quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fazendo florir


A deusa grega da fertilidade, Deméter, que ao resgatar sua filha Perséfone das garras da morte, deixou que a terra mais árida voltasse a florir, andou suspirando ao meu lado e, em 2009, terei na agenda inúmeras visitas à maternidade e vou ficar com cheirinho de bebê. Várias amigas, colegas, conhecidas e desconhecidas estão passando estes dias preparando um novo ser e esta é uma das fases da vida mais bela de se observar.
Para mim, que já vivi isso, é quase impossível não desejar o mesmo. A plenitude da gravidez e da fertilidade, os planos para pequeninos seres tão cheios de possibilidades, os sorrisos, os sonhos e os sustos são tão belos quanto o reencontro desta deusa grega com sua filha querida. Ver uma barriga crescer é sempre milagroso para quem vive e para quem acompanha. E sempre um risco para quem está desavisado. Mulheres grávidas atraem outras e assim segue a povoação no mundo.
O ano de 2009 já recebeu, abençoado, Pedro, Cecília, Carina, Lara, Moisés. Mas vem aí outra leva: Guido, Vitória, Lucas e Lis, Laura ou Miguel, Elisa ou Vítor. E ainda têm os que não sei os nomes. Minha médica está grávida, a recepcionista, a professora da escola. Ai, ai, ai... Deméter passou por aqui mesmo. Melhor assim. Ano passado, apesar dos nascimentos das Claras, da Isadora, da Mariah e do Miguel, senti bem de pertinho o sopro da morte e vi muitas pessoas queridas partirem. Então, que Deméter continue a soprar e a fazer florir. Para quem quiser, ainda dá tempo de fazer parte desta lista. Quem sabe não chegam as Helenas dos planos de alguém? E novas famílias serão formadas, com muitos risos, choros e crescimento para todos...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Bússola


O que nesta vida não tem preço é o desejo de ser... É preciso ter desejo sempre, é preciso buscá-lo sempre, é preciso assumi-lo sempre, para não se perder. O desejo de ser é a bússola do nosso caráter, da nossa doação. É ele que nos leva a tomar certas decisões, a desviar de certos caminhos, a dizer sim e a dizer não. É o desejo de ser que nos faz ser melhor a cada dia, que nos faz admitir cada palmo de erro ou obstáculo no caminho, é o que nos faz enfrentar nossos medos, é o que nos faz ter sonhos vívidos. Então, é preciso saber o que ser quer ser e manter isso na mente e no coração, dia-a-dia, para orientar os seus passos, os seus impulsos e para você sentir a alegria inigualável de pensar que, em algum momento, você é exatamente o que queria ser. Eu ainda chego lá... com minha bússola errante.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Adoção


Ai, ai... minha amiga Patrícia mandou semana passada esta foto, desta gatinha, chamada Catarina, para atiçar o meu desejo de voltar a ter um gatinho em casa. Meu coração doeu. Quero muito um gato, mas não pode ser agora. Tive que dizer não para esta coisinha linda e fotogênica e para o meu filhote, que quer um bicho de estimação e ainda não terá desta vez. Ele compartilha comigo, com minha irmã e com a Patrícia uma admiração pelos gatos. Isso nos torna quase uma comunidade à parte, porque a maioria das pessoas prefere os cachorros. A gente não... preferimos os gatos. Ele, no caso, prefere ainda mais um golfinho ou um bicho em que não precise passar a mão.
Eu adoro gatos, já tive dois: Rodolfo (que vivia no mundo) e Akira ( que morreu do coração quando eu me tornei mãe, depois dizem que os bichanos não são afetuosos). Esta paixão pelos bichanos herdei do meu pai, que tinha vários gatos na casa da minha avó. Lá, eles viviam livres. Eram criados soltos pela casa. Eram lindos e nem sempre mansos. Onde você ia, se encontrava com um grupo: pretos, brancos e amarelos. Sem raça alguma. Na casa dos meus avós maternos, também moravam gatos: o Zuzu e o Rochinho. Eram as paixões dos velhinhos, para quem faziam companhia e com quem se deitavam após o almoço. Nada dos reboliços e da alegria canina. Apenas a sedução gatuna, uma companhia diferente, sedutora, quase silenciosa e sempre imprevisível.
Só quem ama um gatinho para enteder... Se alguém quiser adotar a Catarina, me avise.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Lições de economia


Muitas vezes aprendo mais com o meu filho do que o que eu calculo ensinar a ele. Ele me ensina a priorizar tarefas, a gritar menos, a aceitar defeitos com muita tolerância e amor, a gostar de cabelos arrepiados, a escolher cuecas, a dormir mais tarde a acordar mais cedo, a incomodar um médico domingo à tarde, a sonhar acordada, a jogar memória, a reconhecer em mim mais da minha mãe do que eu imaginava, a matar leões, monstros e desilusões, a ver claro onde está evidentemente escuro... É lição a todo instante. Mas é claro que sem nenhum reconhecimento. Ele tem que acreditar que sou quem vou ser a sua mestra até o final... Modelo de educação tradicional (risos). Eu sou a mãe, ele é o filho. Eu ensino a arrumar a cama, fazer a tarefa, falar obrigado, amarrar os sapatos, comer de boca fechada, pedir desculpas. Coisas, realmente, muito importantes.
Acontece que as lições de economia, aquelas que eu nunca tive, têm sido alvo de muitos questionamentos. Já tentei o cofrinho, a semanada, o que é caro e o que é barato, manuais e mais manuais. Nada adianta diante do desenfreio consumista do meu pequeno. Eu divido esta angústia com outras mães, que igualmente me relataram que seus filhos não conseguem saciar o seu desejo de consumo. Ele tem uma lista interminável de desejos urgentes a serem realizados. A todo tempo ele negocia pequenos favores por barganhas econômicas. É trash! Eu não cedo, mas estou sem argumento, assumo. Outro dia, ele me saiu com esta lição de economia, que vou ver se vendo para alguém mais sábio que eu. Logo cedo, ele me lembrou do último maldito lançamento da indústria dos brinquedos, do seu desejo constante de obter aquele objeto, depois é claro dos dvds, revistas, bonecos, videogame, etc. Isso, ele ainda estava na cama.
Eu, inocente, apenas disse:
- Tomás, mamãe está muito apertada.
Ele, nada inocente, respondeu:
- Então, vai ao banheiro, que depois a gente conversa.
Se pelo menos, eu achasse dólares na privada... ou alguma resposta para a fúria consumista destas crianças.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Livro do Desassossego

Neste desafio de ser, eu estou lendo um livro há muito guardado "Livro do Desassossego", de Fernando Pessoa, e fico pensando como é que alguém traduz tão bem o que vai na sua alma, sem nem mesmo ter te conhecido. É de uma genialidade incrível, um livro imperdível, para quem está reciclando lixos, como eu. Divido alguns trechos com vocês.

"Nós nunca nos realizamos.
Somos dois abismos - um poço fitando o céu"

"Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um campo próximo, um bocado de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como quem nega a esmola por falta de boa alma, mas para não ter que desabotoar o casaco"

"Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo".

terça-feira, 14 de abril de 2009

Amo muito...


Há algum tempo, talvez por causa do scrapbook, eu tenho brincado muito com o meu filho de listar as coisas que ele ama. Se usa muito esta lista para fabricar páginas e expor a personalidade dos homenageados. A lista do pequeno, cada dia maior, revela um menino que tem muito de mim, mas já tem uma história só dele. É incrível que com 5 anos, ele vá fazendo o seu caminho, diferente do meu, autêntico, irreverente. Cada palavra sua é recebida com um susto, de quem se depara com alguém que gerou, mas que agora se gera por si próprio. Segue a lista, que amanhã com certeza terá muitas alterações...


Amo muito...


Por Tomás


... desenhos animados

... Piratas do Caribe, Crônicas de Nárnia e Peter Pan

... vermelho e azul

... o planeta Marte

... balinhas e chicletes

... o parque de areia da escola

... brincar com os meus amigos

... construir coisas

... ser um super-herói

... brincar de formiguinha de manhã

... panquencas com geléia

... dormir com a cabeça coberta e de meias

... leite com morango

... rolar pelo chão

... não guardar os brinquedos

... acordar bem cedo

... viajar para a praia

... brincar de adivinha

... festa de aniversário, de qualquer pessoa, com bolo, balão e correria

... correr, correr, correr

... costelinha de porco e filé acebolado

... suco de maracujá

... chuva na aula de natação

... escrever com letra de adulto

... ir na locadora

... fazer biscoitos com minha vó

... comer o brigadeiro da dindinha

... ir ao cinema com a mamãe

... dormir agarradinho

... ouvir histórias que dão medo

... jogar videogame com meus amigos

... dar beijo estalado

... o coelho da Páscoa e o Papai Noel


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Buraco negro


Hora do almoço. Hora de perguntas e muita falação. Só almoço em silêncio se for bem longe do filhote, porque quando chego em casa, invariavelmente, ao sentar na mesa, ele começa o falatório, que inclui o relato dos desenhos, reclamações (sempre são muitas) seguidas de broncas e perguntas (todas as possíveis). Uma das últimas foi se o buraco negro não tinha fim. Eu, na minha limitação em conhecimentos astronômicos, disse que até onde se sabe, ele não tem fim, é infinito. Então, ele disse: - Eu queria jogar a sua “bravura” lá dentro! Eu ri antes de corrigir: - Deve ser a minha braveza, filho, que você queria jogar fora!
É. Eu também queria. Mas queria jogar junto com ela as preocupações com o futuro, os medos, as prestações, o cansaço, o mau humor, a covardia, os dias cinza, a insônia, a fome, as palavras que não devia ter dito, os quilos extras, parte do passado. Seria um tanto bom jogar esse lixo fora sem ficar reciclando eternamente...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O coelho demorado e os biscoitos da partilha



É Páscoa e os supermercados estão cheios de ovos de chocolate. Tamanhos, sabores e cores diferentes seduzem os olhos de grandes e pequenos. E, para as mães tentam ainda manter o sabor das Páscoas de antigamente quando cada um ganhava só um ovo e ele era o melhor do mundo, o desafio é um tanto quanto difícil. Como explicar para alguém de apenas 5 anos que o domingo não tardará e que o coelho lhe trará um ovo especial? Não é fácil quando ele visita os supermercados e se depara o tempo todo com carrinhos lotados destes mimos de chocolate? Ele insistiu durante todo o mês de março que seria mais fácil eu comprar o ovo antecipadamente e poupar o trabalho do coelho, que já deveria ter muito o que fazer. Eu resisti e para que a data chegasse mais rápido preparamos cartões, enviados pelos Correios, e pequenos pacotes de biscoitos que ele enfeitou com chocolate para entregar às professoras da escola. A tarefa divertida rendeu alguns desentendimentos, mas muitos risos e satisfação. Acalmou um pouco o pequeno, que na escola também recebeu orientações sobre o verdadeiro sentido da Páscoa, a ressurreição de Cristo e o momento de partilha que devemos celebrar.

Mesmo assim, um pequeno acidente fez com que ele se deparasse com um ovo escondido em um compartimento do guarda-roupa. Eu tentei, mas não consegui segurar o riso. Ele ficou aturdido e quis muitas explicações. Eu disse que seria uma doação para uma criança que não teria visistas de coelhos. Ele começou a chorar e a dizer que também ia querer o dele antes, que os colegas da aula de música já tinham recebido um ovo e patatipatatá. Daí eu fiquei nervosa e perguntei se ele queria acabar com a história de esperar o coelho e que lhe desse um ovo de chocolate comprado em supermercado. Ele pensou, pensou, enxugou as lágrimas e disse: - Prefiro mandar um carta para o coelho e pedir para ele vir logo. Se não der, eu espero comendo biscoitos.

Bom, este ano ele ainda vai esperar... Feliz Páscoa!

sábado, 4 de abril de 2009

Nenhum pouco abandonados

Ainda sobre as indenizações por abandono afetivo, conheço três crianças que vivem assim. São tão queridas, que não consigo nominá-las como abandonadas.
É porque elas não foram. Elas foram tão acolhidas por suas famílias, que aqueles que as deixaram têm um papel menor na minha mente.
Mesmo assim, quando as vejo e quando vejo suas mães, rápidas e eficientes, penso como é possível fechar as portas para tão amplas possibilidades?
Cada uma encontrou uma solução. Cada uma sofre com suas dores nas noites mais frias. Cada uma enfrentou o abandono da pessoa que mais ama com a coragem e o silêncio que pôde.
Queria que elas não se calassem, que gritassem para o mundo que isso não se faz, que não deixassem isso passar...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Do amor


O amor é uma casa de portas e janelas abertas... As pessoas, convidadas a entrar, ficam encantadas com a luz, a alegria e o brilho do amor. Às vezes o amor é como um castelo, outras, como uma tapera, mas sempre é uma zona de conforto e aconchego. Feliz de quem entra nesta casa... Feliz de quem abre esta casa. Quando temos filhos, como é doce recebê-los e amá-los. Pena que, no amor, às vezes, os fatos se embalham e a gente se confunde. Com medo de perdê-lo, a gente fecha as portas, tranca as janelas, não sae para o jardim, joga as chaves fora. O amor escurece, adoece e morre. E, os seus habitantes, adoecem juntos, pobres sem alma e sem acalanto.