Mostrando postagens com marcador poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poesia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Outubro



Há em outubro esta magia do recomeço: a esperança de que antes do ano findar haja tempo e amor para tudo. Está em outubro o pré-balanço do final dos meses, um novo fôlego, uma pequena mudança, a confirmação do caminho, o olhar para os lados, a revisão dos pedidos, uma nova cor para os esforços.
Faltam três meses para que mais um ano acabe, talvez o mundo. São 91 dias. É suficiente? Faltará dia? O que dará certo? O que foi previsto? O que surpreendeu? O mundo gira em círculos e você e eu?
É sempre em outubro, com o papai Noel batendo na porta, um candidato que te pede votos, dois feriados e 31 longos dias de Primavera, que a gente se pergunta para onde mesmo segue a barca.
Lá fora a seca do Cerrado fez estragos, mas as flores insistem em brotar. O ipê já floriu e, logo, a flor de outubro brota do seu cacto. Impagável milagre da natureza que nos deixa assim a pensar, que dá para remediar ausências, dedicação e boa vontade. Que, no fundo, tudo pode dar certo.
Então que venha outubro com inspiração do poeta Nei Duclós, trazer rompimento e nascimento na medida certa:
"Trago a nova: eu mudo lento, e é tudo. Sinto ser assim por estações: aos turnos. Posso voltar ao ponto de partida, mas luto. Sei que vem outubro. Flores, frutos de seiva romperão no mundo (Trabalho duro: sugar de pedras, rasgar os caules, colher ar puro) Lento e bruto eu mudo/ Sei que vem outubro”.
 

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Como é que a gente voa?



“Mas como é que a gente voa quando começa a pensar”.




- Mãe, o que é essa voz dentro da minha cabeça?

- É a sua consciência?

- E como faço para ela se calar?

- Mas ela é importante. Não pode se calar. Te incomoda?

- Sim, muito. Principalmente quando ela fica falando sobre a camada de ozônio.

- Hummm. Mas é um assunto importante. É bom pensarmos sobre isso.

- Mãe, quem tem que pensar sobre isso são vocês, os adultos. Eu preciso é brincar. E como é que a gente brinca com alguém falando o tempo todo na nossa cabeça.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Noites insones



Para alegria, sono.


Para tristeza, insônia.

Inconseqüência de um corpo que sente, mas não raciocina.

Se alegre, quero dormir pouco.

Se triste, quero o prazer de rever a paz enquanto sonho.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Para sempre



- Mãe, posso te perguntar uma coisa?

- Claro, filha, o que você quiser!

Passos apressados rumo ao balé. Mãos entrelaçadas, umas nas outras. Morgana para, respira e pergunta:

- Mãe, toda vez que você sair, você vai voltar?

- Vou, filha. Toda vez eu vou voltar para nossa casa.

- Eu estou falando sobre todas as vezes que você sair. Quero saber se você vai voltar?

As mãos se apertam. Os corações ficam miúdos.

- Filha, todas as vezes que eu vou, você vai comigo, no meu coração. Então, se eu não voltar, você estará lá comigo.

- Mãe, se você não voltar, eu vou ter que sair do seu coração, porque você sabe, né? E eu quero que você volte sempre, porque eu fico muito triste longe de você.

Estas foram, mais ou menos, as palavras de Morgana, 8 anos, para a sua mãe Simone. Quando a mãe me contou, me deu aquele aperto e fiquei pensando assim que Drummond tinha muita razão quando dizia: “Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho”. Esta aflição consumiu dias da minha infância e, agora, me consome adulta, porque eu gostaria de sempre voltar e de que ele estivesse, ali, me esperando.

*Para sempre – Poesia Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gentileza I




Ensinamento


(Adélia Prado)


Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.

Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo:

"Coitado, até essa hora no serviço pesado".

Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.

Não me falou em amor.

Essa palavra de luxo.

x x x x x
Minha mãe também não me falou nada sobre o amor, nem a gentileza que envolve amar e ser amado. Não me falou de como deveríamos tratar e ser tratado. Mas bastava que eu, espirrasse ou amolecesse o corpo, para ela fazer a sua tradicional gemada com hortelã. Talvez a minha avó também não tivesse dito nada a ela sobre este luxo, descrito por Adélia Prado. Mas ela, provavelmente, reparou nas latas de biscoito escondidas na parte mais alta do armário para quando os netos chegassem em casa ou ainda nos miúdos da galinha, separados ainda na cozinha, para quem como eu, faz questão. Não há como mesmo falar de amor, dizer de certas gentilezas que aquecem o estômago e também o coração, porque estas não têm muita explicação. Talvez por isso, quando acordo em dia que nem é santo, e a minha mesa está posta por um guri de 5 anos com pratos e talheres para alimentar um batalhão, penso que sempre dá para ensinar o necessário em silêncio, em silêncio. E que uma mesa bem posta, um bolo bem feito valem mais do que mil palavras...

*Sempre Adélia Prado. Volto à ela depois da minha semaninha insone, de um final de semana mais tranquilo e depois de ler o blog da Nina sobre o amor feinho. Queria ser tão essencial quanto ela.

Foto: Deire Assis
Produção: Luisa e Tomás para grandes amigos