terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Recomeço

Estes dias têm sido de recomeço em casa. Depois das férias, é hora de voltar ao trabalho, levar a criança na escola, acompanhar as tarefas de casa e... falar com ele sobre a disciplina.

Logo ao voltar para a sala de aula, agora no 3° ano, diante da minha orientação sobre bom comportamento e sobre como se apresentar à nova professora, Tomás me diz:

- Mãe, não se preocupe que se o primeiro dia for bom, todos os outros serão.

O primeiro dia foi ótimo. Ela deixou que ele se sentasse ao lado do amigo, direito perdido em 2011. Então, voltei as recomendações para que ele não conversasse tanto, ouvisse bem a professora e se comportasse para garantir o lugar conquistado pela benevolência da primeira impressão.

Então, depois de cinco dias de aula, eu pergunto:

- Filho, está controlando a conversa em sala?

- Sim, mãe, mas tá difícil me controlar.

- Ô, meu bem, você precisa prestar atenção na aula.

- Eu sei. Tô pensando em escrever uns bilhetes quando me der vontade de conversar com os meus amigos. Você me dá um bloquinho?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A lista


Nunca sabemos quando seremos visitados por uma lembrança e este é um dos maiores espetáculos da vida. No meu penúltimo dia de férias e na véspera do Tomás voltar para casa, fomos juntos à escola. Além de conhecer a nova professora, eu precisava explicar a ela que os materiais escolares do pequeno chegariam com um ou dois dias de atraso, porque estavam na responsabilidade do pai e eu acabava de chegar de viagem.
Então, ela me deu a lista atualizada dos materiais para que eu checasse antes de levá-los para a escola, o que pudemos fazer horas depois com a chegada das sacolas com os itens solicitados. Mas, diante da lista, só o que pensei foi naquele cheiro da máquina xerográfica me fez lembrar os meus 8 anos. Ah, como era bom percorrer os olhos naquela lista e esperar que minha mãe cuidasse para que tudo estivesse lá na véspera do começo das aulas. Eu gostava tanto que lia até a lista das outras séries, em especial os diferentes materiais de artes. E quando chegavam, ah, que festa! Eu me lembro de percorrer as mãos em cada página de livro, de namorar os lápis coloridos, de enfileirar os cadernos, pensando que no futuro queria mesmo era ter uma papelaria.
Naquele tempo, eu acreditava que a papelaria era o lugar onde tudo era novo e adorava o cheiro e as cores organizados nas prateleiras deste tipo de comércio. Como bem lembra minha mãe, as opções em Goiânia eram poucas, Casa do Colegial, Maçã Verde, Casa do Estudante. E se os preços  e o volume de pedidos hoje assustam os pais na hora de fazer as compras, na época, devia ser bem pior. A inflação carcomia o salário, o 13° e as economias dos responsáveis por manter os suprimentos em dia dentro de casa.
Mas eu, com 8 anos, não queria saber de nada disso. Aquele era o único momento do ano em que eu recebia, ao mesmo tempo, várias coisas novas. E então, antes que as aulas começassem e tudo se tornasse o banal de todos os dias, eu vestia em cada livro, lápis e caderno uma embalagem imaginária de presente e me vestia de aniversariante fora de época. Era só o dia começar para que tudo ficasse esparramado em cima da cama e fosse admirado por vários ângulos.
E hoje, já com os livros do Tomás prontos para serem encapados, dividi com ele esta sensação de prazer pela novidade, pelo que será vivido nos próximos meses da vida dele, pelo que nos é tão caro na educação dos nossos filhos e muitas vezes tão pouco compartilhado. Folheamos os livros e imaginamos o que virá. E que venha para fazer história na vida dele e possa um dia ser uma bela lembrança. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pequeno filósofo


- Mãe, o que acontece depois que a gente morre?


- Filho, eu acredito que a gente faz uma viagem para outro plano, um lugar melhor, mais bonito, onde Deus habita.

- E você acredita que o vovô tá viajando ou já chegou lá?

- Ah, filho... Com certeza, ele já está lá.

- É (pensativo)... Na vida, duas perguntas importam: como é e como vai ser?

Vai encarar o meu filósofo mirim? Eu, por aqui, estou tendando responder.
 
*Escultura em alúminio do arte-educador Professor Sassá em sua
versão para a obra "O Pensador", de Rodin.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lista 2012

Impossível resistir a tentação de fazer uma lista no começo de ano como resisti no ano passado. Em 2011, tentei responder as muitas perguntas de um filho que continua crescendo  e da vida sempre grandiosa à nossa volta. Foi, assim como previ, um ano de muitas respostas. Nem sempre boas, nem sempre honestas, nem sempre felizes. Mas respostas que me fizeram mais inteira.


Agora é tempo de olhar para o novo, mesmo que a mudança maior esteja na nova agenda, na nova folha do calendário, no nome da nova professora. Há que se ter esperança que não é apenas o ano que muda, mas que aqui dentro uma esperança fundamental me permitirá executar muitos planos. E se tiver uma ajudinha de um sal grosso para jogar longe o mau olhado será melhor ainda.

Lá vou em em 2012, tentar:

- Cuidar de quem eu amo tendo mais zelo do que os ponteiros do relógio;

- Contemplar o entardecer;

- Caminhar;

- Sentir o sabor do sorvete favorito, do almoço esmerado da minha mãe, do pão mais crocante, do drink do meu amor;

- Inverter o tempo para priorizar o que é importante: afeto, carinho e cuidado;

- Desligar sempre que possível, porque bateria de gente também termina;

- Fazer uma faxina nas prateleiras, gavetas e armários da casa e da vida. Às vezes é preciso deixar ir o que não mais edifica, o que não mais faz sentido. E eu, pisciana do último decanato, preciso aprender o sentido da palavra desapego;

- Viajar até nas páginas de um bom livro;

- Ler para o filhote, que cada dia precisa menos de mim para esta tarefa;

- Fazer arte sem encomenda, apenas para quem eu amo;

- Dar as mãos;

- Erguer um castelo;

- Escolher o perfume ideal para um novo momento;

- Agradecer, agradecer e agradecer.