terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Condicionário

Tenho um projeto de homem em casa, sagitariano, firme, nem sempre valente, tagarela, alegre e voluntarioso. Para ele, as horas não foram feitas para serem atendidas, mas para atendê-lo. Então, enquanto a mãe gostaria que ele adiantasse as atividades, ele gostaria de alongá-las, em especial, àquelas que o fazem gargalhar.

Para cada ordem bem dada (e uma mãe com ascendente em sagitário também o sabe fazê-lo) há uma firme vontade de questioná-las, revidá-las, burlá-las, refutá-las, esquecê-las, negligenciá-las. E para cada desdém, uma pequena guerra se arma no seio familiar: “porque você não fez a tarefa, porque você não limpou a pia, porque você não amarrou os cadarços, porque você não terminou o almoço, porque você não me atendeu”.

E para cada porque, uma porção de perguntas e intermináveis ideias de como poderia ser uma boa negociação entre os grandes e pequenos. “Mãe, mas ainda falta meia hora para começar a aula, não posso tomar banho depois?”; “Sabia que na Itália não se come arroz?”; “Mãe, eu também me esqueço das coisas, ou acha que é só a vovó?”.

Mas como não dá para ceder à sedução do pequeno insolente, é preciso ensinar a lição mais difícil e mais simples da vida. “Toda ação produz uma reação”. E dali brinquedos recolhidos, desenhos suspensos, tarefas refeitas, pedidos de desculpas, lágrimas e trepidações nos corações de ambos.

Eis que, dia desses, depois de assistir a uma aula de karatê impagável com os lutadores mais insubordinados do tatame, eu lhe avisei que não teria como liberá-lo para ir à casa de um colega.

- Não é possível!

- Meu filho, estamos em pé de guerra e você quer passear? Vamos ver se você consegue fazer a tarefa de casa direito para depois voltarmos ao assunto, certo?

- Ah mãe, aí você exagerou no condicionário!!!

Educar os filhos com equilíbrio, sobriedade e eficiência é o sonho de todas as mães. Mas nem sempre é possível. Exageramos, invertemos prioridades, erramos, mas não podemos nos esquecer de que a única ação que não requer condição é o amor, incondicional aos filhos. Amor que deve ser suficiente para suspender as negociações quando necessário, mas para torná-las ferrenhas diante de uma intuição mais forte. Sigo tentando aliviar no condicionário, enquanto ele segue tentando evitá-lo.

(A tarefa bem feita cumpriu o propósito de lhe garantir liberdade “condicional” para ir na casa do colega).





Um comentário:

  1. A cada novo dia, eu acho que tô começando do zero. Sensação de ter novo filho, de ter sido mãe de novo sem ter engravidado outra vez.

    Ascendente em sagitário: não exagere no condicionário!

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