Neste tempo louco em que nós vivemos, em que o relógio parece ser um ascendente corredor de maratona, é mais difícil dar significado a cada momento vivido e o piloto automático é acionado a cada hora. No final de ano, esta percepção para mim fica mais contundente. Aquele cartão de Natal que eu escrevia à mão para as pessoas queridas precisou ser substituído por uma mensagem, um email, um carinho mais distante. Não dá tempo de trocar a embalagem padrão por um laço diferente. Nem todos os amigos queridos serão devidamente abraçados, mesmo aqueles que moram no bairro vizinho. Como diz uma amiga, "haja hoje para tanto ontem".
Foi com este sentimento de que me falta tempo para o que mais gosto e para quem mais gosto que comecei as compras de Natal na véspera da véspera da festa mais linda e mais significativa do ano. Procurei lá nas prateleiras com seus preços exorbitantes um bocadinho de carinho, de delicadeza, de ternura, de compaixão, de milagre, mas impossível achar. E a frustração quase tomou conta de mim, porque além dos meus desejos, ainda deveria atender ao pequeno lá de casa, que este ano não conseguiu registrar seus pedidos.
Primeiro porque queria um novo videogame, fora do orçamento do Papai Noel, se segundo porque gostaria de uma arma de brinquedo, fora das crenças maternas. Na loja de brinquedos, cheguei a tatear a tal arma pensando nos paradoxos da minha decisão, se eu deveria ceder, se isso mudaria algo para ele, mas... por algum motivo, meu coração me disse que mesmo ele tendo contato com outras formas de violência em filmes, desenhos e jogos de videogame, ou mesmo nas brincadeiras que imagina, eu ainda devo reforçar alguns valores.
Foi assim que sai da loja com o Gogoball debaixo do braço e uma bola brilhante debaixo do outro. O brinquedo de pular é uma singela homenagem à minha própria infância que teve um desses brinquedos amarelo e azul que me fizeram pular até criar calos nos pés. Mas o que fez sucesso mesmo foi a bola brilhante, a mais simples e linda do mundo, e o fato do Papai Noel ter chegado tão cedo, pé ante pé, sem fazer barulho e acendendo as luzes da árvore e da esperança dentro de nós.
A exclamação de um ó, vindo da sala de casa, me trouxe a certeza de que pode ser simples, muito mais simples do que queremos. O presente não se faz presente nas caixas empilhadas embaixo da árvore, mas na escolha de quem presenteia, na delicadeza de quem suspira diante da novidade, no abraço apertado e fraterno de quem se ama, no telefonema de agradecimento, no perdão que pedimos ao Pai naquela e em todas as noites.
E foi assim que vivi este Natal, ao lado dos muitos que amo, sentindo falta mais do que sempre dos que estão distantes, rezando pelos meus e celebrando a presença do divino na vida da minha família. Foi uma noite tranquila, de celebração, em especial, aqui dentro. Para finalizar um ciclo de vida, ganhei o melhor dos presentes na manhã do dia 25. Tomás com seus oito anos recém-completos me deu um beijo na manhã de Natal e disse:
- Obrigado!
A gratidão é o presente que devemos a nós mesmos e aos nossos pelos dias que vivemos juntos, pelo pão e pela vida compartilhada, pelos erros corrigidos e perdoados, pelas palavras de consolo e ânimo, pelo amor devotado aos que estão do nosso lado... Que este sentimento ultrapasse a data do Natal sempre!
Amando a humanidade
-
Acho que ser homem, pai, marido, adulto do sexo masculino já foi mais
fácil, mas não tinha graça. Confinados em seus clubes, escritórios, saunas,
bordéis,...
Há 9 anos
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