terça-feira, 10 de novembro de 2009

O primeiro amor


- Existe idade para o amor?


- Não, Tomás. Não existe idade para o amor. Existe idade para o namoro, para o casamento. Para isso, existe idade. Idade mínima.

Este é o assunto do momento lá em casa. O pequeno nutre um sentimento muito forte por uma colega de sala da mesma idade, que é, segundo ele, sua "alma gêmea". Os dois nasceram no mesmo dia, na mesma hora e no mesmo local. E, por estes acasos do destino, foram parar na mesma sala e na mesma escola há três anos. De lá para cá, uma amizade cultivada com muito carinho e uma grande afinidade entre ambos tem sido motivo de muita conversa.

O fato é que, em um dos recreios, as duas criaturas de cinco anos resolveram fazer um pacto e prometeram um para o outro que se casariam, quando adultos. O casamento prometido, para o meu filho, se tornou motivo de planos. A casa que iria construir, a lua-de-mel que iria passar em Paris (!?), os muitos filhos que teria... Eu ria sempre e falava com ele que era muito cedo para pensar nestas coisas. A resposta dele não era lá muito educada:

- Eu não tenho culpa se você não casou.

Tá certo, eu não casei. Mas também fiz planos, filho, só que maior. Aos cinco anos, eu lembro da chegada da minha irmã em casa, de pular uma janela para fugir e brincar, de mudar de casa, do Sítio do Pica-Pau Amarelo e das visitas da minha madrinha. Só... Não me lembro de nenhum amor.

Mas, para o Tomás, que confessou seu amor e fez compromissos futuros, isso não é algo que deva ser guardado em diário ou bilhetes anônimos. E deve ser sacramentado e levado muito à sério. Eis que, ainda no auge do seu amor, a amiga desfaz o compromisso. Foram três dias de muito jogo de cintura em casa. O menino fervilhava de raiva, de angústia, como um adulto após um "fora". E eu estava ficando pirada com aquilo, mesmo que os especialistas digam que isso é normal, que o namoro entre crianças é apenas uma reprodução e que a gente deve dar pouca atenção ao assunto. Só que na prática o discurso não ia nada bem, nada convencia o Tomás a
não dar importância.
- Mãe, mas ela prometeu.

- Filho, não dá para você saber com quem irá se casar. Dá para você saber apenas quem vai ser seu amigo no futuro. Porque as amizades começam a ser construídas agora.

- Mãe, mas ela não quer nem me ouvir.

Isso ele disse com lágrimas nos olhos. Eu encerrei meu discurso e, no dia seguinte, falei com a professora. Pedi intervenção, porque o caso tinha se tornado motivo de "zoação" no intervalo. Pedi para ela conversar, explicar que era tudo muito cedo. No mesmo dia, chego para buscá-lo e lá está o menino, feliz. A professora me diz que resolveu, conversou. Eu, depois de tantas tentativas sem sucesso, fico me sentindo fracassada, mas não quis perguntar como ela tinha conseguido a proeza. O fato é que os amigos tinhas feito as pazes e o problema estava sanado.

Naquele mesmo dia, chego em casa e ele abre a pasta. Sai de dentro dela um desenho, feito pela amiga. Não sei qual foi o recado, a orientação da professora, mas que as pazes não foram feitas por causa disso, não foram mesmo...

4 comentários:

  1. Não acredito! Foi assim mesmo? Tá desse jeito? Meu-Deus-do-céus! Como o Tomás é intenso, né, Lú?

    ResponderExcluir
  2. Gente, esse Tomás vai ser um namorado e tanto! Posso inscrever a Lara na fila dele? kkkk
    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Igualzinha à Luísa. Ela também se apaixona, tadinha. Mas aí aconteceu o seguinte: ficou um semestre apaixonada no menino e ele nem aí pra ela. E eu, no mesmo discurso seu. Daí, no dia do recital do Mágico de Oz, ela era a Dorothy e, ele, um dos mágicos. Como era a "estrela" do espetáculo,Luísa estava muito inflamadinha e ele, coitado, rodeando ela daqui e dali, pedindo para os pais tirarem fotos dos dois, e ela fugindo, fugindo. Quando entramos no carro, perguntei: "ué, esnobando o Hugo?". Resposta: "Ah, cansei de sofrer. Eu preciso me dar valor". Pode? 5 anos,pode? Estou aterrorizada.

    ResponderExcluir
  4. Ai, ai, essas idas e vindas da mente feminina... vai acostumando, Tomás!

    ResponderExcluir