Campeonato mundial de futebol na televisão das 8h30 às 17h15, quando acaba o último jogo. Jogos internos de segunda à sexta na escola, onde ele deve comparecer com sua camiseta roxa e um espírito para lá de esportivo. Campeonato familiar em frente ao play station, em seus primeiros passos, no comando de um videogame.
Em frente à televisão estão ruidosos torcedores, que tomam partido dos times que lhe convêm no sentido de ver um Brasil hexacampeão. O acúmulo de 6 títulos para o mesmo País não parece nada injusto diante de uma trajetória tão brilhante no futebol. Os comentaristas, vez ou outra, incitam a competição e mostram para qual o partido os torcedores devem se aliar. Ai de quem em terras brasileiras torcer para o futebol argentino. O técnico do nosso time é execrado por muitos com palavrões nada elegantes e usa dos mesmos para se defender.
Na escola, as filas de alunos na hora do hino vestem camisetas de cores diferentes, a entrega da medalha em um sábado anunciado é motivo de grande expectativa, na ponta da língua alunos maiores e menores guardam jingles sobre suas potências esportivas e dentro da mochila um manual esquecido fala de boas regras durante os jogos internos.
Então, naquele clima aguerrido de competição, ele me diz:
- Mãe, se alguém do outro time ficar me zoando, daí eu posso zoar dele, né?
- Filho, não pense assim. Você precisa participar respeitando o seu adversário.
- Mas e se ele não me respeitar, se ele me chamar de perdedor?
- Você deve sempre mostrar para ele que o respeito é importante, que vocês estão competindo em um amistoso e que todos são importantes.
- Mãe, importantes são aqueles que vão ganhar e se eu não ganhar...
O festival de “e se” continuou até que resolvi pegar o manual interno dos jogos. Leio as regras pausadamente até que chego a esta pérola. “Ninguém é perdedor antes dos jogos começarem”.
- Tá vendo, mãe? Depois que os jogos começarem, alguém vai chamar alguém de perdedor? Nessa hora, eu posso, né?
Espírito coletivo, respeito, solidariedade, harmonia e admiração são valores ligados aos esportes, mas bem menores do que o sabor da vitória. Lidar com isso em um mundo tão competitivo é um desafio para pais, educadores e filhos. Queremos ganhar, mas a que preço?
E o esporte acaba ensinando o contrário do que deveria ensinar: o legal não é ter vencedor nem perdedor, é poder jogar porque há um time do outro lado. Luisa e o pior de tudo é essa campanha ridículo dos "guerreiros" da seleção.
ResponderExcluirai lú, nunca tinha refletido desse maneira! vc falou com uma sutileza e sensibilidade....
ResponderExcluiré quando eu digo: pra tudo na vida, depende de que lado você está olhando! depende do ponto de vista!!
pena que a competitividade nos invade tão cedo, né?
bjks