quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ensinamentos


Daquilo que eu não posso deixar de ensinar ao meu filho antes que ele ganhe o mundo com suas próprias pernas ou que não haja tempo nem sintonia suficiente entre nós dois:


- Agradecer a vida, a família e os amigos;

- Ter portas e janelas sempre abertas para o mundo, onde tudo acontece, inclusive o ruim, mas especialmente o bom;

- Que não existe tamanho insuficiente ou sonho impossível;

- Caminhos tortuosos podem ter boas chegadas;

- A dizer o que sente e a ter sentimento sobre o que dizem;

- Os humanos são diferentes porque pensam, mas também porque fazem amizades;

- Um amigo sempre pode dizer a verdade para o outro e um amigo sempre é capaz de ouvir a verdade do outro;

- Para ser amigo, há que ter tempo, carinho, cuidado e mimos;

- Que a nossa casa é o melhor lugar do mundo e que se ela estiver cheia, quanta alegria;

- No silêncio, reside o descanso;

- E, no barulho, a alegria;

- Nos olhos brilhantes de alguém existe amor e, por este amor, devemos ser gratos, senão é possível ser recíproco;

- Amar dói, às vezes, mas sem amor, nada é possível;

- Andar de mãos dadas, rir sem motivo, conversar à toa não tem idade.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A carta de um pai

Sábado, Rio de Janeiro, um jovem de 26 anos estrangula e mata a namorada de 18 anos. Os nomes são comuns: Bruno e Bárbara. As trajetórias também são iguais a de muitas pessoas que conhecemos. Tinham família, estudaram, cresceram protegidos. Em algum momento, ele, viciado em crack, surtou e assasinou a mulher que amava, que queria vê-lo melhor. O que fazer quando algo assim acontece? Como os pais vão lidar com esta dor? Como a gente, que tem filhos, sobrinhos, pessoas que amamos, vai protegê-los do consumo cada dia maior de drogas?
Hoje, pela manhã, quando vi o pai de Bruno na televisão se sentindo impotente diante do erro do filho, pensei no quanto estamos desprotegidos neste mundo. Quem me garante que estou fazendo certo com o meu filho? Quem fará justiça por este homem, que criou seu filho, que tentou fazer tudo certo? Ninguém. Nem a ele, nem aos pais de Bárbara, porque o pior aconteceu. E, muitas vezes, o pior tem acontecido em famílias de bem. É como o pai diz: o filho destruiu duas famílias. E isso não tem preço, não tem graça, nem sentido algum.

A seguir a carta publicada por Luiz Fernando, o pai, no jornal O Globo:


"Meu filho começou na droga pelo álcool, no colégio, esta droga LEGAL com que a propaganda bombardeia nossas crianças e jovens todo dia, escancaradamente, e que produz milhares de mortes no trânsito, destrói lares, pessoas do bem e é, como se sabe, a primeira droga que os jovens experimentam. A maioria segue pela vida em maior ou menor grau se drogando com ela, o álcool, outros acabam provando das ilegais, sendo que uns fogem delas, outros se viciam numa espiral crescente e veloz. Em geral, passam pela maconha, vão na boca adquiri-la, e os comerciantes, felizes, lhes oferecem um variado cardápio, self-service: cocaína, crack, haxixe, êxtase, ácido...
Sei que há seis anos perdi meu filho para o crack, mas apesar das sequelas e problemas, ele nunca deixou de ser carinhoso e educado com todos, o que lhe granjeou um número sempre crescente de amigos.
Ele passou por várias internações - tinha, desde pequeno, outros problemas mentais que se exacerbaram com as drogas. Sempre que saia das internações ficava bem. Até encontrar os amigos, tomar umas cervejas e ai a coisa saía novamente de controle. Nestes tempos o vício, apesar de grave, ainda não tinha produzidos todos seus efeitos devastadores. Mas, com o tempo e a reincidência, o crack foi o devastando. Nos últimos tempos, dizia-se derrotado para o vício, vivia muito deprimido e voltara a frequentar o NA, Narcóticos Anônimos. Tentei de tudo para convencê-lo a se internar, mas vai pedir para um pinguço largar sua garrafa. É inútil. Ele foi cada vez mais descendo a ladeira. De mãos atadas, fiquei esperando pelo pior ou por um milagre, já que segundo os "especialistas", que ditam as políticas públicas para o tratamento de drogas, o drogado tem de se internar por vontade própria.
A reportagem que o Brasil assistiu esta semana, da mãe que construiu uma cela em casa, para tentar salvar o filho viciado em crack, é bem representativa de como as famílias vítimas deste flagelo estão abandonadas pelo Estado, e se virando à própria sorte. É bem possível que ela seja punida por isso. Na mesma reportagem, uma psicóloga inteligente afirmava que o viciado em crack tem de vir voluntariamente para tratamento. Este é o método correto, segundo a maioria dos que estão à frente das políticas para esta área. Será que essa profissional é incapaz de entender o estrago que o crack/cocaína ocasiona nas mentes de seus dependentes? Será que ela é capaz de perceber o flagelo que o comportamento desses doentes causam sobre as famílias?
Um drogado, ou adicto, que já perdeu o senso de realidade e o controle sobre sua fissura, torna-se um perigo para a sociedade, infernizando a família, partindo para roubos, prostituição e até assassinatos, por surto ou por droga. Esperar que uma pessoa com a mente destruída por droga pesada vá com seus próprios pés para uma clínica é mera ingenuidade destes profissionais. O Estado tem de intervir nesta questão para preservar as famílias e os inocentes. A internação compulsória para desintoxicação e reabilitação destes doentes, que já perderam todo o limite, é uma necessidade premente. Ou será que todas as famílias que vivem esse problema terão de construir jaulas em casa?
Meu filho destruiu duas famílias, a da jovem e a dele, além de a si próprio. Queria sair do vício, mas não conseguia. Eu queria interná-lo à força e não via meios. Uma jovem, a quem ele amava, queria ajudá-lo e de anjo da guarda virou vítima . Se meu filho fosse filhinho de papai, como falaram, eu já teria pago uma ou mais internações. Mas infelizmente o papai aqui não tem grana para isso, assim como a maioria das famílias vítimas deste, que insisto em reafirmar, flagelo.
Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino, assim como aquele pai de família correto, que um dia bebe umas redondas, dirige, atropela e mata seis num ponto de ônibus.
As drogas, ilegais ou não, estão aí nas ruas fazendo suas vítimas diárias, transformando pessoas comuns em monstros e o Estado não pode ficar fingindo que não vê.
Dizem que vão gastar 100 milhões para equipar a polícia, mas e as vítimas diretas das drogas como ficam? E os jovens humildes atraídos pelos criminosos para seu exército? E os policiais mortos em combate nesta via indireta da guerra do tráfico? Está na hora de acabar a hipocrisia!
Meu filho destruiu duas famílias, a da jovem e a dele, além de a si próprio. Queria sair do vício, mas não conseguia. Eu queria interná-lo à força e não via meios. Uma jovem, a quem ele amava, queria ajudá-lo e de anjo da guarda virou vítima.
Ele irá pagar pelo que fez, será feita justiça, isso não há dúvida. O arrependimento já o assola, desde que acordou do surto do crack deu-se conta do mal que sua loucura havia lhe levado a praticar. Ele me ligou, esperou a chegada da polícia e se entregou, não fugindo do flagrante. Não passarei a mão na cabeça dele, mas não o abandonarei. Ele cumprirá sua pena de acordo com a lei, dentro da especificidade de sua condição.
Este é um caso de saúde pública que virou caso de polícia. Infelizmente, só consegui interná-lo pela via torta da loucura, quando já não havia mais nada a fazer, num surto fatal. Este é um caso de saúde pública que virou caso de polícia. Que a família da Bárbara possa um dia perdoar nossa família por este ato imperdoável. Chorei por meu filho 6 anos atrás. Hoje minhas lágrimas vão para esta menina, que tentou por amor e amizade salvar uma alma, sem saber que lutava contra um exército que lucra com a proibição (que não minimiza o problema, pelo contrário, exacerba), por um bando de tecnocratas e suas teorias irreais, e para um Estado que, neste assunto, se mostra incompetente."

Luiz Fernando Prôa, o pai

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Bocejo


- Mãe, é feio bocejar na frente da professora?

- Filho, tenta disfarçar, coloca a mão na boquinha, vira de lado. É porque parece que você não está gostando muito do que ela está falando, entendeu?

- Não, mãe. É porque eu estou com sono mesmo.

Tá. Eu gosto de horário de verão, de chegar em casa ainda com sol, mas o começo, ai, ai... É muito difícil!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Árvore genealógica


A cena era passeio do dia das crianças, que começou cedo lá em casa. No banco de trás do carro, meu filho e mais duas crianças: o Pedro e a Maria Eduarda, ambos com seis anos. O programa era tomar café-da-manhã juntos e aproveitar os novos brinquedos. Mas com miniaturas de gente não dá para fazer previsões. E também não dá para ficar em silêncio. A primeira pergunta veio logo:

Tomás - Mãe, o que eu sou do Pedro?

Parênteses. O Pedro é filho do meu cunhado e enteado da minha irmã. Não sou genealogista. Vou pelo bom senso que é o que me resta neste mundo com poucas regras.

Eu - Primo. Ele é filho do seu tio, então é seu primo.

Tomás - E da Maria Eduarda? Também sou primo?

Segundo parênteses. A Maria Eduarda é prima do Pedro, sobrinha do meu cunhado. Neste momento, eu tentei responder, mas as vozes começaram a se atropelar e o diálogo a seguir ficou bem mais entrecortado.

Eu - Ela é nossa amiga, filho. Prima de coração.

Neste momento, devia ser igual aos filmes e todo mundo ficar em silêncio, com uma música de fundo e o tempo passando do lado de fora. Mas não foi o que aconteceu.

Tomás - Tá, mais e a vovó? Também é vó dela? Ela deu presente para a Duda, sabia?

Meus pequenos companheiros daquele dia têm muitas coisas em comum e também dúvidas e anseios sobre a eternidade dos laços com quem ama. Ambos não moram com o pai e com a mãe juntos e dividem suas agendas mirins em visitas ao pai, à mãe ou à avó. Em algum momento, todos já tiveram madrastas ou padrastos. Quando começam a falar, tentam dar nomes, funções, regras ao que não têm regra. Enquanto tentavam ter certeza se eram primos, se havia um laço que os tornasse para sempre amigos e cuja sombra da separação não ameaçasse, dialogavam aflições e expunham a complexa realidade das famílias do dia de hoje.

O pequeno Pedro, meu recém-sobrinho, mora com a mãe e o padrasto, que chama de pai de criação. A Maria Eduarda mora com a avó e o pai, na mesma rua que a bisavó, no mesmo bairro que a mãe. O Tomás mora comigo.

Pedro - Luisa, eu tenho dois pais, um de sangue e outro de criação. Mas um dia eu vou morar com o meu pai, sabe?

Eu - Sei, Pedro. O papai também te cria, né? Ele ajuda, está presente e quer muito ter você sempre por perto, né?

Pedro - É, eu quero morar com ele um dia.

Tomás - Eu não quero não!

Eu - Às vezes, quando a gente é pequeno, é melhor estar perto da mãe da gente. Mas isso não quer dizer que a gente não possa ficar com o pai, né? Vocês têm pais que gostam de vocês, mas é que as mães são muito importantes. (Tentando desfazer um nó imaginário de abandono ou qualquer coisa semelhante e fazendo outro nó maior ainda).

Maria Eduarda - Só eu que não moro com minha mãe. Eu também queria morar com ela. Tipo assim: às vezes, ela podia cuidar de mim. (Atou as pontas a falante Maria, para quem eu não teria nenhuma resposta).

Eu - Mas você vê sua mãe a hora que quer, né, Maria? E tem várias pessoas que te amam muito?

Finalmente, chegamos. Coloquei os três para carregar sacolas e tudo mais que tinha no carro, para que se ocupassem reclamando do peso, enquanto meu coração aos pedaços e com bem mais do que os 20 quilos de cada um, pesasse o dia todo.

Me explica se um pobre genealogista poderá explicar aos herdeiros de Maria Eduarda e Pedro em 2100 que, na árvore deles, existiam algumas pessoas cujos nomes estavam além dos laços sanguíneos e das explicações plausíveis sobre o que significa ser família no começo deste século.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Meu pequeno sonoplasta

Ele tem só 5 anos, mas são muitos os planos para o futuro. As carreiras de engenheiro, construtor, arqueólogo e prefeito já estão certas. Ele tem a certeza infantil de que elas se combinam e se completam. “Mãe, um prefeito que pode ele mesmo fazer o asfalto, é muito melhor. E se eu descobrir dinossauros e fizer um museu. As crianças vão gostar, sabia?”. Sabia e sei desde que ele mexe e remexe nos toquinhos de madeira para fazer a construção de vários prédios ou ainda quando ele fica sem piscar os olhos vendo a propaganda da Prefeitura de Goiânia.
O que ele não sabe é que de todas as suas vocações, a que mais se torna evidente a cada dia que passa é a de sonoplasta. Para o desespero dos familiares, dos vizinhos ou de qualquer um que passar por perto, o Tomás guarda em sua pequena garganta um arsenal de sons que provavelmente faria muita inveja aos produtores de filmes da Pixar. É um tal de “ráiatchapif” que não acaba mais. Barulhos para batalhas, quedas, carros, guerreiros imaginários, etc. Já sabendo da sua queda por tantos barulhos, sempre escolhemos os presentes sem som. Assim ele mesmo sonoriza os seus últimos bonequinhos ou ainda o navio pirata perdido por sete mares.
O problema é que nem todo mundo segue a regra e, no último dia das Crianças, eis que surge a poderosa e temida espada de Jedi em forma, cor e som. O seu barulho estridente e alto poderia ser suportado, não fosse a insistência dele em acompanhar a música dos “iááss” da espada em movimento. Enquanto pedimos insistentemente silêncio e armamos planos para sumir com a espada, ele segue feliz na sonorização das suas brincadeiras, sempre garantindo aos que estão em casa a certeza de que ele está presente.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Escultura de mãe






Dia desses, eu tentei atravessar a pé a avenida T-63, em horário de pico, para chegar ao banco do outro lado. Eram tantos os carros e nenhuma faixa de pedestre por perto. No meu exercício de paciência e sabendo que normalmente eu estou do outro lado, dentro do carro, fiquei observando a floricultura atrás de mim, as pessoas no ponto de ônibus e, de repente, me deparei com uma mãe, dos seus 20 e poucos anos, uma menina de 3 anos e um outro ainda de fraldas, no colo. Com o corpo mirrado, mas as mãos firmes, ela me deu confiança de que eu ia conseguir passar. Se ela, com duas crianças, passaria, imagine eu, sozinha! Seria mole. Em um intervalo entre os muitos carros, tomamos coragem e seguimos correndo. Chegamos à ilha, quando a menina começou a chorar e a mãe, com a voz firme e baixa, disse:
- Vai dar tudo certo!
Os olhos da menina eram de desespero. Os da mãe eram de uma dúvida atroz. Olhei para trás e compreendi. Na nossa pequena corrida, ela perdera o celular bem no meio da pista. A mãe olhava os carros sem saber se voltava com dois meninos para o asfalto, se deixava-os sentados, no começo de noite, para recuperar o bem perdido ou se desistia. Eu olhei para ela e fui buscar o bem perdido. Fui porque reconheci nela o meu olhar de desistência, quando diante do cuidado com os filhos, às vezes a vida parece algo muito impossível.
Isso porque eu sou mãe de um menino (um só) e sonhava, em dias distantes, em ser mãe de três. Cuidar de duas crianças ao mesmo tempo e de maneira solitária, em uma cidade grande, pode ser uma grande aventura. E atender duas pessoas diferentes, com desejos diferentes, também é outra aventura. Lembro de um artigo que li da atriz Denise Fraga, mãe de dois filhos, que ao receber uma amiga em casa com um filho na barra da saia e outro grudado no peito, foi chamada de “escultura de mãe”.
Nunca me esqueci deste termo e acho que se aplica a mãe que atravessava a rua, a mãe que amamenta um filho enquanto o outro aguarda aos berros, a mãe que leva um filho para uma escola e o outro para a natação e a minha mãe que se dividiu a vida toda entre as filhas, o trabalho, os pais, os amigos, sempre ouvindo muitas cobranças sem perder o rumo e sem ter muito quem voltasse atrás para recolher um bem perdido. O que se perdia, perdido ficava. Ela sempre olhava para frente, segurava as nossas mãos, dizia só de olhar o que daria certo ou errado e de alguma forma, era um porto seguro, firme, como uma escultura deve ser.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Mudanças



“Tudo que se vê não é

Igual ao que a gente

Viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo

No mundo”

Lulu Santos


O mundo a minha volta mudou. Virou de cabeça para baixo, tomou banho de chuva, fez cachos e está, assim, completamente diferente. E não foi só ele quem mudou, foram as pessoas à minha volta, fui eu... E tantas mudanças nos obrigam a mudar de lugar, a se reposicionar e a refazer laços antigos. Dá muito trabalho. Muitas vezes diante de um nó, aparentemente bem feito, encontramos muitas mágoas, coisas deixadas para trás, poeira escondida debaixo do tapete. E, às vezes, é quase certo que para refazer o laço é preciso cortar um pouquinho, diminuir as pontas, deixar a fita aberta para perder as marcas... Em outras ocasiões, os laços se desfazem e se refazem sem que a gente se dê muita conta. Daí, um dia à tarde, o telefone não toca, você sente um silêncio e pensa “no que estava ali há um segundo”.


Tenho vivido isso intensamente. 2009 está sendo um ano de mudanças. Não são apenas partidas, são chegadas, mudanças diversas. Meus amigos, minha família, está tudo tão diferente. Os vizinhos de porta, mudaram-se todos. Duas grandes amigas preparam as malas e lá se vão... para São Paulo, rumo à uma nova vida. Minha irmã está casada e agora minha família vive em três endereços diferentes nesta pequena grande cidade. Meu filho será alfabetizado. Minha amiga de infância ganhou dois filhos de uma só vez. E foi tudo tão rápido...

Quando há uns meses atrás, nos reunimos para comemorar os dez anos de formatura, atrás da mesa, para fotos, tinha homens e mulheres com sorrisos de meninos e meninas. É, ando nostálgica, um bocado. Estou sentindo muitas saudades das pessoas como elas eram, de mim como eu fui um dia, das risadas que eu dei, dos amores que senti, das dores que resolvi. Não há tédio, nem tristeza nesta saudade, apenas um pouquinho de dor porque a cada mudança a gente separa um pouquinho para guardar nas caixas de recordações. E ganha um pouquinho, é certo, para levar adiante. Mas estou exatamente abrindo a caixa para guardar os passeios sem compromisso, a sobremesa na Richesse às 13h40, as letras de música na contracapa do caderno, as balinhas furtadas na aula, as caronas para as festas, a torta de sorvete, as horas no telefone...

Hoje não tem histórinha do Tomás. Também, pudera... O Tomás só tem 5 anos. Ele só quer saber se o dente dele irá cair amanhã, se o dia das crianças é amanhã, se o céu estará nublado amanhã. E, eu? Bem, eu quero saber onde eu guardei o dente perdido aos 12 anos, se os meus amigos sentem saudades também, se o vestido dos meus 6 anos ainda pode existir em algum canto do mundo, se o pirulito Zorro era mesmo o melhor pirulito do mundo e se para nostalgia existe remédio, além do tempo. Mas, sinceramente, acho que é como uma onda e já irá passar.