“Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria...Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegriasozinhos...Essa... a alegria que ele quer.”
Guimarães Rosa
Guimarães Rosa
Nestes dias, em que completamos anos e estamos por perto da família e dos amigos, a gente naturalmente fica saudoso de quem não está por perto. Daí a memória, sempre ela, nos faz lembrar do tempo que passou. Tenho me lembrado muito dos meus domingos de agosto na infância distante.
Depois que o meu pai morreu, no ano passado, eu e uma grande amiga fomos escarafunchar no maleiro do quarto dos meus pais.
Meu pai adorava jornais, moedas, procurações indevidas, eletroeletrônicos antigos, bobajada que não tem preço, nem endereço... Mas, algumas, tão parecidas com ele, que meus olhos marejaram. Era olhar e ver seu rosto, suas pastas, seus guardados preciosos.
No meio da bagunça, encontramos uma vitrola já muito velha, que talvez o cupim não nos deixe resgatar. Meu filhote, participante ativo de qualquer faxina, fez uma declaração muito pertinente.
- Puxa! O vovô era muito rico!
- Por que, filho?
- Ele tinha tanta coisa...
E tinha mesmo. Tinha manias esquisitas, uma doença que comeu seu cérebro, um olhar cor de folha seca e um jeito de amar para sempre que nada derrubava.
Lá no meio dos achados onde ele se perdeu tinha um quadrinho de cortiça, com paspatour branco e moldura de madeira. Gravadas com tinta preta duas mãozinhas rechonchudas com a minha assinatura. Mais adiante uma capa de couro artesanal para um livro muito lido, mas cujo conteúdo pouco interessava. O que tinha para ser guardado estava por fora, o desenho da flor, o nome de cinco letras, a lembrança.
Meu pai adorava datas e quinquilharias, bem diferente da minha mãe, que só agora guarda alguma coisa. Ele tinha apego por estes momentos raros de possibilidade de harmonia familiar.
Não ostentava e pouco ligava para a utilidade das coisas. Aliás, por predileção mesmo, adorava algo inútil e guardava.
Não reconheci de imediato esta característica em mim. Mas no meu baú de guardados tem um peão de madeira, uma tira do Garfield, um cachimbo usado e um tipo de mini-poster (muito usado nos anos 80) com uma figura e uma frase do Chaplin que meu pai me deu. Tem os negativos da fotos que ele insistia em tirar sem pose e tem um chapéu, que não quis largar minha mão no dia do seu enterro.
Perdemos o dia, a pessoa, o beijo e o abraço e ficaram os presentes. No próximo dia dos pais, vou levar para ele flores. Não sei se ia gostar, mas ia adorar a lembrança, saber que estamos em paz e que a gente pensou nele todos os dias desde que se foi.
Depois que o meu pai morreu, no ano passado, eu e uma grande amiga fomos escarafunchar no maleiro do quarto dos meus pais.
Meu pai adorava jornais, moedas, procurações indevidas, eletroeletrônicos antigos, bobajada que não tem preço, nem endereço... Mas, algumas, tão parecidas com ele, que meus olhos marejaram. Era olhar e ver seu rosto, suas pastas, seus guardados preciosos.
No meio da bagunça, encontramos uma vitrola já muito velha, que talvez o cupim não nos deixe resgatar. Meu filhote, participante ativo de qualquer faxina, fez uma declaração muito pertinente.
- Puxa! O vovô era muito rico!
- Por que, filho?
- Ele tinha tanta coisa...
E tinha mesmo. Tinha manias esquisitas, uma doença que comeu seu cérebro, um olhar cor de folha seca e um jeito de amar para sempre que nada derrubava.
Lá no meio dos achados onde ele se perdeu tinha um quadrinho de cortiça, com paspatour branco e moldura de madeira. Gravadas com tinta preta duas mãozinhas rechonchudas com a minha assinatura. Mais adiante uma capa de couro artesanal para um livro muito lido, mas cujo conteúdo pouco interessava. O que tinha para ser guardado estava por fora, o desenho da flor, o nome de cinco letras, a lembrança.
Meu pai adorava datas e quinquilharias, bem diferente da minha mãe, que só agora guarda alguma coisa. Ele tinha apego por estes momentos raros de possibilidade de harmonia familiar.
Não ostentava e pouco ligava para a utilidade das coisas. Aliás, por predileção mesmo, adorava algo inútil e guardava.
Não reconheci de imediato esta característica em mim. Mas no meu baú de guardados tem um peão de madeira, uma tira do Garfield, um cachimbo usado e um tipo de mini-poster (muito usado nos anos 80) com uma figura e uma frase do Chaplin que meu pai me deu. Tem os negativos da fotos que ele insistia em tirar sem pose e tem um chapéu, que não quis largar minha mão no dia do seu enterro.
Perdemos o dia, a pessoa, o beijo e o abraço e ficaram os presentes. No próximo dia dos pais, vou levar para ele flores. Não sei se ia gostar, mas ia adorar a lembrança, saber que estamos em paz e que a gente pensou nele todos os dias desde que se foi.
Que lindo este texto Lu! Me lembrei, neste momento, do livro do seu pai. Vou devolver sábado tá.
ResponderExcluirbjos.
seu pai, pra mim, tinha uma característica muito marcante. eu achava ele elegante demais. apesar da sandália, do chapéu, da bermuda... era uma elegância mto peculiar. acho q tem a ver com isso aí que o tomás disse. talvez fosse pq ele era rico...
ResponderExcluiremocionante.
bjo.
Amor, quando leio seus textos sinto que quero compartilhar desses momentos tão emocinais.
ResponderExcluirVocê sabe....não é fácil mas eu amo você.