Como não dá para ficar uma semana toda borocoxô, segui adiante, organizando a festinha do pequeno na escola, fazendo as encomendas, cuidando da microcasa e trabalhando. No meio disso tudo, ainda tenho que educar, ensinar os valores importantes e dar muitos conselhos sobre o futuro. Foi em uma destas tentativas que aprendi que tem certas coisas pais não devem se meter a ensinar.
Têm umas três semanas que o Tomás coleciona uns bonequinhos nada haver chamados Gogo’s. É uma febre entre meninos e meninas. As pequenas miniaturas são vendidas em pacotes de dois e vêm acompanhados de figurinhas. Cada pacote custa R$ 1,50 e ele pode comprar até dois com a sua semanada. É claro que sempre tem um adulto mais afoito (no caso do Tomás, é a avó) que colabora para a coleção crescer mais rápido.
Os bonequinhos não têm mais de 3 cm de altura, são coloridos e possuem status diferentes: brilhantes, multicolors e normais. E as duas primeiras categorias são alvo da cobiça das crianças, porque são mais raras. O Tomás não entendeu isso de cara. Demorou a saber o que significava ter uma coleção, fazer trocas e guardar bem as suas preciosidades. Na primeira semana, ele fez pequenas doações. Quando cheguei à escola, a coleção que tinha 18 elementos tinha tido uma baixa de 2, doado aos amigos. Ele e os amigos estavam em polvorosa, enquanto eu perguntava o “por que” de não ter feito trocas. A mãe de uma coleguinha, que é pedagoga, chegou perto de mim e disse:
- Ah, Luisa! Eles estão tão felizes! Deixa que ele vai aprender.
Na semana seguinte, o sortudo que tinha seis bonequinhos multicolors voltou sem nenhum. Desta vez não tinha acontecido nenhuma doação. Foram trocas com um dos melhores amigos, o pequeno Oliveira, que de tão esperto dá nó em pingo d´água. Quando o Tomás chegou em casa, ficou meio cismado.
- Mãe, eu acho que eu fui meio burro...
- Que é isso, filho! Sua coleção está bonita, você ainda tem aquele que brilha no escuro e, na próxima semana, você faz mais trocas!
Chegou a semana seguinte e o Tomás já tinha quase 30 bonequinhos. Quando vou buscá-lo na escola, ele está com o maior bico. Os amigos tinham o bonequinho mais raro da coleção, o número 1. Ele não era multicolor, não era brilhante, mas os meninos tinham dito ao Tomás que este era o mais valioso. E nenhuma solicitação de troca do pequeno funcionou. As lágrimas escorriam, ele não se conformava de ser o único a não ter o boneco. E eu, de cá, pensando como ensinar que coleção é algo legal, que a gente se diverte, mas não pode ser motivo de choro.
- Filho, você tem tanto legais! Você ainda vai comprar outros e o primeiro irá aparecer!
- Mãe, mas só eu que não tenho. O Oliveira falou que não tem mais desse.
Choro para lá, palavras para cá e eu tive a ideia que não devia ter tido.
- Então, semana que vem, você chega lá e diz que o mais especial é o número 30, que este é o que todo mundo quer. Você vai ver como todos vão querer fazer trocas com você.
- Mãe, você quer que eu engane os meninos?
- Não, filho. De jeito nenhum, quero só que você faça bons negócios.
- Ah... Você quer que eu minta para eles!
- Não. Que é isso! É que você pode dizer que é especial o que você quiser. Ele é especial para você.
- Mãe, eu acho melhor a gente tentar achar o número 1 de outro jeito.
Eu também acho e fazer uma coleção tem sido um grande aprendizado para nós dois. Paciência, persistência e lábia não são virtudes familiares. Vamos ter que treinar juntos. E eu, de cá, vou treinar em dobro a paciência para ver o menino se virar sem tanta mediação.
Realmente, educar dá muito trabalho. É difícil deixar o filho aprender sozinho...
ResponderExcluirBeijos,
Agora entendi tudinho !
ResponderExcluirbjos
Esses bonequinhos minúculos ainda vão me enlouquecer...
ResponderExcluirDiga pro Tomás que vou prestar atenção por aí e se eu topar com o nº 1 eu compro pra ele. Pelo menos assim, quem sabe ele fica mais calminho sabendo que a gente tá procurando... BJS
ResponderExcluirÀs vezes precisamos pensar e sentir como crianças para compreendê-las e para não enlouquecermos com o mundo dos adultos! Uma coisa é certa: estamos sempre aprendendo. Carla Conti
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