- Mãe, posso te perguntar uma coisa?
- Claro, filha, o que você quiser!
Passos apressados rumo ao balé. Mãos entrelaçadas, umas nas outras. Morgana para, respira e pergunta:
- Mãe, toda vez que você sair, você vai voltar?
- Vou, filha. Toda vez eu vou voltar para nossa casa.
- Eu estou falando sobre todas as vezes que você sair. Quero saber se você vai voltar?
As mãos se apertam. Os corações ficam miúdos.
- Filha, todas as vezes que eu vou, você vai comigo, no meu coração. Então, se eu não voltar, você estará lá comigo.
- Mãe, se você não voltar, eu vou ter que sair do seu coração, porque você sabe, né? E eu quero que você volte sempre, porque eu fico muito triste longe de você.
Estas foram, mais ou menos, as palavras de Morgana, 8 anos, para a sua mãe Simone. Quando a mãe me contou, me deu aquele aperto e fiquei pensando assim que Drummond tinha muita razão quando dizia: “Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho”. Esta aflição consumiu dias da minha infância e, agora, me consome adulta, porque eu gostaria de sempre voltar e de que ele estivesse, ali, me esperando.
*Para sempre – Poesia Carlos Drummond de Andrade
o poema, um dos meus favoritos.
ResponderExcluira aflição, uma das maiores.
Seu texto me fez pensar nesse poema da Elisa Lucinda:
ResponderExcluirIncompreensão dos Mistérios
Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.
Muito fraco, Nina... Quem a gente ama não deveria morrer nunca...
ResponderExcluir