Tomás é neto único, o que lhe confere direitos exacerbados, quando o assunto é a avó. É ela quem lhe prepara o leite com o toddy e entrega na mão até hoje, que lhe amarra os cadarços e o enche de mimos sem fim. Eu, às vezes, desconfio que isso pode lhe estragar, mas... Eu sinto muita falta de ter tido algo assim da minha avó para reclamar. E dos mimos também fazem parte longas caminhadas, conversas intermináveis e reflexões que o acompanharão por toda a vida.
Dias desses, ela veio me contar sorrindo o diálogo travado durante a última caminhada:
- Vó, por que você tem salário se não trabalha?
- Ah, mas a vovó já batalhou muito para sustentar sua mãe e sua dinda. É a minha recompensa.
- Vó, você batalhou quando? Foi na Segunda Guerra Mundial?
É claro que ela gargalhou muito e contou um pouco sobre sua vida, sobre seu trabalho e sobre a aposentadoria.
Mas, outro dia, de mala e cuia para dormir na casa da vovó, ele volta aos livros de história e pede:
- Vó, me conta uma história antes de dormir!
- Tomás, a vovó não conhece história nenhuma.
- Então, me conta aí alguma coisa que você viu na época da ditadura militar.
Assim caminham os dois entre palavras e sentimentos construindo laços, refazendo passados imaginários e dando importância ao que tem relevo na vida.
Amando a humanidade
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Acho que ser homem, pai, marido, adulto do sexo masculino já foi mais
fácil, mas não tinha graça. Confinados em seus clubes, escritórios, saunas,
bordéis,...
Há 9 anos