“Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá”
Desta viagem que durou pouco mais de uma semana, minha avó Talita, meus tios e meus primos foram os responsáveis por fazer o meu pai sorrir de novo. Em sua casa, meu pai que também se chamava Armando, tinha o apelido de Negrão, talvez porque fosse o mais moreno dos cinco filhos. Era o terceiro da prole e o único, dentre eles, torcedor do Grêmio. Esta foi apenas uma das muitas diferenças que tiveram em vida. Mas que, para ele, sempre foram pequenas demais. Mesmo depois, morando a tantos quilômetros de distância, meu pai nunca perdeu o Rio Grande do Sul de vista. Era para lá que ia em todas as férias até adoecer. Era para lá que ia também, depois de adoecer, em pensamentos remotos e confusos. Ao ouvir o nome de um dos irmãos ou do rio Guaíba, seus olhos brilhavam.
Deste amor por sua terra, ganhei por muitos anos no registro o nome da cidade como se fosse a minha natal. Só depois de uma compreensão maior da lei, que Bruxelas se tornou minha cidade natal, mesmo eu sendo brasileira. Mas na cumplicidade matreira, meu pai me dizia gaúcha.
Dias depois da viagem registrada nestas fotos, eles seguiram a caminhada, comigo a tiracolo, por Curitiba, Goiânia e Porto Nacional onde se encontravam espalhados os familiares de minha mãe, este é um outro pedaço desta longa história. Naquele ano em que voltamos, meus pais foram muito felizes, como disse minha mãe: “Mais felizes do quem em todos os dias das nossas vidas”. O lugar do meu pai sempre foi ao lado dos que amou tanto. O da minha mãe se fez onde criou novos laços e onde ergueu sua família. Para viver juntos, nem sempre puderam ouvir o sabiá cantar, mas ele estava lá...