segunda-feira, 16 de março de 2009

O emaranhado da nova família


Adoção, dois pais, duas mães, madrastas, padrastos, irmãos postiços, tios, tias, guarda compartilhada, separação, uma semana aqui, outra acolá, divórcio, casa da vovó, final de semana no papai, berçário, gravidez inesperada, muita gente, gravidez planejadíssima, pouca gente, mamãe e papai, só a mamãe, só o papai... Tanta mudança nesta família, na legislação, nas casas brasileiras, que às vezes me confundo muito.
Sou filha de pais juntados, em plena década de 70, mas neta de avós casados na Igreja e na lei. Mais tarde, me tornei filha de pais separados na mesma casa. Muitas brigas, desentendimentos e vontade de sumir. Mas por uns destes motivos inexplicáveis da vida, vi minha mãe se tornar mãe do meu pai quando ele caiu doente e eu me tornei irmã ou talvez filha mesmo, filha adulta.
Agora sou filha só de mãe e órfã de pai. Adulto também fica órfão? Senão for certo no português, é certo que sou órfã do que eu tive um dia com o meu pai... Da saudade que ele me faz e do que eu queria ainda ser para ele. Não posso mais ser sua filha, a não ser na dor da sua ausência.
Da minha mãe, sou filha e também sou a mãe do seu neto. Às vezes sou companhia, às vezes sou empecilho. Também sou irmã da sua filha mais nova. Outro rolo sem fim... De quem se ama, mas às vezes disputa, busca espaço e quer o bem um do outro.
Também sou mãe de um menino enorme, gerado na incerteza, mas criado no amor. No jargão comum, sou mãe solteira. Mas solteira parece que um dia quis me casar e não deu certo. A história não é bem essa. Eu fiquei grávida e para isso, a gente precisa de outra pessoa e não era a pessoa com quem eu ia dividir a minha vida inteira e nem imaginei que fosse dividir com ela a certidão de nascimento de alguém. Dividi e agora divido algumas responsabilidades também. Não somos da mesma família, mas somos da mesma família de alguém. Nossos sobrenomes estão colados logo em seguida ao nome que escolhemos para o nosso filho. Não criamos juntos, mas estamos aí, tentando acertar esta parada de criar um filho com alguém com quem não se vive e às vezes com quem não se concorda com absolutamente nada.
Por fim, me tornei madrasta. E eu que nunca nem convivi com uma figura destas, estou em fase de adaptação e de avaliação nas intempéries de ser atriz bem coadjuvante na educação da filha do meu namorado. De repente, além de madrasta, me vi cercada por um bocado delas, cada uma de uma forma inesperada, mulher do pai de alguém. Minha irmã, minha amiga de infância, minha prima... madrastas diferentes, presentes, ausentes, chateadas, legais, intolerantes, cuidadosas.
É difícil demais! No meio de todos os modelos, famílias tradicionais, inovadoras, inesperadas, encurraladas, sonhadas ou não, estamos nós, seres humanos normais, amantes da vida e dos que amamos, buscando sermos perfeitos em atividades cuja perfeição beira a loucura, buscando acertar onde a legislação não acha termos para tamanhas divisões e multiplicações.
Ser família era estar perto, ter o mesmo sobrenome e acompanhar a hierarquia e as regras daquele grupo. Hoje, ser família é ter desafio, é amar à distância e tolerar na presença, é conviver e exercitar o amor, é aceitar a diferença e buscar, acima de tudo, respeitar o outro, seja ele quem for, seja o interesse que tiver.
Sem dicionário, me sinto feliz, porque sou a família de alguém

10 comentários:

  1. Nasceu o blog, assim como nasceu a mãe, o filho, a madrasta, a namorada, a companheira, a amiga, a jornalista, a artesã.... A gente nasce e se renova. E nisso está uma beleza enorme!

    Seus amigos ficarão feliz, assim como eu estou, de poder, além de conviver com você, ler você. Isso é um presente!!

    Boa sorte aqui, assim como na vida.

    Te amo!

    A amiga,

    Deire

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  2. amiga querida, que emoção ler este primeiro texto! tem uma 'musiquinha' que diz assim:

    "um mundo pequeno, onde se encontra o amor, o calor, o valor de viver com alguém... Família é amor, ninguém vive só. Então faça o melhor!"

    Acho que é por aí... Você sabe fazer o melhor e este blog é mais uma prova disso. Adorei!

    Beijos,

    Carol.

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  3. Namorada de pai solteiro, do grupo dos 3 solteirões e da pequena dama, da confraria dos pais solteiros e um dia não mais solteiro talvez por sua culpa.
    Amo você! Amei seu texto.

    Beijos

    Rogério

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  4. Que lindo!Agora sim,você está atuando com o que tem de melhor:a sua sensibilidade.Parabéns.Beijos,Fátima.

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  5. só esqueci de dizer q eu, como repórter, sou uma excelente fotógrafa (risos).

    bjo!!!

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  6. Obrigada pelo carinho, pela música... E, o crédito de uma das fotos que mais gosto e que abre este blog é da minha amiga, Deire Assis, que não deixa passar nada, nada.

    Luisa

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  7. Luisa,
    nossa muito belo seu texto... muito generoso esse seu partilhar com o mundo um sentimento tão de todos ...
    depois te conto sobre como esta sendo a minha descoberta de ser mãe de alguém....
    Mara

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  8. Amiga querida....

    amei o texto ....vc conseguiu expressar os sentimentos mais intimos e trazer à tona reflexões que, por muitas vezes, preferimos ocultar...
    super beijo...
    Samia

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  9. Menina Luisa, que graça você tem... que transparência também. Fico feliz por mostrar sua sensibilidade, por meio da sua história... Faz bem para você, para quem lê e mais ainda para quem te quer bem. Até rimou, né?

    Beijo minha querida. Eleusa Moreira

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  10. Luisa, que bom ler seu texto, ver tanta sensibilidade...Parabéns pelo blog. Beijos. Denise.

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