terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Novos desafios


O Tomás entrou na escola com 1 ano e 8 meses, depois de duas excelentes babás, com as quais ficou difícil negociar com o tempo. É que não existe valor justo a se pagar para quem cuida de quem você ama e eu não saberia ser injusta, neste caso. Então, saí da zona de conforto que é ter um filho nos seus domínios, acessível na primeira ligação telefônica e onde, teoricamente, é você quem manda e enfrentei o que minha mãe passou ao me deixar na creche com 40 dias de vida: o escuro. Não é fácil se adaptar às regras dos outros quando você acredita que o seu jeito é o melhor.


Neste primeiro momento, ele passava o dia todo na escola e, entre mordidas, musiquinhas e almoços coletivos, o menino aprendeu a se virar. Subia sozinho no escorregador, aquele gigante que me assustava, escolhia amigos mais afins, fazia rabiscos coloridos, lutava capoeira e aprendia palavras nunca dantes pronunciadas. E eu tive que, mesmo diante dos imprevistos, acreditar que tinha feito uma boa escolha.

O tempo passou, o menino cresceu, precisou de uma nova escola e lá ele aprendeu outras tantas coisas: a ser “elegante”, a fazer combinados, a ouvir o colega, a esperar a sua vez... e aprendeu que certas coisas a gente precisa continuar a aprender a vida toda. Tudo isso em uma parte reservada da escola só para os pequenos aprendizes. Era permitido aos pais levar o filho até na sala, mesmo que a professora pedisse para você deixá-lo no portão. Os colaboradores conheciam a todos pelo nome. A sala de aula tinha cadeiras pequeninas em volta de mesas redondas, muitas vezes cobertas de brinquedos e rodeadas de crianças com não mais de 1,25 metros. E tudo me parecia extremamente seguro.

E passaram três anos e o menino cresceu mais ainda. No final do ano, celebrou com os amigos a passagem para uma nova fase, quando será realmente alfabetizado, e ficou empolgadíssimo, falando durante horas na minha cabeça, o tanto que o novo pátio e a nova sala são enormes.

- Mãe, lá é muito “maneiro”! Eu já tenho até um esconderijo, sabia?

Ai, não será fácil. Os filhos crescem, invariavelmente, antes dos pais. Ainda não tive como fazer a minha passagem e a mesma se dará, no tranco, na próxima quinta-feira. Meu menino será aluno do primeiro ano do ensino fundamental, onde vou deixá-lo com o coração na mão e cheio de dúvidas, além de uma mochila recheado de livros de português, matemática, ciências, história e geografia. Será que ele vai dar conta? É o que me pergunto a cada instante, enquanto oriento sobre como se defender de crianças maiores, a se portar na cantina e a guardar seu material no final de cada aula. Enquanto isso, ele pega os livros encantado com o cheiro de novo e as páginas coloridas e me diz:

- Mãe, o que é geografia?

Para depois da minha explicação insossa, ele lascar:

- Que legal!

4 comentários:

  1. É mamãe Luisa, quando nossos filhos aprendem que a geografia de suas vidas vão além de nossos quintais, que podem atravessar oceanos e não somente piscinas e subir picos bem maiores que escorregadores, nossos corações deixam abruptamente de serem continentais e passam a caber no pequeno espaço de uma caminha sem ursinho e sem coberta de foguetes.
    Fica o convite para uma moela no dia e hora que estiver longe dos afazeres.

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  2. Que legal imaginar o "que legal!" do Tomás passando uma a uma as páginas do livro de Geografia. A alegria do Arthur, neste ano, foi descobrir que no livro de História, dessa vez, tinha espaço para respostas no próprio livro. "Ano passado tinha que passar tudo para o caderno!"

    E é legal também enxergar que eles crescem e a gente também. Afinal, se não fosse assim seria tudo muito mais difícil.

    Sete anos depois de tudo começar, hoje de manhã me emocionei quando o vi seguindo na fila do pátio em meio àquela multidão. Uma independência que me esfria a espinha...

    Você escreve divinamente, amiga!

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  3. É isso, Luisa! O ano letivo começa para as mães também! Nós vamos para a escola, materiais, lanche, tarefas e uma enorme sensação de "o que virá agora?" Adorei seu texto. Um grande beijo!

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  4. Pensamos que estamos preparadas para o que nos espera! Doce engano!
    Minha filha começou no jardim esse ano!
    E o inglês, ballet....
    Tá crescendo, bem debaixo do meu nariz...
    Lendo suas palavras, só me faz crer cada vez mais que nós, mães, somos todas iguais!!

    bjk

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