quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Como sinto a amizade



“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre”, Charles Chaplin

Em uma grande amizade, aprendemos que não importa a idade, o que importa é o que vem do coração. É preciso andar junto, mas nem sempre olhar na mesma direção. É preciso saber ouvir, falar e calar. É preciso doar e perdoar. É preciso acariciar, aconchegar, adiantar. Mas é, sobretudo e imprescindível, saber amar. Que o Tomás siga por este caminho, nem sempre simples, nem sempre exato, mas onde um segundo faz toda a diferença.



*Registro de Tomás e Elisa, sua amiga mais jovem, neste caminho que estão aprendendo a construir.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Meu Natal começou agora



Voltando do médico pela manhã, acompanhada de mãe e filho, ela começa a me contar que o meu afilhado/sobrinho de 8 anos já escreveu sua carta para o Papai Noel. Mais velho que o Tomás um par de meses, ele acredita mais piamente no velhinho do que o meu filhote. Filho de uma família simples, mas muito criativa, pediu a mãe que enfeitasse logo a casa. O que ela fez com disposição. Uma árvores de galhos secos se instalou na sala deles antes de novembro começar.

Mas hoje, na carta com destino ao homem do gorro vermelho, Vítor pediu de presente uma árvore de Natal "de verdade", com um metro e colocou dentro um recorte de jornal com os tradicionais pinheiros de plástico e uma nota de dez reais, caso fosse necessário uma ajudinha.

Era só este o pedido do menino, porque no meio das muitas invenções do comércio, é o símbolo mais pitoresco do Natal que lhe falta. "Porque assim se parece mais com o Natal".

O Natal, com certeza, já chegou lá de várias maneiras. Na simplicidade dos arranjos, no amor das crianças e na sinceridade do pedido.

Agora, vou começar o meu Natal preparando esta árvore, de onde devem brotar lacinhos, estrelas, botinhas e a lembrança do maior amor do mundo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Inspiração



Lá em casa, na noite que não termina enquanto o trabalho se acumula para todos os lados, fechei o notebook exausta e disse:




- Hoje não dá mais. Estou sem inspiração!



- Inspiração para o que, mãe?



- Para escrever um texto.



- Para que você precisa de inspiração?



- Meu filho, para contar a história de uma forma legal, que todos queiram ler.



- Mãe, neste texto, você não tem que contar a verdade?



- Tenho!



- Então, a verdade só tem um jeito de ser contada. Às vezes, mãe, eu não te entendo.


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É... A verdade não é uma só. Aprendi isso na profissão. Já na vida, tendemos a achar que sempre existe uma só verdade e muitas vezes carregamos fardos demais por isso.

Tomás ainda não sabe o que é inspiração, mas logo irá aprender.

E quem sabe antes deste dia, eu reencontro a minha para fazer agrados às pessoas queridas e escrever textos para um blog abandonado.

Enquanto isso, muitas doses de boas e más verdades andam me cutucando por aqui.

Bom final de semana!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Meu lugar



Vou voltar


Sei que ainda vou voltar

Para o meu lugar

Foi lá e é ainda lá

Que eu hei de ouvir cantar

Uma sabiá”


Nesta segunda, como que para dizer que a primavera está chegando, recebi um presente cheio de emoção e carinho, que me fez passar a noite perambulando em sonhos e me imaginando feliz por uma recordação que ficou apagada nos meus poucos anos de vida. A prima Eleonora Dias, a quem não vejo desde esta época, me enviou por email as fotos do dia em que chegamos a Porto Alegre, no fim do exílio dos meus pais. A data imprecisa no mês de outubro de 1979 guardou o sorriso mais bonito que já avistei do meu pai. Não era para ser diferente. Foram quase dez anos fora de casa, da terra da sua família, do amor dos seus. Neste período, não perdeu só o sonho, a convivência, os nascimentos dos sobrinhos e todas as coisas que nos acontecem em uma década, perdeu também o meu avô Armando, meses antes do seu retorno. Para sanar esta dor enorme das palavras que os dois não trocaram, de uma despedida que nunca aconteceu, o primeiro lugar que minha mãe e meu velho visitaram foi Porto Alegre, mais precisamente no sítio da família, no Lami.

Desta viagem que durou pouco mais de uma semana, minha avó Talita, meus tios e meus primos foram os responsáveis por fazer o meu pai sorrir de novo. Em sua casa, meu pai que também se chamava Armando, tinha o apelido de Negrão, talvez porque fosse o mais moreno dos cinco filhos. Era o terceiro da prole e o único, dentre eles, torcedor do Grêmio. Esta foi apenas uma das muitas diferenças que tiveram em vida. Mas que, para ele, sempre foram pequenas demais. Mesmo depois, morando a tantos quilômetros de distância, meu pai nunca perdeu o Rio Grande do Sul de vista. Era para lá que ia em todas as férias até adoecer. Era para lá que ia também, depois de adoecer, em pensamentos remotos e confusos. Ao ouvir o nome de um dos irmãos ou do rio Guaíba, seus olhos brilhavam.

Deste amor por sua terra, ganhei por muitos anos no registro o nome da cidade como se fosse a minha natal. Só depois de uma compreensão maior da lei, que Bruxelas se tornou minha cidade natal, mesmo eu sendo brasileira. Mas na cumplicidade matreira, meu pai me dizia gaúcha.

Dias depois da viagem registrada nestas fotos, eles seguiram a caminhada, comigo a tiracolo, por Curitiba, Goiânia e Porto Nacional onde se encontravam espalhados os familiares de minha mãe, este é um outro pedaço desta longa história. Naquele ano em que voltamos, meus pais foram muito felizes, como disse minha mãe: “Mais felizes do quem em todos os dias das nossas vidas”. O lugar do meu pai sempre foi ao lado dos que amou tanto. O da minha mãe se fez onde criou novos laços e onde ergueu sua família. Para viver juntos, nem sempre puderam ouvir o sabiá cantar, mas ele estava lá...

 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Padrinhos mágicos


Entre as fixações do Tomás, está o desejo de ter padrinhos mágicos. Como o personagem Timmy Turner, ele gostaria de estar ladeado por estes seres de outro mundo capaz de lhe realizar desejos dos mais sensíveis aos mais absurdos. Estão entre os pedidos deste meninote de sete anos um mês de férias para cada um de escola, um cachorro cor de areia, uma vida sem contas de horas, dias ou dinheiro, uma viagem para outro planeta.

E, a cada dia, a lista muda. Muda de acordo com suas conveniências ou dificuldades. Mas sempre existe, nesta lista, um pedido muito especial. Para o qual seus olhos brilham e o meu coração amolece. E, com certeza, é um pedido que não precisa de padrinhos mágicos. Precisa somente da sua pureza infantil para chegar aos ouvidos de quem precisa.

Tomás tem um amigo querido, de quem já falei aqui, chamado Pedro. Com oito anos, é meu sobrinho de coração e é também personagem de muitas histórias vividas na infância do Tomás. Com o Pedro, meu pequeno aprende muitas coisas. Os dois brincam e brigam na mesma proporção. Mudam de time, torcem ao contrário, trocam figurinhas, afetos e, às vezes, desafetos. Mas seguem lado a lado, não pela amizade que tenho pela Carla, mãe do Pedro, mas pela amizade que construíram e que, na minha esperança, se tornará mais sólida com o passar dos dias.

É do Pedro o pedido mais importante do Tomás para os padrinhos mágicos.

- Mãe, vou pedir para o Pedro poder andar...

- Filho, por quê? O Pedro é uma criança muito feliz.

- Mãe, mas eu quero que ele possa jogar bola.

- Vocês já jogam do jeito de vocês.

- Mas eu quero que ele seja, assim, o melhor jogador do mundo.

Para este pedido, eu preciso diariamente alargar o meu discurso para contemplar a legitimidade do desejo do Tomás e ensinar a ele que existem caminhos possíveis. Também preciso aprender com ele a ter esperança de um jeito que só as crianças têm.

Hoje cedo, vendo o Bom dia Brasil, ele me chama e diz assim:

- Já tenho a solução, já que os padrinhos mágicos não existem mesmo.




* Na foto, Pedro ladeado de seus amigos mágicos: Tomás e Carol. Registro da tia coruja!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Protesto


Estamos, eu e Tomás, em uma rotina atribulada de ir ao médico e fazer exames. Das agulhadas, Tomás tem pavor, mas também não gosta da sala de espera, pois o “filho, hoje temos que ir ao médico” significa menos tempo para brincar. Quando pequeno, o “tio Gusmão”, o pediatra que o viu nascer, lhe fazia graça com balões e pirulitos no final da consulta. Agora, é muito pouco para atraí-lo ao mundo dos jalecos e estetoscópios.


Quando anunciei, logo na segunda cedo, a programação da semana que inclui uma consulta na quinta, ele disse:

- Mãe, esta médica nova consegue colocar asas em crianças?

- Não, Tomás. Para quê você gostaria de asas?

- Para não chegar atrasado na escola. O trânsito no céu é bem melhor... E essa médica sabe fazer chover?

- Também não, filho. Médicos curam doenças.

- Pois a minha doença, mãe, é este calor.

- Isso se resolve com o tempo, filho.

- Mãe, não adianta de nada ir nestes médicos. Eles não resolvem minhas questões mais urgentes!


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Eclipse



Com a chegada à metade final do ano, a maioria de nós dá sinais evidentes do cansaço. Quem pensa que é diferente para as crianças se engana. Os pequenos, mesmo depois das férias, se doem pelos horários a cumprir, pelo volume de tarefas, pelas provas e pelo cansaço em forma de irritação no comportamento dos pais.
Lá em casa, não é diferente. A poucos dias de uma grande mudança em nossa vida, quando terei mais tempo para ficar com ele, Tomás se mostra esgotado ao ser acordado antes das 7 da manhã, com o café da manhã engolido e com os horários sempre apertados pelo meu passo.
Sexta-feira, ao levantar, me disse:

- Mãe, bem que podia acontecer um eclipse total e de 24 horas.

- Para quê?

- Para que pudéssemos ficar quietinhos em casa sem olhar para fora.