Mostrando postagens com marcador viagem. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador viagem. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Na bagagem


O que se aprende com uma viagem? A geografia e a culinária do lugar? Um novo sotaque, uma nova língua, um novo jeito de andar? Eu aprendi mais que isso na última viagem, porque desta vez, não foi eu quem viajou, foram os pequenos. Explico: depois de uma semana de férias comigo em Natal (RN), onde aprendeu a pegar altas ondas e a se divertir sozinho, Tomás foi passar uma semana na fazenda com o pai pela primeira vez.

Neste período de ausências, eu aprendi: a remediar as saudades com telefonemas e palavras soltas na internet; a confiar em quem está longe e não conhece o próprio filho só de olhar; a acreditar que para o amor não há distância que ameace o carinho e a relação construída; e a aceitar que meia dúzia de tombos e uma dúzia e meia de picadas de carrapato são importantes para construir a individualidade de quem amamos.

Tomás chegou no último domingo com uma mala que misturava roupas sujas com roupas limpas, dois peixes pescados por ele e uma porção de histórias para contar. Era o passeio de cavalo, a pedrinha que pulava acima da água do rio, a mexerica colhida no pé, o leite da vaca que é uma delícia, o frio nas manhã na fazenda. Era só alegria e chamego. Ele encostou no meu ombro e disse baixinho:

- Mãe, sabe o que eu descobri?

- Diga, filho.

- Que algumas pessoas a gente começa a amar no dia em que a gente nasce e vai amar para sempre, mesmo quando elas estiverem lá longe, no céu.

Sim. Estas pessoas vão conosco na bagagem para distâncias que percorremos e não se contam na quilometragem. São aquelas para quem podemos ser nós mesmos, admitir nossos fracassos e nossos cansaços, porque elas, ainda assim, escolherão viajar conosco sempre.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Máquina do tempo



Quem passou pela década de 80 com menos de 15 anos, assistiu repetidas vezes à sessão da tarde com o clássico De volta para o futuro, lançado em 1985. Enquanto o ainda jovem Michael J. Fox se enfiava na máquina do tempo e voltava para a década de 50, antes que os seus pais se conhecessem.

Tomás, que não era nem pensamento quando eu assistia a este filme, me perguntou no sábado para onde eu gostaria de ir se pudesse voltar no tempo. É algo que contorce crianças e adultos e imaginar que seja possível é, realmente, uma delícia. Antes, me explicou que queria elucidar alguns mistérios do seu passado e que acionaria a máquina direto para o dia do seu nascimento, para o seu aniversário de 5 anos, para o primeiro dia de aula e para o seu primeiro encontro com a Carol, minha enteada.

Eu, que já contei como foi cada um destes dias da sua vida, não sirvo de fonte. “Deve ter esquecido algo, mãe. Não foi exatamente assim”. Eu, que na vida escolhi contar histórias, me resigno a embarcar também na máquina do tempo e ver o que eu perdi.

Eu também iria lá no dia em que ele nasceu para ver por outro ângulo o que deitada não pude ver, visitaria meu próprio nascimento para captar os sorrisos registrados em fotos com os ouvidos, me veria pequena no desembarque no Brasil, sentaria novamente na mesa farta de Natal na casa de minha avó Talita, conheceria novamente Belo Horizonte, repetiria a primeira volta de bicicleta, passaria meu aniversário novamente imersa em águas e captaria de novo o som de ser amada.


Melhor é poder voltar onde pode ir nosso pensamento...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Para uma viagem sem dia de volta


“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la,

Em cofre não se guarda nada,

Em cofre, perde-se a coisa à vista”

Antônio Cícero


Esta música aí de cima foi a trilha de um momento especial da minha vida. Ainda era tempo do toca-fitas. E eu a ouvia sem parar em um cassete antigo e sem caixa. Era para ter aprendido, naquela época, a ser menos pisciana, a guardar menos do que guardo, mas não aprendi.

As tentativas foram várias. Quis, em vários momentos, colocar o meu lado sagitariano prático como só ele para dominar qualquer ação. Quis, em vários momentos, ser desapegada e dizer “tanto faz”. Quis jogar fora as chaves do cofre, mas as chaves fazem parte de mim.

Se tivesse que sair sem dia para voltar, tentaria levar na bagagem somente o essencial. Mas o meu essencial lota um guarda-roupa sem roupas, uma casa sem móveis e um coração sem mais espaço.

Nunca saio avulsa, vazia, repleta de nada. Quando consigo me desfazer de quase tudo, me resta um telefone, uma chave e uma pressa louca de voltar. Às vezes queria menos, bem menos. Porque o muito é uma delícia, mas ocupa espaço, demanda tempo e, muitas vezes, esconde o essencial. O “muito” rouba da gente a luz que deveria nos dar.

E o que é essencial diante de tantos sentimentos, tantas vidas já vividas, tantos sonhos imaginados, tantos tombos já tombados? O essencial, escondido no tal cofre, e que deveria iluminar a minha vida e a sua é o amor, o respeito e a solidariedade.

O restante, para qualquer viagem sem dia de volta, é supérfluo. Mas como se ensina a uma pisciana, que ainda guarda na gaveta o primeiro desafeto, a se desfazer do que pesa na bagagem? Eu preciso de esperança também, é certo, para acreditar que daqui até o final desta viagem sem dia de volta haja um lugar onde o essencial me ilumine e eu consiga iluminar somente o essencial.

“O céu deve ser assim... O céu deve isso a mim”. Marina Lima

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Trechos de uma viagem

Viagem de dois dias para seguir o delírio de uma mãe/tia em busca da realização dos sonhos do seu filho e do seu sobrinho para ir na Ciranda Discovery. No caso, eu não era a delirante, fui só a acompanhante da minha amiga Carla, grávida de seis meses e mais animada do que duas de mim. A Ciranda Discovery é um evento do Discovery Kids, um canal pago para crianças de até 6 anos, que tem os desenhos mais fofos que já vi.
Fomos lá, domingo pela manhã, o tio, a tia, o primo Pedro, a mãe e o Tomás. Enfrentamos filas, maratona, corrida, manha, fome, cansaço, mas saímos vivos e com diploma de exploradores na mão. No caso, só os pequenos ganharam os diplomas. Nós ganhamos diplomas imaginários de “aventureiros” do ano.
Mas o melhor da viagem são sempre os diálogos, o que diverte a gente em qualquer lugar.

xxx

Comunhão de ideias
Logo depois da saída de Goiânia, as primeiras frases:

- Vai demorar?
- É mesmo, mãe, vai demorar muito?
- A culpa é do papai que dirige muito devagar.

xxx

Filas

Este não foi um diálogo. Foi só uma cena quase muda. Chegamos ao shopping às 10h40. Ficamos na fila para entrar no shopping. Eu em uma porta. O tio em outra entrada. As portas se abriram às 11h20. As crianças e a grávida foram preservadas.
Na hora que a porta abriu, eu corri mais que tudo para conseguir um bom lugar. Ficamos entre os 30 primeiros. Eu ganhei do tio (oh!).
Os ingressos só seriam liberados às 13 horas. Nos revezamos, eu e o tio, na fila quando um monitor nos avisa, 10 minutos antes, que como a tia estava grávida, estávamos na categoria preferencial e não precisávamos ficar ali.
- Mãe, você ficou na fila, mas foi a tia Carla que conseguiu os ingressos, né?

xxx

Pergunta

Enquanto eu estava no meu momento folga da fila, com os dois meninos entediados, eis que o Pedro me faz a pergunta que não quer calar.

- Tia Luisa, por que você escolheu ter filho e não filha?

- Eu não escolhi, Pedro. Foi papai do Céu.
- Mas o que você achou?

O Pedro vai ganhar uma irmã em novembro. Estas crianças...

xxx

Clarice
Como nós não conseguimos ser os primeiros da fila, nem fora, nem dentro do evento, quando finalmente entramos no circuito, o Tomás tomou a frente e foi o primeiro da fila. Olhou para mim, piscou o olho e disse:

- Você não precisa se preocupar, que agora eu tomo conta!

Como primeiro da fila foi o primeiro a ouvir a pergunta do monitor:

- Como é o nome da clara do ovo?

Ele respondeu prontamente:

- Clarice!

xxx

Ilusão

A gente quer entrar no sonho deles... abusar da imaginação e acabamos com cara de...

Depois de seis horas no shopping, finalmente, fomos nos despedir do Doc, o cachorro apresentador do canal Discovery. O Pedro diz para o pai:

- Pai, por que ele não abre a boca?
- Ele está cansado, filhão. Já deu tchau para muita gente.
- Não, pai. É porque ele é um boneco

xxx

Conta

Foram só 50 minutos de circuito, duas horas de viagem, muitas broncas e filas depois e a gente tinha que faturar em cima dos poucos minutos de fama. Então, era o Doc é legal, o Doc é bacana, o Doc isso, o Doc aquilo. O pai disse:

- Pedro, não foi bacana encontrar com o Doc?
- Foi e eu vou contar para ele que você não quer mais pagar a Sky e que não vai ter mais Doc lá em casa.

xxx

Dia seguinte

O Tomás conseguiu amarrar um pé de sapato e saiu gritando pelo apartamento o seu “feito”. Só que ao tentar o segundo pé, o desastre estava feito e o choro ficou incontido e estridente.
Fui ao banheiro com ele tentar manter um diálogo que o tirasse da manha em que se encontrava.
- Filho, a gente não sabe tudo e não precisa chorar por isso!
- Mas eu queria saber amarrar, eu queria saber, mãe!
- Filho, a mamãe não “dirige” avião e nem por isso ela chora.
- Se eu fosse você, eu chorava.

xxx

Volta

- Vai demorar muito para chegar?

Nem sei quem disse. Mas chegamos muitas fotos, risos e choros depois. Férias de julho para guardar na lembrança.