quarta-feira, 4 de maio de 2011

Onde repousa meu coração


“Quando te vi amei-te já muito antes.

Tornei a achar-te quando te encontrei.

Nasci pra ti antes de haver o mundo.

Não há cousa feliz ou hora alegre

Que eu tenha tido pela vida fora,

Que o não fosse porque te previa,

Porque dormias nela teu futuro”.



Fernando Pessoa



Me descobri grávida em um mês de maio. Um exame de sangue me denunciou com um sinal ≥. Nem +, nem -. Mas, a partir daquele dia, minha vida nunca mais foi igual e tornou-se para sempre maior. Maior em mim e fora de mim. A barriga não acompanhou o “aqui dentro”, que extrapolou bem mais que as roupas do armário e os conceitos que eu usava até então.

Na minha vida, existe um antes e um depois. O Tomás é o meu marco de mudanças, amadurecimento e desejo real de ser uma pessoa melhor. Até a chegada dele eu acreditava piamente ser “a melhor”. Sim, a maternidade me doou com doses cavalares de tombos e tropeços humildade e tolerância para com o mundo. E aguçou o meu senso crítico, antes usado com perspicácia para fora e nunca para dentro.

Com o exame em mãos, eu comecei a viver longos dias, como vivem todas as mães à espera dos seus pequenos, e a me embaraçar nos preparativos impossíveis para me amparar nesta chegada. Quarto, mala, enxoval, nome, exames apenas exercitam nossa paciência de espera e de escolha. Dali para a primeira escola é um pulo e muitas outras angústias. Para ser mãe, é preciso se redescobrir a todos os dias e crescer junto a fita métrica que acompanha a metragem dos filhos.

Me lembro bem que, durante o pré-natal, encontrei outra mãe, já experiente, na sala de espera de um consultório e ela me disse sabiamente:

- Daqui para frente seu coração bate em outro lugar!

Eu que até então vivia para mim e por mim descobri esta verdade irremediável e incontrolável. No meu caso, meu coração passou a bater no peito de um menino peralta, falante e sonhador com canelas roxas, cílios longos e sorriso enorme. De lá para cá, são sete dias das mães cujos beijos e abraços se tornaram indispensáveis e um presente repleto de significados e possibilidades de sempre poder ser melhor do que era ontem, de perdão para as minhas imperfeições e de alegria e medo por viver um amor incondicional.

Ganhei, com o Tomás, a possibilidade de cuidar e de exercer este carinho em tantas outras relações. Porque a nossa vida se torna maior, o amor ganha status de infinito e os caminhos se abrem. Como mãe, fui tia muito mais vezes e de forma diferente. Fui também filha, madrinha e irmã. Fui mais amiga ou, pelo menos, tentei.

E por causa do meu amor de mãe aprendi também que as relações e os encontros com os filhos não acontecem só na maternidade e não são exclusivos. Recebo diariamente um amor que originalmente não era para mim, mas que se encontrou comigo no meio da estrada e despertou em mim a possibilidade de resignificar os planos e reconstruir a minha própria história. Com a Carol, minha enteada, eu aprendo diariamente que é possível ser mais mesmo quando a vida te diz que é menos.

Para as mães que passarem por aqui, qualquer dia desta semana, que a sua espera sempre valha a pena, porque nela dorme o nosso futuro e que a gente sempre esteja pronta para o amanhã. Que o infinito deste amor lhe seja leve e feliz...

Com amor,

Luisa

4 comentários:

  1. Lindo post, Luisa. Ainda não sou mãe, mas meu relógio interno me cobra constantemente. Um vazio me questiona e me chama para cumprir esse papel; eu creio que esse dia vai chegar na hora certa.
    Sábias palavras. Lindas colocações. Imaginei cada momento narrado por você. O exame... o pré-natal, os longos dias de espera.
    Confesso... chorei.
    Parabéns!

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  2. Que lindo, Lu!!!! Eu me descobri grávida um mês depois de vc e no meu caso veio escrito positivo. :) Depois que a gente se torna mãe, tem mais uma coisa que muda: fica manteiga derretida, mais emotiva, mais chorona mesmo...É porque a gente vê e sente o mundo de um jeito muito diferente, né? Beijão e parabéns pelo seu dia e por ser essa mãezona que vc, de um menino mt lindo e de uma enteada mt fofa!

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  3. Amorzin, você é a futura mãe de meus filhotes.
    Amo incondicionalmente!

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  4. que lindo, Lú!!!
    vc sabe usar as palavras que é uma beleza!!
    bjks

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