quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Meu pequeno sonoplasta

Ele tem só 5 anos, mas são muitos os planos para o futuro. As carreiras de engenheiro, construtor, arqueólogo e prefeito já estão certas. Ele tem a certeza infantil de que elas se combinam e se completam. “Mãe, um prefeito que pode ele mesmo fazer o asfalto, é muito melhor. E se eu descobrir dinossauros e fizer um museu. As crianças vão gostar, sabia?”. Sabia e sei desde que ele mexe e remexe nos toquinhos de madeira para fazer a construção de vários prédios ou ainda quando ele fica sem piscar os olhos vendo a propaganda da Prefeitura de Goiânia.
O que ele não sabe é que de todas as suas vocações, a que mais se torna evidente a cada dia que passa é a de sonoplasta. Para o desespero dos familiares, dos vizinhos ou de qualquer um que passar por perto, o Tomás guarda em sua pequena garganta um arsenal de sons que provavelmente faria muita inveja aos produtores de filmes da Pixar. É um tal de “ráiatchapif” que não acaba mais. Barulhos para batalhas, quedas, carros, guerreiros imaginários, etc. Já sabendo da sua queda por tantos barulhos, sempre escolhemos os presentes sem som. Assim ele mesmo sonoriza os seus últimos bonequinhos ou ainda o navio pirata perdido por sete mares.
O problema é que nem todo mundo segue a regra e, no último dia das Crianças, eis que surge a poderosa e temida espada de Jedi em forma, cor e som. O seu barulho estridente e alto poderia ser suportado, não fosse a insistência dele em acompanhar a música dos “iááss” da espada em movimento. Enquanto pedimos insistentemente silêncio e armamos planos para sumir com a espada, ele segue feliz na sonorização das suas brincadeiras, sempre garantindo aos que estão em casa a certeza de que ele está presente.

2 comentários:

  1. É isso. A presença. Como fico pouco em casa, não sei dizer disso direito. Mas minha mãe sempre diz que o pior de quando o Arthur passa muitas horas fora de casa é a ausência dos "ráiatchapif". Um boneco em cada mão, a postos para uma batalha e dá-lhe "ráiatchapif" de um lado e de outro. Um mundo à parte... E é mesmo!

    Fantástico a percepção do Tomás de que se ele for prefeito e engenheiro, será muito mais vantajoso para todos...

    Como sempre, lindo texto!

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  2. Luiza, adoro seus textos! Beijos e beijos pro Tomás!

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