Nossa humanidade é limitada pela quantidade de erros que somos capazes de cometer. Todos os dias desde a hora que saímos da cama somos fadados a um errinho aqui, outro acolá. Uma preguiça desmedida, uma inveja boba, um mau humor desnecessário, uma raiva intolerante e lá estamos nós lidando com nossos limites demasiados. Alguns, por sorte, por dádiva ou por amadurecimento, são mais evoluídos e driblam bem o cotidiano com excesso de generosidade e sabedoria. Mas são raros estes seres. Na minha lista, devo computar uns três ou quatro adultos assim. As crianças não entram na conta, por inocência, são mais retas do que parecem ser. Erram menos do que as vezes que recebem correções. Agora, na medida em que vão ganhando anos na “carcunda”, elas têm que se esmerar no exemplo dos mais velhos e isso, com certeza, tira muitos pontos dele. A tal frase “siga o exemplo do seu irmão” devia ser abolida das expressões familiares. Os exemplos, muitas vezes, não têm nada de exemplar.
Digo isso depois que uma enxurrada de episódios medonhos deu ao futebol o título de esporte campeão em péssimos exemplos. Os esportistas deviam ter em seus contratos um item que os obrigassem a uma conduta digna e exemplar. Não falo só do caso Bruno, porque em toda a profissão, este ou aquele colega pode ter uma educação “mequetrefe”, um comportamento cafajeste e ter passado em branco pelas aulas de ética. Corremos o risco diariamente de trabalhar ou estudar ao lado de um psicopata, sem que este dê muitos sinais de tal comportamento. Mas o que dizer do comportamento diário dos ídolos do futebol nas partidas? O que dizer do Leão, do Dunga ou do Felipe Melo? O que é tolerável nesta que é a paixão nacional?
Meu pequeno está encantado e apaixonado pela bola. Ela é sua companheira nestas férias. Onde ele vai, carrega a dita cuja e tenta, aos poucos, ensaiar pedaladas, pênaltis e muitos gols. No apartamento, onde o objeto não pode entrar, ele extravasa sua paixão jogando no vídeo game e criando novas finais para a Copa. Tudo muito bacana não fosse por pequenos incidentes, como este, em uma tranquila manhã de domingo.
O Brasil enfrentava a Argentina no final de uma Copa que está longe de acontecer. O Tomás era o Brasil, que levara um gol da Argentina e estava bem perto de perder, quando o menino esmurrou o nosso sofá. Esbravejando, disse que o time era uma “merda”.
- Tomás, o que é isso? Você está brincando ou está brigando?
- Nada não, mãe, só fiz como o Dunga. Lembra? Eu sou o técnico deste time aí e tenho que colocá-los para funcionar.
Minha mente funcionou rápido ao dizer que aquilo não era bonito, mas o discurso longo é bem menos marcante do que ver na televisão a pessoa para quem torcemos fazendo o que não devia, sendo um péssimo exemplo para pequenos brasileiros que um dia irão repetir o que viram no passado. Acho que nossa humanidade esbarra nos nossos erros e não posso cobrar de jogadores e técnicos que sejam menos humanos do que nós. Mas quero poder cobrar que os ídolos tenham condição de receber este título e usem, pelo menos, o básico da boa educação ou então, na hora do jogo, vão ter que censurá-lo. Proibido para menores de 12 anos. A pelada com direito a gritos e a reclamações de marmanjos é saudável, mas quando vira festival de grosserias tem que ganhar cartão vermelho.