quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Por toda a vida

Tomás é neto único, o que lhe confere direitos exacerbados, quando o assunto é a avó. É ela quem lhe prepara o leite com o toddy e entrega na mão até hoje, que lhe amarra os cadarços e o enche de mimos sem fim. Eu, às vezes, desconfio que isso pode lhe estragar, mas... Eu sinto muita falta de ter tido algo assim da minha avó para reclamar. E dos mimos também fazem parte longas caminhadas, conversas intermináveis e reflexões que o acompanharão por toda a vida.

Dias desses, ela veio me contar sorrindo o diálogo travado durante a última caminhada:

- Vó, por que você tem salário se não trabalha?

- Ah, mas a vovó já batalhou muito para sustentar sua mãe e sua dinda. É a minha recompensa.

- Vó, você batalhou quando? Foi na Segunda Guerra Mundial?

É claro que ela gargalhou muito e contou um pouco sobre sua vida, sobre seu trabalho e sobre a aposentadoria.

Mas, outro dia, de mala e cuia para dormir na casa da vovó, ele volta aos livros de história e pede:

- Vó, me conta uma história antes de dormir!

- Tomás, a vovó não conhece história nenhuma.

- Então, me conta aí alguma coisa que você viu na época da ditadura militar.

Assim caminham os dois entre palavras e sentimentos construindo laços, refazendo passados imaginários e dando importância ao que tem relevo na vida.

3 comentários:

  1. HAhaha....o Tomás é ótimo! Essa história precisava vir para este blog!!

    Maíra Gabriel Heinen

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  2. Lú, às vezes me pego 'tesourando' minha mãe quando a mesma mima sua neta única!
    mas depois penso que não tive nem um décimo do que minha manu tem com minha mãe e mudo de ideia.

    coisa mais linda essa relação de avó e neto, né?

    bju

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  3. É uma das relações mais bonitas que se pode ter nessa vida. Seja como for...

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