sexta-feira, 30 de julho de 2010

O que dizer, o que ouvir...

Às vezes a gente precisa ouvir/falar palavras de afeto sem restrição, sem segundos para pensar, sem gestos que dizem o contrário.


Às vezes a gente precisa ouvir de quem se ama muito e de quem te ama muito que está ali para o que der e vier, que te compreende, que sente muito, que se importa, que torce pelo melhor.

Às vezes a gente precisa ouvir/falar que tudo vai passar, mesmo que nada passe, que há perfeição no seu sorriso imperfeito, que tá bom do jeito que está, que ninguém arruma uma estante como você.

Às vezes a gente precisa ouvir/falar um agradecimento, uma interjeição de alívio depois de uma difícil chegada, uma interjeição de comemoração com qualquer sucesso, uma interjeição de prazer ao menor indício de carinho.

Estou treinando para ouvir. Estou treinando para dizer.

O silêncio é a música mais repleta de amor que existe. E me encanta hoje mais do que nunca.

Mas nas palavras reside a crueldade de todo ser humano e depois de ditas, as mesmas se multiplicam por aí, fazendo buracos nas cifras musicais de quem se ama verdadeiramente.

Então, pense antes de dizer e filtre o que vai ouvir.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre a maior dor do mundo




Nesta vida tenho sonhos, coragem e esperança, mas tenho medo. Ele é forte, terrível e incoerente. Amanhece e dorme comigo. Mas não tenho como combatê-lo. Ele é o preço que pago por ser mãe. É o preço que pago por viver um amor incondicional. É o preço que pago por ter um pedaço de mim vivendo fora do meu corpo, correndo, pulando e respirando. É o preço que pago pela felicidade de ser chamada de mamãe.

O meu medo se renova todos os dias com a presença de fantasmas que estampam capas de jornais, que inundam estatísticas, que arrasam famílias inteiras. São muitos os casos em que a ordem inversa da vida se torna a ordem vigente e filhos jovens partem antes da hora, deixando desamparados pais cheios de planos e sonhos.

Esta semana que passou os fantasmas rondaram meu sono. Um menino de 10 anos morreu em um acidente de trânsito deixando para trás pai, mãe e irmã. Um jovem de 18 anos foi manchete repetida na mídia depois de ser atropelado e morto de forma brutal. Um garoto de 14 anos é vítima de uma bala na garupa da moto dirigida pelo pai . Todos eram projetos acalentados de homens, todos levados embora pela violência.

E a nós, distantes dos dramas destas famílias, cabe observar o que há de mais terrível no mundo: a dor de perder um filho. A única palavra que me vem à cabeça é “arrasador”. Destruir, avassalar, assolar... Porque não existe um período de luto para quem perde um filho. Existe uma vida inteira sem o que mais amamos e isso não é compreensível. Há que se ter muita fé, muita coragem e a certeza de que se deu o melhor em todos os minutos, que se entregou sem medidas à tarefa de educar, que possibilitou muitos sorrisos e que há uma razão insondável para tudo isso.

Que Deus proteja nossos meninos. Que nossas cidades tenham muros invisíveis que garantam a segurança dos nossos pequenos. Que haja esperança o suficiente para que, quem vive este drama inexplicável, possa continuar... Porque a maior dor do mundo não é digna de ninguém, não é destino de ninguém, não é merecedora de ninguém.

*Imagem do Globo do pai debruçado sobre o corpo do filho, em Fortaleza

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Não recomendado para menores de 12 anos

Nossa humanidade é limitada pela quantidade de erros que somos capazes de cometer. Todos os dias desde a hora que saímos da cama somos fadados a um errinho aqui, outro acolá. Uma preguiça desmedida, uma inveja boba, um mau humor desnecessário, uma raiva intolerante e lá estamos nós lidando com nossos limites demasiados. Alguns, por sorte, por dádiva ou por amadurecimento, são mais evoluídos e driblam bem o cotidiano com excesso de generosidade e sabedoria. Mas são raros estes seres. Na minha lista, devo computar uns três ou quatro adultos assim. As crianças não entram na conta, por inocência, são mais retas do que parecem ser. Erram menos do que as vezes que recebem correções. Agora, na medida em que vão ganhando anos na “carcunda”, elas têm que se esmerar no exemplo dos mais velhos e isso, com certeza, tira muitos pontos dele. A tal frase “siga o exemplo do seu irmão” devia ser abolida das expressões familiares. Os exemplos, muitas vezes, não têm nada de exemplar.

Digo isso depois que uma enxurrada de episódios medonhos deu ao futebol o título de esporte campeão em péssimos exemplos. Os esportistas deviam ter em seus contratos um item que os obrigassem a uma conduta digna e exemplar. Não falo só do caso Bruno, porque em toda a profissão, este ou aquele colega pode ter uma educação “mequetrefe”, um comportamento cafajeste e ter passado em branco pelas aulas de ética. Corremos o risco diariamente de trabalhar ou estudar ao lado de um psicopata, sem que este dê muitos sinais de tal comportamento. Mas o que dizer do comportamento diário dos ídolos do futebol nas partidas? O que dizer do Leão, do Dunga ou do Felipe Melo? O que é tolerável nesta que é a paixão nacional?

Meu pequeno está encantado e apaixonado pela bola. Ela é sua companheira nestas férias. Onde ele vai, carrega a dita cuja e tenta, aos poucos, ensaiar pedaladas, pênaltis e muitos gols. No apartamento, onde o objeto não pode entrar, ele extravasa sua paixão jogando no vídeo game e criando novas finais para a Copa. Tudo muito bacana não fosse por pequenos incidentes, como este, em uma tranquila manhã de domingo.

O Brasil enfrentava a Argentina no final de uma Copa que está longe de acontecer. O Tomás era o Brasil, que levara um gol da Argentina e estava bem perto de perder, quando o menino esmurrou o nosso sofá. Esbravejando, disse que o time era uma “merda”.

- Tomás, o que é isso? Você está brincando ou está brigando?

- Nada não, mãe, só fiz como o Dunga. Lembra? Eu sou o técnico deste time aí e tenho que colocá-los para funcionar.

Minha mente funcionou rápido ao dizer que aquilo não era bonito, mas o discurso longo é bem menos marcante do que ver na televisão a pessoa para quem torcemos fazendo o que não devia, sendo um péssimo exemplo para pequenos brasileiros que um dia irão repetir o que viram no passado. Acho que nossa humanidade esbarra nos nossos erros e não posso cobrar de jogadores e técnicos que sejam menos humanos do que nós. Mas quero poder cobrar que os ídolos tenham condição de receber este título e usem, pelo menos, o básico da boa educação ou então, na hora do jogo, vão ter que censurá-lo. Proibido para menores de 12 anos. A pelada com direito a gritos e a reclamações de marmanjos é saudável, mas quando vira festival de grosserias tem que ganhar cartão vermelho.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Regra para dias além das férias




Desde que me entendi como mãe, uso o tal sistema de regras. São regras para isso e regras para aquilo. Dia da bala, hora de dormir, dia do videogame, hora do desenho. Quando Tomás foi para escola, as regras ganharam nome fofinho: combinado. Mas, na forma, é a mesma coisa. Se não cumprir a regra, perde o direito. Um dia, minha terapeuta me fez uma pergunta: e quando é que ele ganha? Não soube responder, mas passei a usar a “perda” com mais moderação.

Mas mesmo com moderação, na hora que nos deparamos com situações em que os pequenos estarão completamente por sua conta e risco, temos que apelar para uma enorme lista de regras, com o propósito de acreditar que estaremos onipresentes durante aquele período.

Então, esta manhã, antes do início da colônia de férias, que duram exatos cinco dias, eu explicava ao pequeno tudo o que podia (na verdade, o que não podia) durante o período que estiver por lá.


- Filho, a primeira regra que nunca podemos nos esquecer é que temos sempre que respeitar os outros!

- Sim, mamãe, principalmente os mais velhos.

- E também temos que cumprir os combinados do grupo, não entrar na piscina antes da hora, usar filtro solar, respeitar a fila, não fugir da sala, não tentar resolver situações difíceis chorando, não rir dos outros, juntar os nossos pertences e comer tudo que colocarem no nosso prato. Entendido?

- Sim. Entendi tudinho. Só faltou uma regra.

- É! Qual? (Como assim faltou uma regra, eu disse tudinho?!?!).

- Combater o racismo, mãe. É muito importante dizer não ao racismo.


Algo na Copa do Mundo ficou e neste caso é uma boa regra, em que ele ganha e não perde nadinha. Lá se foi ele, acompanhado dos primos, com a mochila nas costas, pronto para cumprir e descumprir regras e para aprender com o mundo como é que se pode ser feliz.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Pelo direito de ser mãe

Duas amigas anunciam que começarão 2011 diferentes. Serão mães. E isso faz toda a diferença. Não é fácil, não é raso, não é simples. Mas é transformador, mágico e poético. E ser mãe foge de fórmulas, mas não de batalhas. Foge de estereótipos, mas não de sofrimentos. Foge do perfeito, mas não da perfeição. E compartilhar isso com elas e com todas as minhas amigas que são mães é um estreitamento de laços, é uma comunhão de sensibilidade.
O Grupo Cria fez um manifesto interessante, defendendo o básico, a valorização da matenidade. Nos tempos atuais, em que compramos livros do passo a passo da educação dos filhos nas prateleiras do supermercado, em que a escola sabe mais do que nós mesmos sobre quem são nossos herdeiros, em que o melhor está no bolso e não no coração, acho que vale muito ler o manifesto e assiná-lo se possível. Ele está disponível em http://www.grupocria.com.br/.
Para as duas amigas desejo alargamento de corações para curtir as mais diferente emoções.