Mostrando postagens com marcador avós. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador avós. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 5 de março de 2012

De olhos fechados

Catedral de Porto Nacional


Na vida, são muitos os lugares que se tornam parte das nossas histórias: a nossa primeira casa, o quarto da infância, a praça das primeiras brincadeiras, a escola de pátios enormes diante da sempre pouca estatura dos pequenos, a escadaria dos primeiros tombos, a praia de areia branca e águas seguras... E assim seguem sendo em nossa memória, revisitada na hora da saudade, encontrada na página dos álbuns, relembrada nos almoços de domingos.

Os lugares se tornam tão fortes e abrigam tantas lembranças, que seu cheiro, cor e tamanho tomam forma de gente, de amigo querido e saudoso, de aconchego e de encontro jamais esquecidos. E, nos sonhos, no inverso do que acontece na vida, são eles que nos visitam. E é assim que acontece, nas minhas noites de muito sono, em que a casa dos meus avós retorna para ser morada dos meus sentimentos. De olhos fechados chego ao quarto reservado para as visitas, pulo a janela da cozinha, tomo banho no tanque, sujo meus pés no piso encerado de vermelho,bebo água fresca do pote de barro, me refaço menina na terra da minha criancice.
Vó Ana, Mariana, Ana Maria e Andressa

Na rua que levava para o rio, na esquina com a ladeira, em Porto Nacional (TO), o casarão com janelas e portas pintadas de verde era a morada das minhas férias de julho e dos feriados mais longos do ano. Lá, meus avós Ana e Sabino, minha tia Maria José, a ajudante fiel Celina e minha prima Ana Maria nos esperavam de braços abertos, do alto da escada, enquanto descarregávamos a bagagem depois de uma noite inteira de viagem de ônibus.

Eram 30 dias em uma das cidades mais quentes do País, mas cujo calor era abrandado pelas águas frias e limpas do Tocantins, antes da barragem. Descíamos diariamente a ladeira para brincar na beira da água, ver os mais aventureiros pular dos paredões formados por pedras na margem do rio, fazer castelos com gotinhas de areia molhada, recolher as pedrinhas do fundo do rio, atravessar de “voadeira” em direção à ilha...
O pôr-do-sol mais lindo que já vi


Também era tempo de encontrar primos e tios, vindos de várias partes do Brasil, para dividir os dias, a mesa, a comida caseira da avó, as damas do meu avô, o chamego dos bichanos espalhados nas cadeiras feitas de fio, o espaço para sentar na escada da sala, o cheiro do biscoito frito no fogão à lenha, a ida na missa no final do domingo, o cocoricó das galinhas no fundo do quintal, a infinidade de visitas que lhe conheceu os pais ainda crianças.
Ana Cristina, eu, Marcelo e uma amiga
Ana Maria, vó Ana, Joaquim,
Maurício, eu, Maria e Pedro

E os primos eram um capítulo a parte, porque eram de todas as idades. Dos mais novos aos mais velhos, era imposta a nós a regra da convivência, da boa convivência. Uns protegiam os outros e ensinavam as regras, as possibilidades, o mergulho mais fundo, o esconderijo melhor, o nado mais ágil.

Nos lugares mais distantes, vou de olhos fechados encontrar a alegria e o aconchego dos meus tempos de menina, a água fria do rio, os braços quentes das pessoas queridas, as brincadeiras na rua do Cabaçaco, o som do rio no fundo da rua, o cheiro das mangas no quintal, as estripulias dos amigos, os dias infinitos e a memória que ainda alimenta dias felizes da minha vida.
O famoso paredão


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Por toda a vida

Tomás é neto único, o que lhe confere direitos exacerbados, quando o assunto é a avó. É ela quem lhe prepara o leite com o toddy e entrega na mão até hoje, que lhe amarra os cadarços e o enche de mimos sem fim. Eu, às vezes, desconfio que isso pode lhe estragar, mas... Eu sinto muita falta de ter tido algo assim da minha avó para reclamar. E dos mimos também fazem parte longas caminhadas, conversas intermináveis e reflexões que o acompanharão por toda a vida.

Dias desses, ela veio me contar sorrindo o diálogo travado durante a última caminhada:

- Vó, por que você tem salário se não trabalha?

- Ah, mas a vovó já batalhou muito para sustentar sua mãe e sua dinda. É a minha recompensa.

- Vó, você batalhou quando? Foi na Segunda Guerra Mundial?

É claro que ela gargalhou muito e contou um pouco sobre sua vida, sobre seu trabalho e sobre a aposentadoria.

Mas, outro dia, de mala e cuia para dormir na casa da vovó, ele volta aos livros de história e pede:

- Vó, me conta uma história antes de dormir!

- Tomás, a vovó não conhece história nenhuma.

- Então, me conta aí alguma coisa que você viu na época da ditadura militar.

Assim caminham os dois entre palavras e sentimentos construindo laços, refazendo passados imaginários e dando importância ao que tem relevo na vida.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Meu lugar



Vou voltar


Sei que ainda vou voltar

Para o meu lugar

Foi lá e é ainda lá

Que eu hei de ouvir cantar

Uma sabiá”


Nesta segunda, como que para dizer que a primavera está chegando, recebi um presente cheio de emoção e carinho, que me fez passar a noite perambulando em sonhos e me imaginando feliz por uma recordação que ficou apagada nos meus poucos anos de vida. A prima Eleonora Dias, a quem não vejo desde esta época, me enviou por email as fotos do dia em que chegamos a Porto Alegre, no fim do exílio dos meus pais. A data imprecisa no mês de outubro de 1979 guardou o sorriso mais bonito que já avistei do meu pai. Não era para ser diferente. Foram quase dez anos fora de casa, da terra da sua família, do amor dos seus. Neste período, não perdeu só o sonho, a convivência, os nascimentos dos sobrinhos e todas as coisas que nos acontecem em uma década, perdeu também o meu avô Armando, meses antes do seu retorno. Para sanar esta dor enorme das palavras que os dois não trocaram, de uma despedida que nunca aconteceu, o primeiro lugar que minha mãe e meu velho visitaram foi Porto Alegre, mais precisamente no sítio da família, no Lami.

Desta viagem que durou pouco mais de uma semana, minha avó Talita, meus tios e meus primos foram os responsáveis por fazer o meu pai sorrir de novo. Em sua casa, meu pai que também se chamava Armando, tinha o apelido de Negrão, talvez porque fosse o mais moreno dos cinco filhos. Era o terceiro da prole e o único, dentre eles, torcedor do Grêmio. Esta foi apenas uma das muitas diferenças que tiveram em vida. Mas que, para ele, sempre foram pequenas demais. Mesmo depois, morando a tantos quilômetros de distância, meu pai nunca perdeu o Rio Grande do Sul de vista. Era para lá que ia em todas as férias até adoecer. Era para lá que ia também, depois de adoecer, em pensamentos remotos e confusos. Ao ouvir o nome de um dos irmãos ou do rio Guaíba, seus olhos brilhavam.

Deste amor por sua terra, ganhei por muitos anos no registro o nome da cidade como se fosse a minha natal. Só depois de uma compreensão maior da lei, que Bruxelas se tornou minha cidade natal, mesmo eu sendo brasileira. Mas na cumplicidade matreira, meu pai me dizia gaúcha.

Dias depois da viagem registrada nestas fotos, eles seguiram a caminhada, comigo a tiracolo, por Curitiba, Goiânia e Porto Nacional onde se encontravam espalhados os familiares de minha mãe, este é um outro pedaço desta longa história. Naquele ano em que voltamos, meus pais foram muito felizes, como disse minha mãe: “Mais felizes do quem em todos os dias das nossas vidas”. O lugar do meu pai sempre foi ao lado dos que amou tanto. O da minha mãe se fez onde criou novos laços e onde ergueu sua família. Para viver juntos, nem sempre puderam ouvir o sabiá cantar, mas ele estava lá...

 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mimo do céu

Quando encontro uma flor cor de rosa sem moda que sai brotando pelas paredes e sobe nos muros até alcançar o céu, ganho passagem gratuita para a casa dos meus avós, onde passei as melhores férias da minha infância e onde guardei meus melhores sonhos. Foi assim no começo desta semana de sol, virando uma esquina, me deparei com um pé de Mimo do Céu, fazendo sombra e cor em uma rua qualquer.


Olhando aquelas flores, salientes e agrupadas, voltei a ter seis anos, os pés no chão e um medo famigerado da bengala de Dona Ana, minha avó. O casarão, com quatro enormes quartos sem forro, com janelas de madeira e um grande pátio é o lugar onde descansa a minha memória de pequena, de quem pulava a janela da cozinha para ir direto à ladeira que seguia até o rio Tocantins.

Descia descalça, apesar da dor causada pelas pedras, apenas para não ter nada a carregar depois. Apenas grande, peguei mania de sempre estar de mãos e cabeça ocupada. Neste tempo, apenas descia para encontrar a água serena do rio, onde mergulhava e encontrava a paz de dias que nunca passavam.

Passava o dia ali construindo castelos de areia molhada e pulando da pedra mais baixa, porque me carecia idade para escolher a mais alta. Quando o dia era diferente, pegávamos uma “voadeira”, o vento na cara e o destino certo, uma ilha de areia branca e barraquinhas de palha, onde ficávamos até o sol ameaçar sumir, nadando em água rasa e brincando de conquistar novos horizontes, tão possíveis ali.

Na volta para casa, a ladeira acima sem os chinelos era sempre dolorida e reclamada, centímetro por centímetro. Pensava em construir ali uma escada rolante ou guindaste para carregar o meu corpo cansado de tanta água e tanto sol. Mas eu tinha que vencê-la dia a dia se quisesse descer e eu vencia.

Então chegava lá, no topo, onde a janela da cozinha me esperava, se minha avó não estivesse por lá. Se estivesse, ganhava um jarro de água nos pés sujos e a ordem de entrar pela frente, como gente e não como gato que se arrisca em janelas.

Mais uns degraus e lá estava em casa. Era hora de correr para o chuveiro e vestir roupa decente, porque de biquini ninguém se sentava à mesa. E se sentar à mesa era honra querida e valia o sacrifício de enxaguar o corpo na água fria do tanque ou no chuveiro embaixo da caixa d’água, cuja força da água levava qualquer grão de areia.

Eu sempre preferi o tanque, onde o Mimo do Ceú fazia sombra para os banhos mais demorados e de onde era possível conferir a conversa que vinha do pátio e eram sempre boas conversas, regadas a muitas risadas e lembranças.

Terminado o banho, ia eu arrumar lugar para dividir a fartura daquela mesa, posta com o que tinha de melhor na casa. O fogão à lenha, os potes de barro para esfriar a água, as panelas areadas como prata, os pratos de esmalte, a galinha ao molho recém-falecida eram coadjuvantes das mãos firmes de minha avó.

As mesmas mãos que davam o tom à voz de bronca aos netos que se pareciam com gralhas, que temperavam a comida mais gostosa, que secavam os seus olhos na hora da partida e que cultivavam toda a beleza de um mimo que só se vê no céu me fazem falta agora, quando careço de coragem para subir ladeira.

Que a memória destas mãos venha ao meu socorro quando eu não souber o caminho a seguir. Saudades...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Quando eu chegar aos 70...


… quero acertar sempre a receita do bolo, mas se errar, quero dar de ombros.

... quero tricotar casaquinhos para os meus projetos de bisnetos.

... quero admirar as fotos das minhas viagens em família e dizer que não preciso mais voltar em nenhum daqueles lugares. Quero ter seus mapas no meu coração.

... quero fazer uma festa linda para comemorar os meus 70 anos e cada um dos dias que virão depois.

... quero receber mimos diariamente, apenas porque terei 70 anos e isso é muito nos dias de hoje.

... quero ser perdoada por qualquer excesso ou preocupação desmedida, porque vão compreender que já vi e já sofri o suficiente.

... quero ser ouvida duas ou três vezes no relato da mesma história, mas que é a minha história e é a que me faz feliz.

... quero furar o dedo na roseira que terei no quintal da minha casa, uma casa que terá o meu cheiro e o meu jeito depois de muitos anos dentro dela.

... quero saber quando vai chover só de olhar o céu.

... quero não enfrentar fila de nada, mas de nada mesmo, porque não terei mais nenhum tempo para perder.

... quero reconhecer nos meus filhos (ampliarei a prole até lá) a angústia dos meus 30 anos e saber que cada um deles irá passar por isso para se tornar melhor.

... quero me permitir ter tantas músicas preferidas quantos são os meus anos;

... quero dançar o ritmo do meu tempo, colada a quem eu amo, sabendo que o compasso ainda está no peito;

... quero ainda achar bom sentar no sofá com um balde de pipocas só para mim;

... quero não precisar mais chorar escondido, reclamar escondido, temer escondido. Vamos combinar que esconde-esconde é para a infância? Na velhice, quero assumir tudo.

... quero ver a lua cheia ou minguante, não me importa, quero contemplar sem esperar nada;

... quero ter saudades, muitas saudades, de quem se foi. Mas uma saudade que não doa como hoje, que não martirize como um dia. Quero sentir saudades como uma forma plena do amor;

... quero ter muitos gatinhos e trocar todos os seus nomes e os dias que estão por ali. Quero poder implicar com eles, pela sujeira que fazem, pela bagunça que aprontam, apenas para poder implicar, porque implicam demais com aqueles que são velhos.

... quero ligar para minha irmã e tratá-la como uma criança que nunca cuida daquela gripe, que teima demais quando vai ao médico e que não me obedece nunca. E com isso me sentir de novo uma irmã mais velha, uma criança crescida;

... quero jogar buraco com minhas amigas, nas quartas, impreterivelmente e quero difamar aquela que se ausentar, dizer que ela é uma velha, que se apoquenta com qualquer problema de filho;

... quero fazer hidroginástica (bem antes disso também) com uma tradicional turma, com quem irei trocar receitas, fofocas sobre a política e as histórias de seus maridos ingratos com a certeza de que, em casa, terei um companheiro com o qual vou dividir os gratos dias que ainda me restam;

... quero rir até chorar dos dias em que fiquei triste demais, em que não acreditei, em que achei que não ia dar;

... quero ser chamada de vovó por uma porção de gente, filhos dos filhos, filhos dos amigos dos filhos;

... quero ter a bênção de reconhecer Deus no fato de respirar e ter com ele diálogos muito verdadeiros sobre o nosso encontro.



Assim quero que seja, sem vírgulas fora do lugar. Então, quase no meio deste caminho, vou colocando os tijolinhos que faltam para eu chegar lá. Ainda faltam muitos, eu sei, mas não é de hoje que estou batalhando.



Esta semana que chega assim com o frio do junho já anunciado, a mãe de uma amiga completa os seus 70 anos. Não sei como ela se sente, mas queria dividir com ela o que sinto ao vê-la em idade tão madura. Sinto assim que deve ser bom, mesmo que só, que deve ser mágico se sentir prolongada na vida de outras pessoas, que deve ser sábio saber mais do que qualquer um de nós. Mas para não perder o encanto do que espero para os meus 70... não vou perguntar. Vou imaginar, porque aos 30 isso pode ser saboroso.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Lá na Praça de Maio…

Quando eu for à Buenos Aires, irei visitar a Praça de Maio. Vou sentar lá e observar as avós que tomaram conta do lugar e vou pensar no que vivi desde 1977, quando nasci e quando elas se instalaram por lá. E vou pensar que quando eu fui a primeira vez à escola e minha mãe se emocionou ao me ver vestida com meu uniforme amarelo, outras 500 crianças, nascidas naquele mesmo período, estavam indo à escola também, de mãos dadas, com quem tirou delas o direito à verdade e à identidade.

Este ano, as avós da Praça de Maio da Argentina encontraram o centésimo neto desaparecido entre os anos de 1977 e 1983, durante a ditadura militar instalada naquele País. Francisco Madariaga Quintela, filho de Silvia Monica Quintela e Abel Pedro Madariaga, ambos militantes de uma organização guerrilheira, reencontrou seu pai, depois de 33 anos de vida. Reencontrou, como disse,com sua vida, com o seu passado.

Francisco viveu 33 anos com uma mentira e com vários mentirosos. Francisco se chamava Alejandro, morava com o pai militar e a mãe dona de casa e com os irmãos. Francisco não se sentia em casa, não se sentia à vontade na própria pele, não se sentia completo.

Abel perdeu Silvia, em 1977, morta depois do nascimento do seu primogênito. Abel foi exilado e voltou ao País só em 1983. Abel procurou o filho, procurou seu pedaço, procuro preencher um vazio que não lhe era tolerável.

Mas foram precisos mais de 30 anos para que se reencontrassem. Quando Francisco e Abel se abraçaram, o filho disse ao pai: eles não podiam! É. Eles não podiam. Eles não podiam tirar um filho dos seus pais, tirar uma filha de sua mãe, tirar o futuro de uma jovem médica, tirar o amor de um homem por uma mulher.

Quando eu for a Argentina, eu não irei ver nem Francisco, nem Abel, mas ficarei feliz por saber que, no País vizinho, crimes de sequestro não prescrevem, avós não desistem nunca e reencontros são sempre possíveis. Porque, às vezes, me aniquila saber que pais não reencontram seus filhos, que alguns crimes deixam de ser penalizados e que, por força da ocasião, algumas pessoas simplesmente desistem.



P.S. Voltarei a contar as histórias do pequeno, nos próximos dias, assim que a melancolia sair deste corpo. E assim que a voz, o olfato e o paladar voltarem a este corpo.

P.S. 2 Fotos das avós na Praça de Maio e de Sílvia, antes do seu desaparecimento.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Moeda


Desde sempre tenho uma parceira importante na educação do meu filhote. É quem me socorre nas horas de aperto, é quem divide as tarefas diárias nem sempre prazerosas e é com quem eu troco ideias e tiro dúvidas na hora de educa-lo. Mas também é com ela que eu travo as maiores batalhas, sempre as duas querendo o melhor para ele. Falo da minha mãe, que há cinco anos, se transformou em avó e este tem sido seu papel principal desde então. Este mês tive que tomar a decisão de não deixa-lo viajar com ela por dias indeterminados para uma festa de família. Estávamos exaustas com ele de férias em casa e as reclamações eram muitas de ambas as partes. E ficamos, assim, ressentidas... Ela, porque queria muito que ele fosse. Eu, porque queria que ela entendesse que dias demais não dá e que para toda tarefa há que existir um descanso.
No meio deste entraves diários, está o nosso rei. Sim, ele sabe da sua majestade e tem muito jogo de cintura para usar o que há de melhor nas duas. E para saber que, aqui e ali, se barganha amor. Conversei com ele sobre minha decisão e ele aceitou bem. Preferiu ficar e ir com os amigos para a colônia de férias do que viajar sem data de retorno. Mas preferiu não dizer isso com estas palavras para a avó. Fez muxoxo. Disse que não queria ficar longe de mim, que ia sentir saudades e ela acabou aceitando.
Mas chegado o dia da viagem da avó, eis que ele deitado no sofá da casa dela, recebe um abraço carinhoso da avó já saudosa. Ela diz com aquele jeitinho que queria tanto que ele voltasse a caber no colo dela. Quando então, ele resolve usar sua melhor moeda, tirada do cofre-coração e diz:
- Se eu voltar a ser pequeno, você promete que não viaja!
Ela ganhou a noite, viajou, mas resolveu marcar o dia de volta. “Serão só sete dias, mamãe. A vovó me disse. Quantos dias faltam, então?”. E ele me confidenciou quando voltávamos para nossa casa: “Mamãe, eu não sei ficar pequeno, mas a vovó acha que eu sei, tá?”. Segredo compartilhado com vocês, mas não contem para ela, ok?