quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Nova escola




Não sei se foi assim com vocês, mas comigo foi. O meu maior medo, na vida colegial, era uma visita à diretoria. Mesmo sem ser a primeira da turma e ter uma leve tendência a sentar no fundo, só de pensar, sempre temi. Nunca soube, por isso, o que exatamente acontecia na sala da diretora quando criança. Já com 12 anos visitei com minha mãe o coordenador de matemática da escola e também meu professor de geometria. Muito educadamente, ele informou o motivo pelo qual eu tinha zerado uma prova do tema. O caderno da matéria não estava devidamente preenchido, o que me rendeu aulas extras com minha mãe (professora de matemática em tempos remotos), castigo suficiente para eu continuar acreditando que era melhor nunca ser mandada para a diretoria, em hipótese alguma.



Agora, que o tempo passou e as concepções sobre educação mudaram e muito, eu precisarei urgente de uma adaptação. Provavelmente, em alguma sessão de terapia, vou ter que me convencer que visitar a diretora não é lá algo tão ruim. Não. Não vou voltar para o banco da escola por enquanto. Mas freqüento uma escola diariamente e, com certeza, vou visitar a diretora, a coordenadora, a professora muitas vezes. Em um mês de aula, o Tomás foi conversar com a coordenadora duas vezes, perdeu três dias de recreio e teve um brinquedo confiscado por dois dias.

Diante dos dados, e preocupada com a vocação do pequeno em se meter em encrencas, conversei com ele sobre os fatos (relatados com distração pelo mesmo) e pedi que se controlasse para não ser mais enviado na coordenação:



- Filho, escola é para estudar. Deixe as conversas para depois. E recreio é para brincar, nada de brigas. Pelo amor de Deus, não visite novamente a coordenadora, não passe nem perto da sala dela. Eu fico morta de vergonha de você ser mandado para lá.



- Tá bom, mãe! Eu vou ficar mais elegante, mas eu não posso nem trocar uma ideia com a Leda? Ela é tão legal...


A minha vontade era falar que não, não é para trocar nenhuma ideia, era para ele ter medo, muito medo da coordenadora. Mas este era o meu tempo (e olha que uma escola montessoriana não privilegia muito a figura da autoridade). No tempo do Tomás, ele pode confiar nas pessoas, discutir seus problemas abertamente com qualquer adulto e encontrar soluções para eles sem a intermediação de uma mãe palpiteira de plantão.



Antes de chegar a esta conclusão, paguei o mico e fui à coordenadora sem ser convidada em um momento de pânico total. Diferente da minha mãe, convocada para tal tarefa, me ofereci para receber uma explicação sobre a real dimensão do problema. No que recebi a seguinte e reconfortante resposta:



- Luisa, calma... Ainda nem começou. Os meninos, nesta fase, estão marcando território. Pior era se ele estivesse envolvido em fofoca. Dê tempo ao tempo e confie.



Tempo ao tempo, logo eu, que não dou tempo para nada. Desconfio que era isso que eu devia ter aprendido nas tarefas de geometria e não aprendi. Talvez se tivessem me enviado para a diretora...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Explicando a saudade

Saudade é um lugar que a gente visita, mas não tem movimento...

É parado no tempo, com cheiro e som de sonho.

É bonito de se ver, mas é triste de se sentir.

Porque saudade é o que nos explica a sensação de não pertencer.

Mesmo que você insista, que você peça, que você ore, não dá para voltar para o lugar de onde se foi.

E quando você tenta se encaixar pela última vez, apenas para se consolar,
percebe que cresceu, que passou, que sobrou.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Altas aventuras

Na minha saga para percorrer a lista de indicados ao Oscar de melhor filme em 2010, lá fui eu sentar-me ao lado do Tomás para assistir “Up – Altas Aventuras”, que por um destes erros de cálculo, ficou fora da nossa programação de 2009. E me deu uma pontinha de arrependimento por não ter visto aquela profusão de cores na telona. A Pixar conseguiu, depois do meu filme de cabeceira Wall-E, fazer um longa ainda mais lindo, ainda mais comovente. E eu, que esperava algo um pouco melancólico, me apaixonei por Carl Fredricksen, com seus 78 anos, e sua linda história de amor com Ellie.

Com a sala invadida pelo sol, foi difícil esconder as lágrimas caindo ao conhecer os sonhos de o viúvo aposentado foi deixando pelo caminho, mas também ecoou na sala as risadas do meu pequeno intrépido se encantando com as tentativas desastrosas de Russel em busca da sua última medalha de escoteiro. Ao final do filme, eu fiz o que a mãe de um amigo costumava fazer conosco na infância para ver se tinha restado algo da sessão cinematográfica tão rara e perguntei o que ele achou. Naquela época, filme de criança era mesmo de criança e nem tudo tinha um sentido tão amplo como agora.


- Achei “maneiro”, mãe... Eu queria ser escoteiro que nem aquele menino.

- Eu também gostei. Um filme sobre uma amizade, sobre um sonho.

- Não, mãe. Não é um filme sobre uma amizade. É um filme sobre várias amizades, porque ali ninguém deixa ninguém para trás. E quando a gente é amigo de verdade, nunca deixa o outro para trás, né? Nem que para isso tenha que sair voando amarrado em balões coloridos.

Bem longe dos robôs gigantes e assassinos, dos piratas aventureiros e dissimulados ou ainda de um menino mágico capaz de fazer tudo o que não fazemos, Up fala do que podemos fazer todos os dias uns pelos outros. Fala sobre reencontros com sonhos do passado, sobre o que realmente queríamos fazer, sobre o que somos.

Em uma das críticas que li na época do seu lançamento, a obra foi comparada ao trabalho do mestre Orson Welles em Cidadão Kane. "Eu não acredito que palavra alguma possa explicar a vida de um homem”. A máxima de Welles ganha vida com Carl Fredricksen em um filme bem mais colorido e digerível feito por adultos para encantar crianças e adultos. Está na minha lista de favoritos e ameaça desbancar a minha torcida tímida por Bastardos Inglórios até a próxima sessão.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

No baile...



" No carnaval


Todo mundo pode

Todo mundo pode

Todo mundo pode

Pode tudo



Pode preto

Pode branco

Pode verde

Com bolinha roxa



Pode rico

Pode pobre

Pode nobre

Pula pular e beijar

Na boca"


Adriana Calcanhoto canta e a gente tenta se divertir em terra onde o Carnaval beira a um velório triste... Quem sabe em algum lugar, um samba bom, um chorinho, um desejo maior de se divertir seja suficiente para colorir uma cidade sem tradição de foliã.
Quem sabe você não sabe...

Bom Carnaval!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Criança não trabalha...



Quem tem criança em casa, sabe o quanto é difícil explicar alguns dos códigos do nosso mundo, entre eles o dinheiro. Quanto mais a gente explica, mais a gente vê que inventamos algo muito complicado e cujo valor excede a normalidade. É a falta dele que justifica a não realização de certos compromissos, é o cuidado com ele que faz com que a gente cuide dos objetos pessoais e assim vai...


E junto com o dinheiro vem o banco, o cartão de débito, o cartão de crédito, o caixa eletrônico (aquela máquina, mãe, de onde você tira o dinheiro) e o cheque, o cheque, aquele pedaço de papel que a gente assina e, imediatamente após, se transforma em grana ou pelo menos na sombra dela.

Eis que o meu pequeno, ávido por ter o seu primeiro milhão antes dos dez anos se possível, em uma volta pela cidade, fala para a avó:


- Como faço para ter um cheque?

- Um cheque? Tem que ter conta no banco, meu filho.

- Eu tenho. Você pode pegar um cheque para mim?

- Não. Você tem que ter dinheiro na conta.

- Meu pai coloca dinheiro lá para mim.

- Mesmo assim, nem todo mundo que tem conta no banco e dinheiro, tem cheque. Eu tenho, mas a sua mãe não tem.

- Tudo bem. Ela pode não ter, mas eu quero ter.

- Mas não é assim, meu querido. Você tem que trabalhar.

- Ah, vó. Assim tá difícil, criança não trabalha.



É, como diz a música do Arnaldo Antunes, nas vozes do Palavra Cantada, “criança não trabalha, criança dá trabalho”. O Tomás queria um cheque, “aquele papel que vira dinheiro”, para comprar umas “coisinhas” na banca de revista. Quando eu reforcei a explicação da avó e disse que só após os 18 anos, ele poderia ter um cheque, ele disse em tom de frustração:


- Depois dos 18 anos, eu não vou mais querer um cheque para ir na banca de revista. Não vai ter graça nenhuma!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O que é, afinal, ter um menino?


Nunca pensei em ser mãe de menino. Nos meus sonhos românticos (cof!cof!) de adolescência, me imaginava mãe de menina. Quando empolgada, imaginava logo três meninas. Tinha nome para todas elas. Mas quando me descobri grávida, tive a certeza que sentem algumas mães que lá viria um menino. E veio... Veio um menino nato, daqueles que passaria fácil em um teste de verificação da espécie, a não ser pelo gesso (que benza, Deus!), ele ainda não usou.
Na saída da aula, quando estou jogando conversa fora com as mães de meninas, me dou conta do tanto que é diferente. Enquanto as meninas estão lá, sentadinhas brincando com suas bonecas, fazendo casinhas imaginárias (com raras e interessantes exceções), os meninos estão desbravando o pátio, criando estratégias de guerra e fazendo os cabelos maternos ficarem arrepiados.
Na sexta passada, pensando nestas diferenças que tanto nos assombram, me deparei com o texto da blogueira Laély Fonseca (do excelente Blog Sala da Lá). Me diverti com as semelhanças e com a ameça de um futuro ainda mais promissor de mãe de menino. Com a devida autorização da autora, a quem eu sigo por causa das ótimas dicas de decoração e por causa do meu outro blog (http:albunsartesanais.blogspot.com), segue o texto:
xxxxx

Alguém aí, sabe o que é ter um menino? Bem, disso não sei muito bem. Posso falar apenas da experiência de ser mãe, de 3!


Para quem ainda não sabe, darei uma aulinha express no melhor estilo retrô, lembrando aquele casalzinho pelado do "Amar é":

"Ter um menino é"...

-Abdicar das sua soneca vespertina, porque eles não perdem tempo dormindo;

-Ser chamada a toda hora, pelos motivos mais comezinhos possíveis!

-Ter disposição de procurar coisas perdidas para eles, mesmo que estejam, obviamente, debaixo de suas ventas!

-Saber que eles obedecem naturalmente à uma regra intrínseca: "são os últimos a chegar para o almoço e os primeiros a sair!" ( 'Guente firme e não se renda a esta "regra"!)

-Assistir toda a saga Stars Wars com eles, sem direito à cochilos pelo meio, mesmo que prefira um "filme de mulherzinha" ( Que: bááa! Eles não se prestam a esse "serviço"!) .

-Conviver com dois sentimentos contraditórios: quando pequenos, você deseja que eles desgrudem um pouco e sejam mais independentes, quando maiores, não entende porque não aceitam um carinho em público!

-Aprender, depois de um tempo: compras indispensáveis( tipo, assim: sapatos, roupas...), salão de beleza e...meninos, são incompatíveis!

-Se não quiser ouvir críticas ao seu visual fashion, não lhes peça opinião, principalmente, se estiver lidando com adolescentes! ( Acredite: pode ser danoso à sua auto-estima!)

-Nunca saber que número exato de sapato eles estão calçando: pés de menino estão sempre em fase de crescimento!

-Achar que você diminuindo, quando está no meio deles;

-Ouvir heavy metal a viagem toda, mesmo que você odeie o estilo! ( Como indenização por danos auditivos e psicológiocos, na volta pra casa, o cd player do carro é todo seu: e, só MPB!)

-Depois dos 10 anos, advinhar o gosto deles é complicado: você achou aquela camisa "super linda", mas ele pode considerá-la "super brega"!

-Um mistéério...Por que, todas as calças do mais novo, insistem em abrir um rombo, exatamente sempre na altura do joelho D?...

-Conformar-se: se você acha que já tem menino demais em casa, os "apêndices" virão. Menino, chama menino! A casa estará sempre cheia de colegas, que adoram fazer um "lanchinho" no meio da tarde! ( Não reclame disso: é melhor mantê-los sob as suas vistas, do que longe delas...)

-Fazer você rodar todas as bancas de revista, à procura de figurinhas de Pokémon;

-Aprender a falar Pokemonês ( desta tarefa, eu já estou livre! A febre passou...)

-Estar pronta a responder as perguntas mais complicadas possíveis, tipo: "por que os políticos são corruptos?"

-Conforme o tempo passa, o comprimento do cabelo deles poderá ser inversamente proporcional ao seu. Acostume-se a dividir o secador de cabelo com eles.

-Quando receber deles uma ordem para desligar o PC e ir dormir, não discuta! Obedeça.

-Preparar-se pra chorar junto, quando as primeiras rejeições acontecerem;

-Estufar o peito de orgulho, dizendo pra si: "saiu de mim, esta criatura!"...

To be continued...( Acrescentem aí, as experiências com os seus meninos)

Há um texto interessante de Alan Beck, tentando descrever o que é um menino.

Eu, ainda estou aprendendo. Meu sogro, tão sábio, costumava dizer: "Laély, você não sabe o que é um menino!" e em seguida, dava uma risada, como se prenunciasse meus "aperreios" como mãe de 3...

Para o meu caçula, completar 10 anos foi um marco: vejo-o discutindo com o mais velho, que faz Psicologia, querendo saber como é a adolescência, preocupado, porque vai fazer o 5° ano... noutro dia, escutei uma conversa dele com um colega da mesma idade, frequentador assíduo da nossa casa:

-D., você sentiu alguma coisa diferente, quando fez 10 anos?( perguntou ele, interessado na resposta. )

-Não! ( e deveria?!...)

-Ah, eu também: só senti que mudei de idade...(resignou-se)


Pois é, resumindo conversa: agradar menino não é nada fácil. Ainda mais, quando os gostos vão mudando, conforme a fase. É por isso que insisto para que o pequeno experimente de tudo o que se põe à mesa para comer:

-Você quer me obrigar a gostar disso? ( ele chantageia, apelando para o meu "espírito democrático"!)

-Não, mas quero ensiná-lo ao menos a experimentar e assim, evitar um chato a menos no mundo! ( Também sei apelar, viram?)

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Gostaram? Leia o post completo em  http://saladala.blogspot.com/2010/01/volta-as-aulas.html#ixzz0eIt24du2

Ainda não tem um menino? Calma, que ele surge quando a gente menos espera. Aliás, ele pode estar bem ao seu lado, escondido dentro de um homem vestido de terno e gravata.