terça-feira, 24 de novembro de 2009

Querido Papai Noel...


O Papai Noel já está recebendo cartas e mais cartas no Pólo Norte, enquanto o Tomás ainda pensa no presente que vai pedir ao bom velhinho este ano. A dúvida se instalou por causa da enorme oferta apresentada a ele pela televisão, pelos colegas, pelos folderes distribuídos nas ruas e também porque o aniversário dele é no próximo mês, o dia das crianças foi no mês passado e ele tem brinquedos mais do que suficiente. Na última doação, conseguimos encher fácil uma caixa com miniaturas, jogos e carros que já não faziam mais a alegria do menino.


Enquanto ele ensaia escrever ao Papai Noel sobre suas predileções, eu ensaio mudar um pouco o tom do Natal deste ano. Ele não sabe se quer o videogame de última geração ou a coleção de filmes do Sítio do Pica-Pau Amarelo. A dúvida ainda inclui uma pista cheia de “curvas iradas, rampas maneiras e velocidade animal da Hot Wheels, mamãe, vai encarar?”. Eu ensaio desligar a televisão mais cedo todos os dias, escrever para o Papai Noel trazer uma boa surpresa e viver com menos, bem menos.

Diante dos muitos catálogos de brinquedos, fora o videogame que é caro e eu não estou certa que este Natal contemplará, eu não vejo nada, nada mesmo, que seja um desejo indubitável, uma surpresa unânime, uma daquelas alegrias incomparáveis. Eu queria que ele fosse capaz de sentir o que eu senti quando, aos 8 anos, minha mãe me deu uma bicicleta Caloi azul. Ela era linda, sem defeitos, brilhante e causou alvoroço na minha casa. Eu quase dormi abraçada com ela e, depois que aprendi a andar, perdi três tampos de joelho, participei de muitas corridas e andei de todas as formas que eu conseguia. Está na lista dos meus melhores presentes.

O Tomás já ganhou brinquedos lindos, divertidos e encantadores. Sempre abre os pacotes com ar de surpresa e de realização. Mas o problema é que, diante da quantidade, a realização dura pouco e ele sempre está com as pequeninas mãos abertas e esperando algo cair do céu. Sei que a época de hoje é bem mais fácil do que a décadas atrás. A estabilidade econômica do País permite aos pais muito mais mimos do que tínhamos. Para se ter uma ideia, minha Caloi veio de São Paulo, de ônibus, encomendada a um amigo. Na época, as diferenças de preço eram enormes. Hoje, com as grandes redes e a internet, não faz tanta diferença assim. Fora que os brinquedos são bem mais baratos e acessíveis, inteligentes e sedutores e não há um adulto que não fique pasmo e encantado em uma loja de brinquedo.

O problema é que temos que dar um destino a tudo isso, aos muitos brinquedos, à pobreza que ainda assola outras crianças, à inutilidade de alguns objetos (o que fazer, depois de dois segundos, com a décima nona boneca), à falta de tempo para curtir tantos brinquedos. Isso tem me subtraído e não quero ficar com a cabeça branca como o Papai Noel. O Tomás e muitas outras crianças precisam aprender a consumir menos e somos nós os instrumentos. O primeiro passo é ouvir “não”. E, para isso, temos que fazer vários exercícios. Lá em casa são ditos muitos “nãos”, mas que caem por vezes no vazio. São três casas, três regras e apelos incansáveis. Todos os anos ele vai, pelo menos, em três festas de Natal. Mesmo assim, eu não posso desanimar. Tenho que reduzir a carta do Papai Noel, dar a chance do Tomás ter um brilho no olhar como eu tive aos 8 anos e viver sem me condicionar tanto ao que é dito na televisão.

Vejam este vídeo sobre consumismo infantil e pasmem com o que os pequenos andam saboreando nas horas vagas: http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

5 comentários:

  1. Lu, acho mesmo que hoje as crianças não dão tanto valor qt a gente aos presentes e que elas logo se cansam do que ganham, né? Mas é engraçado...Vc aí falando do seu filho e eu pensando em algo que o Pablo possa não apenas gostar, mas amar, querer dormir junto...Só que depois de um tempo a gente fica sem ideias, né? kkk

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  2. Queria tanto dar conta de fazer a criança lá de casa ver de forma diferente essas datas... mas ôh coisa difícil!

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  3. Acho que é isso que tenho procurado há uns três anos e vc explicou brilhantemente: ver Luísa completamente alucinada, vidrada, num único brinquedo, no dia do Natal e nos que se seguem. Não dá, nunca dá, pq são sempre tantos os brinquedos que, segundos depois, como vc diz, ela espera que algo novo caia do céu. Dai me pergunto: será que nossos filhos vão crescer esperando que as coisas caiam facilmente do céu? Vc tem razão, nós, pais, é que temos de dar a virada, para o bem deles.

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  4. Luísa,
    Minha primeira bicicleta também me alucinou... e, como a sua, era uma Caloi azul (foi escolhida pelo meu pai) e chegou num caminhão... aff, até hoje sinto o cheiro dela. Mas, tem razão... hoje em dia, não existe mais nada que surpreenda tanto assim a molecada. Beijos

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