quinta-feira, 25 de março de 2010

7 anos


Existe um menino que não é igual a mil. Este menino, de olhos vivos e sorriso largo, chegou a este mundo no dia 28 de março de 2003. Naquele dia, eu estava em uma festa de aniversário. Era uma sexta-feira, chovia, estava escuro, muito escuro, como costumam ser as noites do mês de março. Eu espera o menino há muitos dias, que já tinha até desistido de sua chegada. Mas o telefone tocou avisando que ele se anunciava e eu saí rapidamente ao seu encontro, para lhe abrir as portas, caso fosse preciso.


Dei muita, muita sorte, porque ao abrir as portas, ele abriu meu coração. Quando o vi, na primeira vez, fui inebriada por um amor maior do mundo e senti que queria viver aquilo também. Digo isso sempre ao Pedro, filho de amigos queridos, porque a sua chegada marcou a encomenda inconsciente do Tomás. O que separa os dois são exatos 9 meses. Nasceram no mesmo ano, o que no horóscopo chinês significa que eu e Carla fomos abençoadas com meninos cheios de vontade, com energia para viver e com força o suficiente para entrar em guerras imaginárias travadas com limites considerados por eles obscenos demais para quem preza, com grande maestria, a liberdade.

O Pedro, que foi o primeiro amigo do Tomás na barriga e depois dela, travou estas guerras e outras também. Foi forte e guerreiro ao se separar da sua mãe, minutos depois de ter nascido, para lutar por sua própria vida na UTI fria de um hospital, andou de ambulância, berrou ao sair do centro cirúrgico, encarou o pai com olhos firmes em um breve encontro no corredor. O menino comprido e branquelo disse, desde de os seus primeiros segundos, ao que veio. Não ia resmungar pelo que não tinha, ia gritar pelo que queria.

O primeiro ano do Pedro foi, assim, de descoberta e emoção para seus pais, avós e amigos. A cada nova informação sobre os limites a serem vencidos pelo meu pequeno sobrinho, minha barriga crescia e meu coração também. O Tomás ia chegar e eu descobria com alguém muito perto de mim o que significa a palavra incondicional. Não raras vezes chorei com medo de não ter dentro de mim leoa tão valente para enfrentar as dores de ser mãe, que eu via na minha amiga Carla. Mas aquela mulher que entre lágrimas arrumava ânimo para se entupir de chá mate e não deixar o leite secar, segurou nas minhas mãos quando eu fui para a maternidade, me ajudou a organizar minha nova morada e me ensinou que “limite por limite”, ela tinha os dela bem largos.

Quando o Tomás nasceu, nasceu com ele uma grande amizade. Ganhou algumas roupas de herança e muito da experiência da tia em viroses, vacinas, carrinhos, mamadeiras e cólicas. Fomos as duas telespectadoras assiduas de Barney, Backiardigans e os desenhos do gênero. Enquanto isso, as crianças trocaram entre si muito carinho, amizade e esperança. Entre as fotos favoritas dos primeiros anos de vida do Tomás, tenho guardada uma em que os dois se erguiam junto a uma estante, descobrindo, tateando, conquistando.

Quando o Tomás fez o primeiro aniversário, festa pronta, coração recheado, o Pedro não pôde ir. Foi fazer uma visita breve no hospital. Nos outros dois anos, por motivos sempre maiores, a festa perdeu o Pedro. Só no quinto aniversário, os dois estiveram juntos. Não disse a Carla ou ao Pedro, na ocasião, mas aquela foi a festa completa. O guerreiro que sempre gostou de se exibir na roupa do Batman, que nunca fez reticências para um beijo, que não se incomoda em berrar muito alto, que não se esquiva em gargalhar quando acha possível, que erra como os meninos da sua idade, que mata um prato de arroz e feijão sem titubear, que não desiste nem depois de olhares incrédulos, estava na festa. Pense bem...

Foram cinco anos para isso acontecer. Mas, como para o Pedro e sua família, dificuldade é coisa pequena, lá estavam eles como se nunca tivessem se ausentado. E entre fotos e risadas, vivemos os cinco anos do Tomás. Naquele dia, eu revivi os nascimentos dos dois e festejei no meu coração. Agora, passados 1 ano e 3 meses, vamos para o sétimo ano do Pedro.

- É Pedroca, tia Luisa!

Ah, é... Sétimo ano do Pedroca. Domingo à tarde, vou vestir a minha melhor roupa, entrelaçar as mãos do Tomás e ir lá para dar um beijo nele. Vou agradecer ao Pedroca por me ensinar, todos os dias, que sonhos são sempre possíveis, que nunca é fácil o quanto gostaríamos que fosse, que para cada tombo há uma mão pronta para ser estendida e que, sim, fiz a melhor escolha ao me apaixonar por ele na maternidade (se é que paixão se escolhe). Daquele dia em diante, as pessoas ficaram mais bonitas. Aprendi a olhar com ele. A olhar com outros olhos o que há de belo em todo mundo.

Obrigada, Pedroca.

Um comentário:

  1. Então... Obrigada a você, minha amiga, por ter segurado em nossas mãos sempre que precisamos, por nos dar o ombro, por rir conosco, por me abrir os olhos quando preciso, pelas palavras de carinho nos momentos mais difíceis, por fazer parte da nossa vida. Os desafios continuam, o futuro é incerto para todos. A certeza é que temos amigos, como você, do nosso lado para seguirmos em frente. Que o domingo chegue logo, afinal temos muito o que comemorar.
    Bj
    Carla

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