sexta-feira, 20 de março de 2009

Descanso na loucura


Quando engravidei, em 2003, ainda vivia na casa dos meus pais, apesar de trabalhar desde os 18 anos e viver mais fora do que dentro. O resultado positivo no exame trouxe um grande anseio, o anseio de construir o meu espaço. Como não me casei, juntei ou coisa parecida, sei que muita gente esperava que eu ficasse com os meus pais, como acontece na maioria dos casos. Mas, desde o dia do tal exame, eu sabia que tinha achado a chave para sair e para fazer o meu lar. Ao contar isso para minha mãe, vivemos momentos de muita angústia. Ela não queria que eu fosse embora, ainda mais com uma criança no ventre. Achava que a saída seria mais vista como uma expulsão do que como uma escolha, mas expliquei que era o necessário e, relutante, ela me acompanhou na construção desta saída.
Com 20 dias de nascido, Tomás ganhou uma casa nova e eu também. Foi e é uma aventura para ambos. A rotina, as contas, os momentos de solidão são um grande desafio sempre. Logo no começo, quando o dia amanhecia, saíamos eu e ele, malas na mão, carrinho e quinquilharias para a casa da minha mãe. Eu, de licença, não sabia o que fazer em um apartamento de dois quartos, sala e sacada. Me senti sozinha muitas vezes. Mas isso fez com que o meu amor por ele crescesse e o tornasse meu companheiro. Hoje, ainda me sinto só às vezes, mas gosto do silêncio do meu lar, de ouvi-lo acordar, de escolher o meu programa na televisão, de definir se hoje vamos ou não arrumar as camas e gosto quando ele diz “na nossa casa”.
De fora, o encanto que eu sinto nem sempre é admirado. Muitas pessoas se espantam quando digo que eu moro só com o meu filho. Me acham independente demais, quase assustadora... Já sofri por isso, mas hoje rio. Não sou tão independente quanto gostaria, ainda tenho um pé fincado na casa da minha mãe, mas já sou metade do que eu queria ser aos 15 anos. Naquela época, me imaginava dona do meu nariz tão completamente que o meu apartamento seria o mais alto, o mais inatingível e o menos parecido com a minha família.
Na vida real, o meu lar é um pedaço do lar que minha mãe construiu, mesmo há ruas de distância, tem tanto dela que nem sei defini-lo, e é, sobretudo, o lugar onde descanso da loucura e conheço mais e mais este menino que um dia será um homem a procura de outro lar. E, onde quer que a gente crie os filhos, o que realmente importa é o amor. Se um dia, eu tiver que voltar para a casa da minha mãe ou dividir a minha casa com alguém, acredito que isso não tirará de mim a independência de escolha que tenho e nem mudará o amor que sinto. Somos uma nova família, em qualquer lugar que vivermos.

4 comentários:

  1. Oi! Luisa que gostoso esse blog. Os textos são elegantes, agradáveis e com histórias muito bem contadas. Parabéns. Cristiane

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  2. eu me lembro de boa parte dessa história. tenho foto de alguns trechos. e me lembro de uma conversa nossa numa noite em que marcamos pra comer alguma coisa e falar da gravidez, da sua possível mudança. e lembro de vc falar da sua mãe...

    tô adorando isso aqui........

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  3. tbm me lembro como se fosse ontem Lu. Sabe, aquele dia que vc nos reuniu para contar a novidade, que estava gravida !!! Ai que ciumes senti do Tomás!!!Pensei...vou perder meu colo.
    rs...rs...

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  4. Bacanérrimo o seu blog Luísa! Foi um prazer conhecer você um pouco melhor ;)

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