quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E a margarina mudou...



Em uma destas madrugadas de trabalho, quando acompanho o que há de mais trash na televisão brasileira, eis que me surpreendo com uma boa novidade: a margarina mudou. Não poderei mais falar que o  meu filho é um fiel seguidor da família tipo margarina, porque finalmente alguém (a DPZ no caso) percebeu que a família brasileira mudou. Não sou consumidora do produto, mas adorei! Por isso, compartilho a primeira de uma série que será lançada. Se eles mudaram, dou como certa a mudança do meu pequeno também.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Na carne



Nunca falei da minha profissão oficial por aqui, talvez porque ela não caiba em algo tão lúdico, talvez porque eu tenha entre os meus leitores mais assíduos profissionais da área, talvez porque ultimamente quero discutir o rumo que o jornalismo tomou.


Mas, na semana passada, um amargo tomou conta da minha boca e, provavelmente, da boca de outros tantos colegas. É que, na maior empresa de comunicação do Estado, dois dias foram o suficiente para mandar três dezenas de pessoas embora para casa sem trabalho. Pessoas que têm muitos anos de trajetória profissional, pessoas que têm família, pessoas que têm sonhos, pessoas que acreditam na importância da comunicação.

No ano passado, quando fiquei sem emprego, eu senti na carne o que é voltar para casa sem saber do dia de amanhã. Entre o desespero, a angústia e o medo, o sentimento que mais sobressai é a decepção. Decepção pelo tempo investido, pelo projeto de amanhã, pelo compromisso não cumprido.

Quando, nestas histórias, existe pequenos que precisam de você, ela fica ainda mais dura. Como explicar para uma criança que hoje você não sairá para trabalhar? Como dizer que, talvez amanhã, você terá uma resposta de um emprego? Para quem, desde pequeno, vê o pai e/ou a mãe sair de casa para cumprir sua obrigação com a família, com a sociedade e consigo mesmo, a sensação é de fragilidade.

Mas o amanhã chega e, mesmo que não se levante como antes, a gente reage e segue adiante. Encontra novos caminhos, novas perspectivas, novos sonhos. E melhor que isso, a gente descobre que sonhar junto não é fácil, seguro e nem sempre vale a pena. Agora, me diga, e o jornalismo? Como ele fica amanhã?

Segue a nota de repúdio do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Goiás, divulgada ontem:

 
NOTA DE REPÚDIO ÀS DEMISSÕES EM MASSA NO JORNAL O POPULAR


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas vêm a público para repudiar a atitude da Organização Jaime Câmara de promover demissão em massa de trabalhadores do jornal O Popular, de sua propriedade. Nada menos do que 23 profissionais, a quase totalidade de jornalistas, foram demitidos entre os dias 21 e 22 de janeiro. Some-se a elas o anunciado corte da gratificação de função paga aos subeditores e outras oito demissões promovidas no Departamento de Telejornalismo da TV Anhanguera, também de propriedade da empresa. Um processo que foi marcado por um clima de terrorismo sobre a redação do jornal por mais de um mês.

O que causa estranheza nessa atitude é que a Organização Jaime Câmara atravessa uma fase não só de total equilíbrio financeiro, mas com resultados surpreendentes – a ponto de a própria direção da empresa ter anunciado, ainda em setembro de 2009, que a OJC fecharia o ano com um lucro de R$ 55 milhões. Ressalte-se que esse número foi corrigido dois meses depois, já que os resultados apontavam que seriam mais de R$ 60 milhões de lucro.

Portanto, não há que se alegar crise financeira para justificar as injustificáveis demissões. Pelo contrário, nem mesmo durante a recente crise econômica mundial as finanças dos veículos da Organização Jaime Câmara chegaram a ser abaladas. O período foi superado com crescimento no faturamento, inclusive com o pagamento do Programa de Participação nos Resultados, a despeito do achatamento salarial imposto aos trabalhadores da empresa.

No caso específico do jornal O Popular, há que se destacar que a maioria dos jornalistas demitidos contava com mais de 10 anos de casa, alguns com mais de 20 anos. A primeira conclusão que se tira desse fato é que, no jornal O Popular, jornalista tem prazo de validade: quanto mais tempo de casa, mais perto está de perder o seu emprego. Demissões isoladas, ocorridas nos últimos cinco anos, vêm corroborar essa afirmação.

Outra conclusão que pode ser tirada desse processo de demissão em massa é que, para a Organização Jaime Câmara, a única coisa que parece importar é sua sanha por lucros incessantes – a qualidade do produto fica para segundo ou terceiro plano. E isso tem ficado bastante nítido nos comunicados da direção da empresa aos funcionários – o objetivo é, antes de tudo, garantir mais lucros aos acionistas da empresa. O que se estranha é que, piorando a qualidade do produto, já que não há profissionais em número suficiente para garantir no mínimo o mesmo tipo de jornalismo que vinha sendo feito pelo jornal O Popular, certamente as vendas cairão, anunciantes podem deixar de anunciar. Com isso, dificilmente será atingido o plano de metas da Organização Jaime Câmara para este ano, que aponta para um resultado de R$ 90 milhões de lucro.

Por todas essas razões, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas repudiam o processo de demissão em massa promovido no jornal O Popular e conclamam a sociedade a também se manifestar contrária a mais esse abuso cometido contra os trabalhadores.

Goiânia, 26 de janeiro de 2010.



Luiz Antonio Spada
Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás


Sérgio Murillo de Andrade
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Se não fosse Tomás, seria Antônio...


Com certeza é um nome que me agrada, mas não fazia parte da minha lista tríplice de nomes para batizar o meu filho. Porém a sua vocação casamenteira, nos últimos dias, me leva a crer que o nome do santo lhe cairia muito bem.


Já tratei do tema no blog sobre o apelo que a tradicional família de comercial de margarina exerce no meu pequeno. Ele vê em todos os lugares, incluindo os lugares vagos no nosso carro, um bom motivo para expandir a nossa microfamília. “Se você fosse casada, não ia precisar dirigir e eu não ficaria sozinho aqui atrás”, explica. E esta expansão passa pela cerimônia do casamento, que o agrada bastante e está listada como o seu primeiro projeto no mundo adulto. "Quando eu me casar, a festa vai ser bem bonita, com tapete vermelho. E minha noiva vai usar véu. Só que não vai ter barulho não. É festa sem barulho".

De onde vem esta vocação casamenteira? Só Santo Antônio para explicar... Ele só foi a dois casamentos na vida, vive em um mundo de famílias diferentes e únicas e eu nunca disse que este era o projeto da minha vida. Porém o modelo tradicional, carregado de branco e glacê, enche seus olhos de romantismo.

- Mãe, por que você não é igual à suas amigas?

- Como assim?

- Por que você não é casada, que nem as tias x, y e z?

- Ah, filho porque eu sou igual às tias m, n e c?

- Mas a tia m já foi casada, a tia n não tem filhos e a tia c é viúva (estado civil inventado por ele).

- Filho, mas o que importa é que elas são felizes, do jeito delas, e eu sou feliz assim.

(Pausa para reflexão).

- Filho, por que você quer tanto que eu me case?

- Porque você ia ter outra pessoa para se preocupar e ia ficar menos preocupada comigo.

Santo Antônio explica e Freud também. Preciso diminuir a carga com o pequeno, abrir meus horizontes e me preocupar com outras pessoas, além dele. Enquanto isso, na Sala de Justiça, ele se reúne com os primos tortos e prepara altos planos para ver casadas a mãe e as tias. E a gente segue rindo e pensando que os filhos são o que são, bem longe do imaginado, bem perto do possível: únicos, diferentes e muito especiais.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Novos desafios


O Tomás entrou na escola com 1 ano e 8 meses, depois de duas excelentes babás, com as quais ficou difícil negociar com o tempo. É que não existe valor justo a se pagar para quem cuida de quem você ama e eu não saberia ser injusta, neste caso. Então, saí da zona de conforto que é ter um filho nos seus domínios, acessível na primeira ligação telefônica e onde, teoricamente, é você quem manda e enfrentei o que minha mãe passou ao me deixar na creche com 40 dias de vida: o escuro. Não é fácil se adaptar às regras dos outros quando você acredita que o seu jeito é o melhor.


Neste primeiro momento, ele passava o dia todo na escola e, entre mordidas, musiquinhas e almoços coletivos, o menino aprendeu a se virar. Subia sozinho no escorregador, aquele gigante que me assustava, escolhia amigos mais afins, fazia rabiscos coloridos, lutava capoeira e aprendia palavras nunca dantes pronunciadas. E eu tive que, mesmo diante dos imprevistos, acreditar que tinha feito uma boa escolha.

O tempo passou, o menino cresceu, precisou de uma nova escola e lá ele aprendeu outras tantas coisas: a ser “elegante”, a fazer combinados, a ouvir o colega, a esperar a sua vez... e aprendeu que certas coisas a gente precisa continuar a aprender a vida toda. Tudo isso em uma parte reservada da escola só para os pequenos aprendizes. Era permitido aos pais levar o filho até na sala, mesmo que a professora pedisse para você deixá-lo no portão. Os colaboradores conheciam a todos pelo nome. A sala de aula tinha cadeiras pequeninas em volta de mesas redondas, muitas vezes cobertas de brinquedos e rodeadas de crianças com não mais de 1,25 metros. E tudo me parecia extremamente seguro.

E passaram três anos e o menino cresceu mais ainda. No final do ano, celebrou com os amigos a passagem para uma nova fase, quando será realmente alfabetizado, e ficou empolgadíssimo, falando durante horas na minha cabeça, o tanto que o novo pátio e a nova sala são enormes.

- Mãe, lá é muito “maneiro”! Eu já tenho até um esconderijo, sabia?

Ai, não será fácil. Os filhos crescem, invariavelmente, antes dos pais. Ainda não tive como fazer a minha passagem e a mesma se dará, no tranco, na próxima quinta-feira. Meu menino será aluno do primeiro ano do ensino fundamental, onde vou deixá-lo com o coração na mão e cheio de dúvidas, além de uma mochila recheado de livros de português, matemática, ciências, história e geografia. Será que ele vai dar conta? É o que me pergunto a cada instante, enquanto oriento sobre como se defender de crianças maiores, a se portar na cantina e a guardar seu material no final de cada aula. Enquanto isso, ele pega os livros encantado com o cheiro de novo e as páginas coloridas e me diz:

- Mãe, o que é geografia?

Para depois da minha explicação insossa, ele lascar:

- Que legal!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Eu quero a verdade


Acho que tem dez anos que sou usuária da internet. De lá para cá não foram poucas vezes em que digitei no Google os nomes dos meus pais. Os resultados não são muitos, mas dão pequenos indícios da história da minha família, dos anos que nos foram roubados, do que perdi, do lugar que eu nasci e do muito que eles sonharam por mim. Nos livros e nos filmes, uma ou outra imagem constrói outro pedaço, falam de amigos ou deles mesmos, falam de pessoas anônimas, que não sei quem são. Uma conversa em voz baixa entre minha mãe e um tio querido revela outro trecho já quase esquecido. E minha imaginação, durante muitos anos, construiu o resto da história, que é como um quebra-cabeça cujas partes não se emendam. Só que neste caso o buraco causa mais do que o transtorno de um jogo inacabado. É um buraco de verdades que nunca são encontradas.


Explico: meus pais foram exilados políticos, se conheceram longe de casa e viveram por anos fora do Brasil e ao voltarem para cá silenciaram suas dores e guardaram suas memórias para se sentirem seguros. Eu nasci neste período, em Bruxelas, e, por isso, ganhei na certidão o nome de um país que não me pertence, não conheci meu avô paterno, perdi meu pai para o sofrimento, tive medo de dizer a verdade sobre o que meus pais poderiam ser, tive muitos pesadelos pelo que eles viveram e não sei se o tamanho da minha gratidão por eles é suficiente.

Durante o processo para indenização na Comissão de Anistia, no começo da última década, meu pai já tinha perdido a força e a memória, e eu e minha mãe precisamos recontar a sua história. Consultei vários documentos virtuais ou não em busca de uma só coisa: a verdade. A verdade que não estava no meu livro, na sétima série. Muitas partes ficaram faltando, outras foram recontadas por poucos amigos ainda vivos ou foram lembradas pela minha mãe. Mas eu não tenho em mãos a acusação que o condenou à prisão, não sei o que ele passou na prisão, não sei o nome de quem o fez sofrer. Só o que consta, oficialmente, é que em 1971, ele foi exilado junto a outros 69 prisioneiros, que ganharam o direito só de ida para o Chile. No ano seguinte, minha mãe também deixou o Brasil, em um vôo solo, rumo a uma pretensa liberdade que não a alcançou no país chileno às vésperas de um golpe militar.



Agora uma nova lei pode me fornecer as peças que faltam ao quebra-cabeça da minha história. Foi publicado ontem, no Diário Oficial da União, o novo decreto que estabelece o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos e a polêmica Comissão da Verdade, que desagradou à área militar do governo Lula em sua primeira publicação, em dezembro, atende a uma demanda antiga deste País: de saber o que aconteceu, quem praticou e onde. O texto, já modificado para atender a cúpula de generais, fala em “identificar e tornar públicas as estruturas utilizadas para a prática de violações de Direitos Humanos, suas ramificações nos diversos aparelhos do Estado e em outras instâncias da sociedade”. Anteriormente, o mesmo texto falava em “violações de Direitos Humanos, no contexto da repressão política”, ou seja, os atingiam diretamente e, com a mudança, atinge a todos os grupos que usaram de violência. O fato é que uns usaram violência para reprimir e outros usaram para libertar. Há, nestes dois lados, uma grande diferença: a legitimidade.


A Comissão da Verdade foi criada para apurar os excessos praticados no período e tornar públicos os casos de tortura, estupro e assassinato em prol da ditadura e também promoverá a revogação de todas as leis que violam direitos humanos, feitas de 1964 até 1985. Em tese, isso inclui a Lei de Anistia, de 1979, que garantiu o retorno de tantos brasileiros exilados ao País, mas que mal interpretada, permitiu que torturadores e assassinos não fossem julgados. A anistia instituída naquela lei era só para as vítimas, mas foi usada sabiamente também pelos algozes. Com esta ou com uma nova lei, cabe aos governantes cumprirem a vocação democrática do Brasil.

Muitas pessoas acham que tal discussão não cabe mais, que os anos passados já se foram, que isso macula a imagem do exército brasileiro, mas não percebem que o País não pode ficar com esta conta aberta e que isso mancha a nossa democracia. Alguns grupos se acovardam e temem ver os seus nomes expostos nos arquivos que serão abertos e reconstruirão os fatos a partir de 1964, sem considerar apenas os nomes dos ditadores que ocuparam o principal posto do País, mas também daqueles que foram coniventes e executaram suas ordens. Se não haverá um julgamento pela justiça comum, a gente precisa pelo menos fazer um julgamento moral destas pessoas e isso não interfere no papel que o exército brasileiro desempenha hoje. Países como Chile e Argentina á escancaram os anos obscuros de sua história e no Brasil, não pode ser diferente. Há de se compreender que ao não julgar os fatos ocorridos durante a ditadura militar, fragilizamos a nossa democracia.

A pressão política continuará para que o decreto não vire lei. Em uma carta ao presidente Lula, o arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns e outras importantes personalidades na luta pelos direitos humanos, escreveram: "Não pode ser chamada de revanchista uma proposta que se limita a jogar luz sobre as violências praticadas nos porões da repressão política", afirmam. "Os povos que se recusam a aprender com seus próprios erros estão condenados a repeti-los. É do futuro que estamos falando." E é, neste futuro, que eu quero que meu filho saiba o que aconteceu e como aconteceu no seu livro de história, da sétima série. Eu não quero revanche. Eu quero a verdade.



* Foto dos setenta presos liberados após o seqüestro do embaixador suíço, Giovanni Burcher, em 13 de janeiro de 1971, no vôo rumo ao Chile


*Foto da escultura Truth and Falsehood


Alfred Stevens (1817-1876)/ Victoria & Albert Museum, London

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O que aprendi...



Ao ano de 2009, agradeço o que aprendi...


... e espero não me esquecer na primeira curva de 2010:


- Todos nós podemos mudar, mas nem sempre mudamos;

- Agenda é algo muito importante;

- Minha cozinha é o melhor lugar da minha casa;

- Portas abertas, coração idem;

- Ele sabe mais do que eu;

- Tem certas coisas que não posso pensar alto;

- Sonhos de criança precisam ser compreendidos;

- Sobressaltos podem não ser nada;

- Novos amigos são grandes presentes;

- Posso fazer mais do que faço;

- Não existe estabilidade;

- Quem está longe ainda assim está perto;

- Roupas sujas direto para a máquina, sem muito fricote no tanque;

- Ombros: é sempre melhor cobri-los;

- Minha saudade é infinita e sempre serei incapaz de vencê-la;

- Minha mãe pode ser, muitas vezes, doce;

- Não tenho uma comida predileta;

- Eu não sei o que é melhor para os outros;

- Minha regra, minha sentença;

- Chico Buarque está mais velho, assim como José Mayer e Richard Gere;

- Posso passar muitos dias sem televisão;

- Não tenho nenhuma vocação para Pollyanna;

- Velas devem ser sempre acesas;

- Eu quase sempre não faço o meu melhor, mas eu tento.