acreditar! (Realmente, eu não estava acreditando).
- Eu estou rico, mãe! Eu fiz dinheiro!
Os tais papéis no chão estavam cortados em formato retangular, coloridos de verde, com símbolos estranhos e números seguidos de muitos zero. A explicação dele para a minha cara de espanto foi:
- Mãe, são verdinhas, são dólares! A gente tá rico!
Depois das explicações sobre a lei e as formas legais de se conseguir dinheiro, o pequeno perdeu a alegria, guardou os lápis de cor e com a cara fechada disse:
- Que pena, mamãe! Que pena!
A prova do crime foi devidamente destruída, assim como as ilusões financeiras dele... Se tudo fosse feito com criatividade, imaginação e lápis de cor, o mundo seria bem mais perfeito.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Calçada da fama

Indo para a casa da tia Fátima no aniversário do tio Maurício, Tomás confabulava planos para o futuro, quando me disse:- Mãe, já pensou se eu fosse famoso o tanto que ia ser bom?
- Por que, filho?
- Eu ia chegar nos lugares e nem ia dizer quem eu era. O porteiro da tia Fátima ia deixar eu subir sem perguntar nada.
- Sei... E daí?, disse eu querendo minimizar os efeitos da calçada da fama.
- Eu não ia pagar contas e eu ia dar autógrafos. E você não ia trabalhar.
- Bom, neste caso, seria excelente, filho.
Cinco minutos depois, chegamos ao prédio da tia Fátima e o porteiro falou:- Vai subir, dona Luisa?
Eu não resisti e quis tirar onda:- Viu como a mamãe é famosa?
- É, mas continua pagando conta, né?
Fazer o que se meu nome não está na calçada da fama, se o meu filho não virou celebridade e se as contas conhecem de cor e salteado o meu endereço. Pelo menos para elas, eu também sou famosa.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lista


Cheguei no 15 de julho com aquela sensação de meio do ano. No elevador, a conversa era “nossa, já chegou o meio do ano!”. Na farmácia, a caixa disse “já estamos em julho e eu nem vi metade do ano passar”. Minha mãe me disse: “esse ano está mais rápido do que o outro”. Aí... Cheguei em casa, cuidei das tarefas do lar e como o sono não veio, resolvi abrir a lista. A lista é formada pelas 16 coisas que resolvi priorizar para 2009 para não chegar com a sensação de vazio que às vezes me persegue. Listei no último dia do ano, ia coloca-la no guarda-roupa, mas não sei porque cargas d´água, ela ficou dobrada na pasta de couro que nunca uso.
Abri a lista para ver como eu estava no andamento das coisas, mas também para entender o que era prioridade seis meses antes e agora não é mais. Descobri que começar foi fácil, que empaquei onde sempre empaco e que mudei muito nos últimos meses.
Dos 16 itens, dois estão fora, dependiam demais de terceiros e foram um exercício para minha confiança... Nove itens estão em andamento pleno com adaptações. Um item já não é mais tão importante, eu estava muito exausta quando o priorizei. Dois itens dependem da minha paciência, então vou me comprometer mais com ela. E três itens são fiéis às listas de quase todo mundo (economizar, malhar e estudar), mas ainda estão nos planos de setembro.
Até dezembro acho que chego bem perto dos 80%, o que será muito bom.Não estavam escritos na lista, mas faziam parte dela e estão em pleno êxito: ler um livro por mês, ir mais ao cinema, fazer novos amigos, cozinhar, reciclar, ousar um bocadinho, ser mais irmã da minha irmã, organizar minha casa... E todos me fizeram muito bem, obrigada, e vão deixar a lista, no balanço final, com as graças divinas, com aproveitamento 100% do seu objetivo principal: sorrir mais.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Trechos de uma viagem

Viagem de dois dias para seguir o delírio de uma mãe/tia em busca da realização dos sonhos do seu filho e do seu sobrinho para ir na Ciranda Discovery. No caso, eu não era a delirante, fui só a acompanhante da minha amiga Carla, grávida de seis meses e mais animada do que duas de mim. A Ciranda Discovery é um evento do Discovery Kids, um canal pago para crianças de até 6 anos, que tem os desenhos mais fofos que já vi.
Fomos lá, domingo pela manhã, o tio, a tia, o primo Pedro, a mãe e o Tomás. Enfrentamos filas, maratona, corrida, manha, fome, cansaço, mas saímos vivos e com diploma de exploradores na mão. No caso, só os pequenos ganharam os diplomas. Nós ganhamos diplomas imaginários de “aventureiros” do ano.
Mas o melhor da viagem são sempre os diálogos, o que diverte a gente em qualquer lugar.

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Comunhão de ideias
Logo depois da saída de Goiânia, as primeiras frases:

- Vai demorar?
- É mesmo, mãe, vai demorar muito?
- A culpa é do papai que dirige muito devagar.

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Filas

Este não foi um diálogo. Foi só uma cena quase muda. Chegamos ao shopping às 10h40. Ficamos na fila para entrar no shopping. Eu em uma porta. O tio em outra entrada. As portas se abriram às 11h20. As crianças e a grávida foram preservadas.
Na hora que a porta abriu, eu corri mais que tudo para conseguir um bom lugar. Ficamos entre os 30 primeiros. Eu ganhei do tio (oh!).
Os ingressos só seriam liberados às 13 horas. Nos revezamos, eu e o tio, na fila quando um monitor nos avisa, 10 minutos antes, que como a tia estava grávida, estávamos na categoria preferencial e não precisávamos ficar ali.
- Mãe, você ficou na fila, mas foi a tia Carla que conseguiu os ingressos, né?

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Pergunta

Enquanto eu estava no meu momento folga da fila, com os dois meninos entediados, eis que o Pedro me faz a pergunta que não quer calar.

- Tia Luisa, por que você escolheu ter filho e não filha?

- Eu não escolhi, Pedro. Foi papai do Céu.
- Mas o que você achou?

O Pedro vai ganhar uma irmã em novembro. Estas crianças...

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Clarice
Como nós não conseguimos ser os primeiros da fila, nem fora, nem dentro do evento, quando finalmente entramos no circuito, o Tomás tomou a frente e foi o primeiro da fila. Olhou para mim, piscou o olho e disse:

- Você não precisa se preocupar, que agora eu tomo conta!

Como primeiro da fila foi o primeiro a ouvir a pergunta do monitor:

- Como é o nome da clara do ovo?

Ele respondeu prontamente:

- Clarice!

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Ilusão

A gente quer entrar no sonho deles... abusar da imaginação e acabamos com cara de...

Depois de seis horas no shopping, finalmente, fomos nos despedir do Doc, o cachorro apresentador do canal Discovery. O Pedro diz para o pai:

- Pai, por que ele não abre a boca?
- Ele está cansado, filhão. Já deu tchau para muita gente.
- Não, pai. É porque ele é um boneco

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Conta

Foram só 50 minutos de circuito, duas horas de viagem, muitas broncas e filas depois e a gente tinha que faturar em cima dos poucos minutos de fama. Então, era o Doc é legal, o Doc é bacana, o Doc isso, o Doc aquilo. O pai disse:

- Pedro, não foi bacana encontrar com o Doc?
- Foi e eu vou contar para ele que você não quer mais pagar a Sky e que não vai ter mais Doc lá em casa.

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Dia seguinte

O Tomás conseguiu amarrar um pé de sapato e saiu gritando pelo apartamento o seu “feito”. Só que ao tentar o segundo pé, o desastre estava feito e o choro ficou incontido e estridente.
Fui ao banheiro com ele tentar manter um diálogo que o tirasse da manha em que se encontrava.
- Filho, a gente não sabe tudo e não precisa chorar por isso!
- Mas eu queria saber amarrar, eu queria saber, mãe!
- Filho, a mamãe não “dirige” avião e nem por isso ela chora.
- Se eu fosse você, eu chorava.

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Volta

- Vai demorar muito para chegar?

Nem sei quem disse. Mas chegamos muitas fotos, risos e choros depois. Férias de julho para guardar na lembrança.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Moeda


Desde sempre tenho uma parceira importante na educação do meu filhote. É quem me socorre nas horas de aperto, é quem divide as tarefas diárias nem sempre prazerosas e é com quem eu troco ideias e tiro dúvidas na hora de educa-lo. Mas também é com ela que eu travo as maiores batalhas, sempre as duas querendo o melhor para ele. Falo da minha mãe, que há cinco anos, se transformou em avó e este tem sido seu papel principal desde então. Este mês tive que tomar a decisão de não deixa-lo viajar com ela por dias indeterminados para uma festa de família. Estávamos exaustas com ele de férias em casa e as reclamações eram muitas de ambas as partes. E ficamos, assim, ressentidas... Ela, porque queria muito que ele fosse. Eu, porque queria que ela entendesse que dias demais não dá e que para toda tarefa há que existir um descanso.
No meio deste entraves diários, está o nosso rei. Sim, ele sabe da sua majestade e tem muito jogo de cintura para usar o que há de melhor nas duas. E para saber que, aqui e ali, se barganha amor. Conversei com ele sobre minha decisão e ele aceitou bem. Preferiu ficar e ir com os amigos para a colônia de férias do que viajar sem data de retorno. Mas preferiu não dizer isso com estas palavras para a avó. Fez muxoxo. Disse que não queria ficar longe de mim, que ia sentir saudades e ela acabou aceitando.
Mas chegado o dia da viagem da avó, eis que ele deitado no sofá da casa dela, recebe um abraço carinhoso da avó já saudosa. Ela diz com aquele jeitinho que queria tanto que ele voltasse a caber no colo dela. Quando então, ele resolve usar sua melhor moeda, tirada do cofre-coração e diz:
- Se eu voltar a ser pequeno, você promete que não viaja!
Ela ganhou a noite, viajou, mas resolveu marcar o dia de volta. “Serão só sete dias, mamãe. A vovó me disse. Quantos dias faltam, então?”. E ele me confidenciou quando voltávamos para nossa casa: “Mamãe, eu não sei ficar pequeno, mas a vovó acha que eu sei, tá?”. Segredo compartilhado com vocês, mas não contem para ela, ok?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Pour Elise




Pour Elise é uma composição de Beethoven, feita supostamente para uma grande mulher, uma grande amiga, mas cuja inspiração é na verdade desconhecida.


Mas a composição é sobretudo a tradução do nome Elise, em francês, ou Elisa, em português. Delicada, forte, suave e quase como um vento nos ouvidos. O nome Elisa tem origem germânica e significa mulher feliz. Mas me disse uma mãe de Elisa, que ainda não viu seu rosto, mas já sente sua presença, que Elisa significa enviada de Deus.


Talvez por saber deste significado ou por sentir-se tão tocado por este nome de cinco letras que Beethoven fez esta música para Elisa com tanta delicadeza e movimento quanto cada um dos seus acordes...


Que haja então pour Elise muita música, graça, flores, felicidade, lágrimas nos olhos e amor que não mais termina.


Logo abaixo a música do mestre e, acima neste post, a inspiração para um arranjo de flor que, desde de domingo, se chama Elisa.



quarta-feira, 8 de julho de 2009

3 x aniversário


No dicionário
adj (lat anniversariu) Que evoca a lembrança de um fato ocorrido em igual dia, um ou vários anos antes: Festa aniversária. sm 1 Dia em que se completa o tempo de um ou mais anos de um acontecimento. 2 Comemoração da volta anual de uma data em que se deu certo acontecimento. A. natalício: dia correspondente àquele em que nascemos.

No coração
Cheguei em casa cedo ontem. Eu e meu filho nos preparávamos para receber duas amigas e ele estava elétrico com a arrumação, a festa. Ele perguntou se era aniversário de alguém. Eu disse que não, mas aproveitei para manter a memória dele acesa, assim como a minha, e falei:
- Você sabia que amanhã seria aniversário do vovô?
- Sim, a vovó me falou. Por que seria?
- Porque o vovô nasceu no dia 8 de julho, então era o aniversário dele. E amanhã é dia 8.
- Não, mamãe. Por que seria e não é?
Pausa...
- Porque não sei se existe aniversário onde ele está.
- Ah... acho que sim, acho que ele faz aniversário no meu coração.

Na mente
Meu pai faria hoje 68 anos. Mas o seu último aniversário foi o de 66 anos, com direito a presente e beijos afoitos do neto. Era um canceriano silencioso que adorava aniversários, assim como eu. Sempre dizia que aniversários na nossa casa só eram até o meio do ano para implicar com minha mãe e minha irmã, aniversariantes do restante da segunda metade do ano.
Ele nunca teve festas, grandes comemorações, mas se eu pudesse... Se eu pudesse hoje faria uma festa com muito quindim, arroz doce e figos, suas comidas favoritas. Serviria chimarrão como bebida e colocaria na nossa antiga vitrola os discos antigos do Cartola, Lupicínio e Paulinho da Viola. E daria nas mãos dele a sua Pentax 77 para que registrasse em sua mente a melhor de todas as festas de aniversário.


P.S. Esta foto é um registro da minha mãe do meu pai passeando aos 36 anos, no ano em que eu nasci.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mude o pensamento de lugar


Estou viajando mais do que o costume. Viagem de trabalho, semana sim, semana não. Nestas idas e vindas, meu filhote ficou dodói e teve dor de cabeça, o que não é muito comum na idade. Eu fiquei entre preocupada com o quadro físico e com o quadro psicológico. Ele pode estar adoecendo mais pela distância do que por outros motivos (eu sei, eu me acho!). Acontece muito e lá em casa, é quase rotina. Mas como ele nunca teve dor de cabeça, tratei de falar do assunto assim “como quem não quer nada” e, se fosse o caso, procuraria ajuda médica.
- Filho, você teve dor de cabeça... O que aconteceu?
- Mãe, é que os meus pensamentos foram para o lado errado.
- O que? Como assim?
- Eles foram da direita para a esquerda, daí doeu muito.
- É. E o que você fez?
- Voltei os pensamentos para o lugar certo e parou de doer na hora.

Se alguém tiver dor de cabeça, tente esta técnica. Que dá certo dá, mas como mudar de lugar os pensamentos de adultos? Eu, por exemplo, tenho sempre dor de cabeça e as causas, quase que invariavelmente, são meus pensamentos... Se conseguisse colocá-los no lugar certo, não gastaria tanto com comprimidos.