terça-feira, 1 de junho de 2010

Por eles, somos responsáveis

Se tem algo no mundo pelo qual somos responsáveis é o amor de uma criança. Deveria ser lei, mas não é. Deveria ser de praxe, mas não é. Deveria ser natural, mas... Peraí! Não natural é não retribuir o amor de pequenos seres humanos. Até os bichos compreendem isso e não coisa de filminho da Disney.


Me dói pensar em qualquer tipo de indiferença ao sentimento de uma pessoa com menos de 12 anos. Os com mais de 12 anos já tem um pouco de couro e dão conta de se defender. Me solidarizo com eles, mas sei que a maioria dá conta do recado.

Agora não acho justo, nem plausível, explicar para uma criança que quem deveria amá-la, protegê-la, admirá-la, não está nem aí. Mas, muitas vezes, me deparei com esta situação. Muitas vezes ouvi esta história, muitas vezes fiz parte desta história.

Não estou aqui falando daqueles momentos em que os filhos, se sentindo injustiçados, pensam que não são amados pelos seus pais. Não estou aqui falando daqueles momentos de discordância, que aos 10 anos parecem o final do mundo, e nos deixam arrasados e nos sentindo péssimos.

Estou falando de um telefone que não toca, de um email que não se responde, de um encontro que não acontece, de um pedido que não é aceito, de um amor que não é respeitado. Estou falando de uma criança pequena, com olhos marejados, com coração partido, com sonhos desfeitos. Estou falando deste mundo, que abriga pessoas cruéis, que convive com injustiças, que traduz incoerências mil.

Nós, pessoas crescidas, estamos prontas para a defesa quando somos atacadas. Sofremos, amargamos, gritamos, mas resolvemos de qualquer jeito. Mas uma criança com poucos anos de vida não sabe o que fazer e normalmente se encolhe diante da crueldade do adulto.

Estou falando de pais e mães, que não vivem mais ou nunca viveram com os seus filhos, mas que são eternamente responsáveis por eles, mas lhe negam o básico: o afeto e o respeito. A situação hipotética remete aos pais que estão fora de casa, mas é fato que isso ocorra também com quem vive junto. Muitos deles, para negociar com suas próprias consciências, fazem cena e acreditam mesmo que os seus filhos não compreendam. Crianças não são burras. Nunca subestimem a inteligência delas. Para cada passo que a gente dá, uma interpretação é feita. Muitas vezes, com seus olhos de lince, elas vêem mais que a gente.

O monólogo que se segue me surpreendeu em uma manhã cinza.

- Eu sei bem mais do que você imagina. Eu conheço as pessoas. E eu sei quando elas gostam ou não de mim. Você está me ouvindo, mãe?


- Ahan.


- Mãe, sabia que tem gente que ama uma pessoa e não ama a outra? Sabia que eu não acho isso certo? Na verdade, mãe, eu acho isso bem chato, bem feio.

Não tenho consolo em legislações que teoricamente dão conta deste problema. Ele é maior que a lei.

Um comentário:

  1. O fato de, pra mim, também não haver consolo quando se fala de "negar" o amor, o afeto, o respeito, me leva a ter tanta descrença com as previsões e as migalhas impostas pela lei. No fundo, elas de nada adiantam. Mas serão delas que vou me servir. Pelo menos, por enquanto.

    Eu imagino que você tenha escrito esse texto pensando em muitas gentes que você conheceu no seu caminho. E eu quero agradecer por tê-lo feito.

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