Determinadas profissões exigem das pessoas que se ocupam delas bem mais do que conhecimento técnico, vocação ou dedicação. Precisa que elas se habilitem a revelar, nos outros, o que há de mais precioso. Passei duas semanas digerindo o filme Preciosa – Uma História de Esperança, ganhador de dois Oscar, no último dia 7, e cuja passagem nos cinemas de Goiânia foi mais rápida do que deveria. Duro, seco, amargo, triste, mas cheio de esperança. Como pode? Não sei, porque também não sei como determinadas situações encontram soluções nesta vida.
Mas não quero falar aqui do roteirista agraciado com um Oscar pela adaptação do livro que deu origem à película. E sim da professora que recebe a personagem título do filme, Precious Jones, em sua sala, junto a outras seis ou sete meninas com problemas sociais e vítimas de crueldade nem sempre toleráveis.
Menina, negra, obesa, adolescente, analfabeta, vítima de violência sexual do pai e de violência física e moral da mãe, analfabeta, mãe adolescente e grávida de um segundo filho. Precious chega a escola, mas como a escola pode chegar até ela?
Aquela professora tem, à sua frente, um desafio incomum de ensinar a escrever meninas/mulheres, peritas em violência e conhecedoras das entranhas da vida. Escrever se torna um detalhe, é claro... Falar de si mesmas, se aceitar, ouvir e compreender são desafios diários, que têm à frente uma jovem mulher, que precisa manter os dois pés no chão para não sucumbir à loucura daquelas histórias que sentam à sua frente, em uma pequena sala especial. Não é para qualquer pessoa.
Conversando com uma amiga, Carla, que também é professora e temeu ver o filme pelo enredo demasiado cruel, ela me falou daquela mulher que ajuda Precious a abrir uma das muitas portas fechadas em sua vida:
- Eu queria ver só para entender como a professora faz. Como o enredo dá conta de explicar o que muitas professoras têm que fazer diariamente em suas salas, com crianças vítimas de violência, sem nenhum pudor ou discernimento moral do que é certo ou errado.
Foi aí que caiu a minha ficha de que o filme é bem maior do que o drama de Precious. Aquela professora não sucumbe à crueldade de uma garota que sobrevive sonhando, que não encontra lugar no mundo, ela abre a possibilidade para que ela se veja como pessoa, como ser humano. O que a educação faz por nossos filhos, ainda pequenos, mas que algumas muitas pessoas não têm acesso no nosso mundo.
Me lembrei da entrevista do jornalista Lourival Sant´Anna, quando retornou da cobertura recente do terremoto no Haiti. Ele diz, em determinado trecho, que para seguir adiante é preciso “deixar de ser humano”. Aquilo martelou em minha cabeça, dias seguidos, de que o “ser humano” em determinadas situações pode não te deixar cumprir a sua missão. Se a professora do filme pára e chora junto com a protagonista porque esta não tem para onde ir, não tem família, não tem socorro, ela deixa de cumprir o seu papel e a sua missão maior.
Sim, muitas vezes para cumprir nosso papel, a gente precisa mais do que tocar alguém, a gente precisa mesmo fazer com que a pessoa perceba o quão preciosa ela pode ser. Acho que, de formas distintas, a professora do filme consegue fazer isso por Precious, o diretor do filme consegue fazer isso por nós, que deixamos de lado certas humanidades para tocar nossa vida tacanha e o jornalista faz pelo povo do Haiti, que precisa expor a sua miséria para se compreender como precioso.
Em tempos, a atriz MoNique ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pela interpretação de uma mãe omissa e ausente, que permite o estupro da filha aos três anos de idade no filme Preciosa. A cena final, dela se justificando para uma transtornada assistente social, interpretada por Maria Carey, é brilhante e preciosa.
Para quem quer conhecer a experiência do repórter do Estadão, Lourival Sant´Anna, veja o vídeo completo em:
http://tv.estadao.com.br/videos,HAITI-HA-CENAS-QUE-NAO-CONSIGO-TIRAR-DA-CABECA,86257,0,0.htm
Salve Luisa (Buarquiana)!
ResponderExcluirParabéns querida, nesta data linda!!
Hoje cedo, ao levar Luiza (Jobiniana) à Escola, me questionou ela o por que d'o dia de seu aniversário estar "ano sim, ano não, ano sim", quase que invariavelmente, enferruscado, mezzo chuvoso aqui pelo Rio... Ao que respondi: "... são as águas de março fechando o verão...".
Um abraço grande!
Comemore bem aí junto dos seus/suas queridos!!!
Vera&Lulu&Léo
Rio
Eu devia ter ido contigo.
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