segunda-feira, 21 de junho de 2010

Um bom competidor



Como garantir que, aos 6 anos, seu filho irá entender quais são as regras que podem mantê-lo íntegro diante da prática esportiva? Esta foi a pergunta dos últimos dias lá em casa.

Campeonato mundial de futebol na televisão das 8h30 às 17h15, quando acaba o último jogo. Jogos internos de segunda à sexta na escola, onde ele deve comparecer com sua camiseta roxa e um espírito para lá de esportivo. Campeonato familiar em frente ao play station, em seus primeiros passos, no comando de um videogame.

Em frente à televisão estão ruidosos torcedores, que tomam partido dos times que lhe convêm no sentido de ver um Brasil hexacampeão. O acúmulo de 6 títulos para o mesmo País não parece nada injusto diante de uma trajetória tão brilhante no futebol. Os comentaristas, vez ou outra, incitam a competição e mostram para qual o partido os torcedores devem se aliar. Ai de quem em terras brasileiras torcer para o futebol argentino. O técnico do nosso time é execrado por muitos com palavrões nada elegantes e usa dos mesmos para se defender.

Na escola, as filas de alunos na hora do hino vestem camisetas de cores diferentes, a entrega da medalha em um sábado anunciado é motivo de grande expectativa, na ponta da língua alunos maiores e menores guardam jingles sobre suas potências esportivas e dentro da mochila um manual esquecido fala de boas regras durante os jogos internos.

Então, naquele clima aguerrido de competição, ele me diz:

- Mãe, se alguém do outro time ficar me zoando, daí eu posso zoar dele, né?

- Filho, não pense assim. Você precisa participar respeitando o seu adversário.

- Mas e se ele não me respeitar, se ele me chamar de perdedor?

- Você deve sempre mostrar para ele que o respeito é importante, que vocês estão competindo em um amistoso e que todos são importantes.

- Mãe, importantes são aqueles que vão ganhar e se eu não ganhar...

O festival de “e se” continuou até que resolvi pegar o manual interno dos jogos. Leio as regras pausadamente até que chego a esta pérola. “Ninguém é perdedor antes dos jogos começarem”.

- Tá vendo, mãe? Depois que os jogos começarem, alguém vai chamar alguém de perdedor? Nessa hora, eu posso, né?

Espírito coletivo, respeito, solidariedade, harmonia e admiração são valores ligados aos esportes, mas bem menores do que o sabor da vitória. Lidar com isso em um mundo tão competitivo é um desafio para pais, educadores e filhos. Queremos ganhar, mas a que preço?

2 comentários:

  1. E o esporte acaba ensinando o contrário do que deveria ensinar: o legal não é ter vencedor nem perdedor, é poder jogar porque há um time do outro lado. Luisa e o pior de tudo é essa campanha ridículo dos "guerreiros" da seleção.

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  2. ai lú, nunca tinha refletido desse maneira! vc falou com uma sutileza e sensibilidade....
    é quando eu digo: pra tudo na vida, depende de que lado você está olhando! depende do ponto de vista!!
    pena que a competitividade nos invade tão cedo, né?

    bjks

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