Não sei se foi assim com vocês, mas comigo foi. O meu maior medo, na vida colegial, era uma visita à diretoria. Mesmo sem ser a primeira da turma e ter uma leve tendência a sentar no fundo, só de pensar, sempre temi. Nunca soube, por isso, o que exatamente acontecia na sala da diretora quando criança. Já com 12 anos visitei com minha mãe o coordenador de matemática da escola e também meu professor de geometria. Muito educadamente, ele informou o motivo pelo qual eu tinha zerado uma prova do tema. O caderno da matéria não estava devidamente preenchido, o que me rendeu aulas extras com minha mãe (professora de matemática em tempos remotos), castigo suficiente para eu continuar acreditando que era melhor nunca ser mandada para a diretoria, em hipótese alguma.
Agora, que o tempo passou e as concepções sobre educação mudaram e muito, eu precisarei urgente de uma adaptação. Provavelmente, em alguma sessão de terapia, vou ter que me convencer que visitar a diretora não é lá algo tão ruim. Não. Não vou voltar para o banco da escola por enquanto. Mas freqüento uma escola diariamente e, com certeza, vou visitar a diretora, a coordenadora, a professora muitas vezes. Em um mês de aula, o Tomás foi conversar com a coordenadora duas vezes, perdeu três dias de recreio e teve um brinquedo confiscado por dois dias.
Diante dos dados, e preocupada com a vocação do pequeno em se meter em encrencas, conversei com ele sobre os fatos (relatados com distração pelo mesmo) e pedi que se controlasse para não ser mais enviado na coordenação:
- Filho, escola é para estudar. Deixe as conversas para depois. E recreio é para brincar, nada de brigas. Pelo amor de Deus, não visite novamente a coordenadora, não passe nem perto da sala dela. Eu fico morta de vergonha de você ser mandado para lá.
- Tá bom, mãe! Eu vou ficar mais elegante, mas eu não posso nem trocar uma ideia com a Leda? Ela é tão legal...
A minha vontade era falar que não, não é para trocar nenhuma ideia, era para ele ter medo, muito medo da coordenadora. Mas este era o meu tempo (e olha que uma escola montessoriana não privilegia muito a figura da autoridade). No tempo do Tomás, ele pode confiar nas pessoas, discutir seus problemas abertamente com qualquer adulto e encontrar soluções para eles sem a intermediação de uma mãe palpiteira de plantão.
Antes de chegar a esta conclusão, paguei o mico e fui à coordenadora sem ser convidada em um momento de pânico total. Diferente da minha mãe, convocada para tal tarefa, me ofereci para receber uma explicação sobre a real dimensão do problema. No que recebi a seguinte e reconfortante resposta:
- Luisa, calma... Ainda nem começou. Os meninos, nesta fase, estão marcando território. Pior era se ele estivesse envolvido em fofoca. Dê tempo ao tempo e confie.
Tempo ao tempo, logo eu, que não dou tempo para nada. Desconfio que era isso que eu devia ter aprendido nas tarefas de geometria e não aprendi. Talvez se tivessem me enviado para a diretora...