Nem sempre leio para o Tomás. Confesso esse lapso para descobrir se alguma das minhas leitoras ocultas se entrega à preguiça ou às tarefas do lar quando o filho chega com um livro debaixo do braço. Mas, vez em quando, me entrego a tarefa que sempre rende boas risadas e, no final, um filhote dormindo tranqüilo em sonhos coloridos com animais falantes, terras distantes e finais sempre felizes.
Neste final de semana, tive motivo a mais para ler livros com o pequeno, que já conhece as palavras, mas adora que alguém lhe faça este dengo. Ele está dodói e, nestes dias assim, ganha direito de ganhar uma beira na minha cama para eu controlar a temperatura. Escolheu para nos fazer companhia o livro “Reforma da Natureza”, do Monteiro Lobato, que li quando era criança e que ele ganhou da minha querida madrinha.
Para quem cresceu e se esqueceu da história, vale relê-la aqui. Logo no começo Dona Benta e Tia Nastácia seguem em comitiva para Europa com a missão de ajudar na construção da paz mundial. Mas Emília decide ficar, por motivos que envolver a reforma da natureza, e a uma certa altura, Narizinho alerta para o risco das peraltices da boneca e afirma: Quer ficar sozinha eu sei para que é - para sapecar à vontade.
Eu pergunto ao pequeno, para acompanhar até que ponto ele entende:
- O que será que Emília vai fazer, filho?
- Hummm. Se fosse na cidade, ia fazer uma balada.
- Balada? Como assim?
Com bracinhos para cima, ele faz um movimento de ombros e imita uma destas músicas da moda.
- Isso é uma balada. Agora, no sítio, mãe, acho que dá para ela soltar as galinhas do galinheiro.
O certo é que vamos ocupar algumas noites com a leitura e com o dodói. Vamos nos divertir juntos, o que é sempre registro da nossa cumplicidade acalentada em noites febris e em dias nem sempre ensolarados.