quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Para sempre



- Mãe, posso te perguntar uma coisa?

- Claro, filha, o que você quiser!

Passos apressados rumo ao balé. Mãos entrelaçadas, umas nas outras. Morgana para, respira e pergunta:

- Mãe, toda vez que você sair, você vai voltar?

- Vou, filha. Toda vez eu vou voltar para nossa casa.

- Eu estou falando sobre todas as vezes que você sair. Quero saber se você vai voltar?

As mãos se apertam. Os corações ficam miúdos.

- Filha, todas as vezes que eu vou, você vai comigo, no meu coração. Então, se eu não voltar, você estará lá comigo.

- Mãe, se você não voltar, eu vou ter que sair do seu coração, porque você sabe, né? E eu quero que você volte sempre, porque eu fico muito triste longe de você.

Estas foram, mais ou menos, as palavras de Morgana, 8 anos, para a sua mãe Simone. Quando a mãe me contou, me deu aquele aperto e fiquei pensando assim que Drummond tinha muita razão quando dizia: “Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho”. Esta aflição consumiu dias da minha infância e, agora, me consome adulta, porque eu gostaria de sempre voltar e de que ele estivesse, ali, me esperando.

*Para sempre – Poesia Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. o poema, um dos meus favoritos.
    a aflição, uma das maiores.

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  2. Seu texto me fez pensar nesse poema da Elisa Lucinda:

    Incompreensão dos Mistérios

    Saudades de minha mãe.
    Sua morte faz um ano e um fato
    Essa coisa fez
    eu brigar pela primeira vez
    com a natureza das coisas:
    que desperdício, que descuido
    que burrice de Deus!
    Não de ela perder a vida
    mas a vida de perdê-la.
    Olho pra ela e seu retrato.
    Nesse dia, Deus deu uma saidinha
    e o vice era fraco.

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  3. Muito fraco, Nina... Quem a gente ama não deveria morrer nunca...

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