Lá em casa tem um menino de sagitário e, como canta Adriana Calcanhoto, “metade gente, metade cavalo”. E ele é assim muito humano, como são “as gentes” e, elegante e livre, como deveriam ser os cavalos.
Nos seus sonhos de menino, “cavalga elegância”, sonha com o longe, constrói mundos imaginários e faz planos para outros finais de ano, quando não estarei mais por aqui. E, para ele, nada é impossível.
- Mãe, quando eu crescer, eu vou construir uma casa na lua e você vai morar nela!
É também o menino de sagitário, que nunca perde uma tirada, diz o que lhe dá na telha e não perde nunca a vontade de dizer o que pensa, a pessoa mais verdadeira que conheço.
- Mãe, mas é verdade. Eu não gosto disso.
Injuria-se com a mentira, com o tropeço, com o compromisso não cumprido. E com memória de poucos anos, ainda não gasta, se lembra, cobra e controla.
- Mãe, mas você disse que íamos sair hoje!
Fala mais do que todo mundo e, por isso, no seu “boletim” vem anotadas todas as conversas paralelas. A sua voz chega aos lugares antes que ele o faça e ele dá mais notícias do que o jornal da noite. E, ao menor sinal de desatenção, ele bate palmas e avisa:
- Mãe, você está me ouvindo?
O seu relógio é adiantado por natureza. O seu dia começa cedo, muito cedo. E se este dia for de folga, é mais cedo ainda.
- Mãe, hoje é sábado, eu tenho que aproveitar!
As suas amizades são para a vida toda. E os seus dedinhos ficam aflitos por ter de recontar os muitos que ele quer bem. Para ele, não existe colega, existe amigo e, pelos amigos, com quem ralha, briga e se desentende, ele sempre busca fazer o melhor.
- Mãe, eu não gosto muito de bolo de chocolate, mas meus amigos gostam. Então, faz um bolo de chocolate para eles.
O seu coração é doce, puro mel. E quando pequeno os seus olhos adoçavam só de olhar. E, talvez por isso, sempre foi dono de muitos amores, muito certeiros, cuja inspiração vai além do final feliz dos contos de fada.
- Mãe, ela me ama, vai casar comigo e vamos ter quatro filhos... Você sabe, mãe, de quem eu estou falando?
O seu convencimento não é vertical e nem muito fácil. Exige mais paciência do que seres adultos e bobões, como eu, são capazes de oferecer. Ele não aceita qualquer resposta ou se contenta com uma explicação banal. Ele quer compreender o mundo de onde ele acha que vem...
- Mãe, se o vovô é uma estrela de noite, de dia ele vira nuvem?
O seu amor pelo mundo também é intenso, como são seus diálogos com ele. Ele recolhe o lixo, adora as plantas, admira os prédios e as longas avenidas. Da engenharia que constrói a cidade em sua volta, ele tira explicações lógicas para quase tudo. Mas quando o mundo falha um pouco, ele se ressente com o seu dono...
- Mãe, mas por que Deus deixou cair tanta água? Não tem telha que dê conta disso tudo!
É também, neste mundo de números, cujas cifras o impressionam e regras nem sempre o beneficiam, que ele desenvolve mais o seu ar questionador. E se cada pergunta levantada por ele valesse um real, o menino de sagitário já seria rei.
- Mãe, se eu fosse prefeito, dinheiro não ia valer nada, nada mesmo.
Enquanto os números o seduzem, as classificações o deixam intrigado. Para ele, qualquer rótulo precisa bem mais do que explicação. E qualquer “lugar comum” é alvo de muitos questionamentos.
- Mãe, por que só as meninas ganham flores? Homens também gostam de flores, sabia?
É este ser de sagitário, que todo fim de ano “cruza o planetário”, que o “meu coração aguarda e acompanha” o seu rico itinerário há seis anos.
Na verdade, eu que sou mãe, filha, madrinha e afilhada de sagitarianos, me encanto todos os dias com a sabedoria, o senso de justiça e a praticidade destes seres nascidos entre novembro e dezembro.
As “pérolas” sagitarianas fazem parte da minha vida. O inconformismo, a persistência, a ansiedade, a inteligência, os ciúmes, a elegância e a liberdade destes seres me fascinam.
A coragem da minha mãe, o seu jeito de nunca se entregar, é quase que inato em meu filho. Não sei contar quantas vezes eu ouvi da minha mãe:
- Filha, se não tem jeito, a gente dá um jeito. Levanta os ombros e vamos seguindo!
Da minha madrinha, que é doce como é o Tomás, que até para puxar orelhas é gentil, a sabedoria sempre foi tão marcante.
- Minha querida, a resposta está dentro de você...
É da pequena Sofia, que hoje também aniversaria, a máxima explicação para o que vai nestes corações. A voz mais doce de todos os sagitarianos que me circulam, em certo momento me explicou um pouco da persistência deste seres.
- Luisa, mas minha mãe não entende. Eu não gosto daquele vestido. Eu gosto mesmo é deste aqui e a gente tem que vestir o que gosta!
• Para quem não conhece a música, segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=o0pTnd0YUCY&feature=player_embedded#
• Hoje, 15 de dezembro, meu pequeno completa seis anos.