Tomás estuda xadrez desde o ano passado. Dizem que é bom para o raciocínio e para que ele se desenvolva na matemática. Eu achava que seria bom para a sua concentração. E ele achou que ia ser bom para ganhar em algumas partidas travadas com minha enteada.
Depois de 12 meses estudando, incluindo a australiana e o que mais o tabuleiro lhe oferece, o garoto mostrou que tem pegada no jogo. Já me ensinou que preciso olhar “o tabuleiro como um todo, mamãe” e que “rei posto é rei morto”.
Mas nada de se concentrar. O seu dedicado professor ainda se impressiona com a capacidade dele jogar e prestar atenção na conversa, lanchar e dar um cheque-mate ou ainda se manter lá e na quadra só para “dar uma espiadinha no jogo dos meninos”, enquanto “bebe água”.
Agora a perspicácia e o senso críticos se apuraram e muito em um ano. Dos seis para os sete, Tomás se tornou enxadrista ainda não exímio e piadista bem dotado.
Hoje, deixando minha enteada na escola, o engarrafamento de carros parecia não ter fim assim com a semana recém-começada. Enquanto esperávamos os “educados” pais saírem da fila dupla, ele disse:
- Nossa! Aqui está tão cheio que até parece um campeonato de xadrez.
- Não entendi, Tomás. (Às 7 da matina, eu ando entendendo pouca coisa).
- Fiz uma piada, mamãe. Um campeonato de xadrez é bem paradinho. Só dá eu e mais meia dúzia. Aqui está mais para final de campeonato, de futebol.
Bom, esta foi a lição do dia. Em vez de estar na porta da escola enfrentando um engarrafamento e a péssima educação de alguns, eu preferia estar com a meia dúzia do campeonato de xadrez. E Tomás está aprendendo com o tabuleiro a prestar atenção, do jeito dele, na cidade que nos acolhe e engole ao mesmo tempo.