“Em minha casa, reuni brinquedos pequenos e grandes, sem os quais não poderia viver. O menino que não brinca não é menino, mas o homem que não brinca perdeu para sempre o menino que vivia nele e que lhe fará muita falta”.
Pablo Neruda
Ainda brinco em um dia qualquer com um jogo estipulado pelas crianças. Às vezes faço formigas nas costas do Tomás pela manhã e em tarde muito ensolarada, sou capaz de jogar bola com meu filho ou competir na piscina o nado mais rápido. Mas é pouco, muito pouco, porque me pesa o peso de não poder rodopiar, porque me pesa o peso de cobrar boa postura, porque adormeceu em mim uma menina risonha que adorava jogos de azar, que temia monstros do escuro e que inventava futuros distantes.
Há que se dosar na adultice um pouco de meninice, não da infantilidade tão comum nestes dias rasos de querer ser mais do que se pode. Mas é preciso ter, na alma, em canto de fácil acesso, a agilidade do empinar da pipa, a gargalhada da piada sem graça, o esconderijo nunca descoberto, a sujeira mais limpa da terra vivida, a coragem do primeiro passeio de bicicleta, a pureza da descoberta da morte das primeiras cigarras.
Em minha casa, recordações da infância estão nas fotos, nos brinquedos que enfeitam estantes e nos deixados pelo Tomás em qualquer canto. E, às vezes, ao cantar uma música, ele me leva para lá, para o tempo ido, de onde volto logo para regular o volume da sua voz ou avisar do próximo compromisso.
Por que é tão longe quando devia ser tão perto? Por que se faz difícil essa menina que em mim habita? Por que nos distanciamos do que somos para sermos adultos? Por que brincar se tornou extremamente difícil?
Foto: avidadebani.blogspot.com
A gente tem tanta pressa de crescer, e acaba crescendo tanto que acabamos por não conseguir ouvir mais a criança que mora em nós, sua voz vai ficando cada vez mais longe...
ResponderExcluirPor ora, sem resposta...
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