segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O que é felicidade, meu amor?





Então, me diga, por favor, o que é felicidade. Porque algo me diz que o dicionário sabe pouco sobre o seu significado. E também não é disciplina do ginásio ou do ensino universitário. Talvez quem já tenha doutorado, sabe o que é, mas como eu não cheguei lá, ando matutando com minha graduação uma boa explicação.
Não está escrito em nenhuma página do meu “Aurélio” que felicidade é estar perto de quem se ama, de preferência, rodeado dos seres amados. Nem que felicidade é ver quem você ama muito, mas muito feliz e se você puder colaborar com “uma mãozinha”, ai, daí é algo grandiosamente feliz. E que se esta pessoa realizar um daqueles sonhos mais secretos, você ganha uma fatia da felicidade como se fosse um pedaço de bolo.
E se você, com muito medo de algo dar errado, em um momento que você se esquece de que pode dar certo, visualiza os passos corretos e firmes de quem você ama no caminho perfeito, ah... Aí é explosão de felicidade, mesmo sem estar escrito no dicionário.
Também não foi registrado em nenhum dos sinônimos da felicidade a saudade. Porque depois, pôr fim a ela com muitos abraços e beijinhos é capaz de te deixar estranhamente plena. E é ainda mais estranho que não esteja escrito que a lembrança de dias felizes nos faça ainda assim felizes para sempre.

- Filho, se comporte, por favor! Hoje é um dia muito especial para todos e eu não quero ficar chamando sua atenção.
- Mas por que é tão especial?
- Porque foi um dia muito sonhado e desejado, porque estão todos felizes. É um dia muito feliz.
- Mãe, hoje é o dia mais feliz do mundo?
- Para alguém, com certeza, sim.
- Ah... E qual foi o seu dia mais feliz do mundo?
- Foi o dia que você nasceu.
- E o meu, foi o dia que eu te escolhi.

Apenas porque não existem medidas para esta tal felicidade, eu perdi a capacidade de dizer quantas vezes fui feliz. Porque medidores, réguas, calendários, sinônimos e antônimos não são capazes de explicar o amor, que é o motor da minha felicidade. Dias felizes são compartilhados sem preocupação com a capacidade ou o fim deste recurso infinito e batem na nossa porta sem agenda.
Eu vou rasgar a página do dicionário que diz que a felicidade é “ventura, contentamento”. Com certeza, hoje sinto mais que isso. Abri a porta e deixei entrar.


terça-feira, 25 de agosto de 2009

Impotente


No dicionário: que não pode; fraco, débil. No coração: é aperto sem tamanho, lágrimas quentes no rosto, mãos atadas sem assim estarem. Há, com certeza, um grupo no mundo que se sente mais impotente do que o restante da humanidade. Este grupo é formado por mães, de todas as nacionalidades, tipos, pesos, religiões, mas todas com a mesma sensação diante dos seus filhos. A sensação de que não vão conseguir dar um passo adiante, uma resposta, uma solução para o que aflige a alma dos seus pequenos. A impotência dói muito na gente e em quem a gente ama e talvez devesse entrar na lista do pior que existe no mundo.

Eu me sinto assim toda vez que me deparo com a incerteza do futuro, com fórmulas que não dão certo, com dias cinza entre eu e o meu filhote. E, nestes dias e nestas noites, em que o sono some junto com o sorriso, com a paciência, com a serenidade, eu sempre acho que fiz tudo errado, que escolhi tudo errado e que não terá nada capaz de corrigir o estrago já feito. E penso que ele não será elegante, independente, generoso e, o pior de todos os anseios, não será capaz de ser feliz.

É... Eu me sinto impotente e dói me sentir assim. E diante da impotência, que ninguém é capaz de compreender ou dividir, eu fico quase prostrada: eu e eu com minha dor. Até que um moleque de cinco anos passa feito um vento no meio da sala, fala algumas palavras no meu ouvido e segue gargalhando ao encontro dos seus brinquedos favoritos é que me dou conta que o tempo ainda é generoso comigo, que eu ainda posso ensiná-lo o que ele não aprendeu e que eu ainda posso aprender com ele o que todas as crianças sabem desde sempre: que as coisas podem ser mais fáceis, porque não somos tão fracos assim. Aliás, não existe fortaleza maior do que a da maternidade. Pena que memória de mãe, de tão gasta, às vezes, é curta.

* Pintura de Picasso representando a maternidade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gentileza III


Para terminar a minha semana de reflexões dedicada a gentilezas, vou falar uma coleção preciosa, que só uso em grandes momentos como se faz com jóias de família. É uma coleção de gentilezas que guardo para aqueles momentos em que ficamos meio borocoxô e não se reconhece muito o valor que se tem. Daí, eu fecho os olhos bem apertados, respiro fundo e deixo vir um destes instantes tão poderosos que me fazem sentir algo tão bom, tão bom, que só mesmo uma gentileza é capaz. Alguns destes momentos, eu vou catalogar para não perder a minha mania de lista, mas não necessariamente estão organizados assim ou citados aqui:
- A primeira volta de bicicleta no Clube de Engenharia, com meu pai me seguindo e me apoiando antes das quedas;
- As mãos da minha prima Ana Cristina me segurando, no rio, para me ensinar a nadar, sem desanimar com o meu desajeito;
- Um vestido branco, encomendado por minha mãe, com uma renda branca na gola para o meu aniversário de seis anos. Foi a roupa mais bonita que eu já tive;
- Os biscoitos fritos da minha avó Ana, no final da tarde, no último dia de férias, todos os anos antes da sua partida;
- A colcha bordada de tulipas com ramos enormes pela minha tia Maria, de um ano para o outro, presente perfeito;
- As cartas da minha madrinha, com selos de diferentes lugares do mundo, mas com o carinho e sabedoria de sempre;
- As trocas e os empréstimos de roupas entre eu e a Carolina, na adolescência. Ela, sempre mais antenada do que eu, me vestia com muito dom;
- As ligações, que não falham nunca, vindas de Brasília da minha amiga Indira;
- As muitas caronas para levar meu pai ao médico ou socorre-lo em momentos de crise. Gente que não tem o nosso sangue, mas tem algo maior conosco;
- Os longos cafés com minha amiga Deire, nos anos bem passados;
- Uma cantoria linda, na minha janela, quando eu fiz uns 20 anos. Amigos afinados e perfeitos em guardar segredo, escolher repertório e me deixar corada;
- Dois convites para ser madrinha. Primeiro do Vinícius e depois da Dri;
- Dois outros convites para ser madrinha de casamentos importantes e únicos;
- Os copos d´água que minha secretária Annielly colocava na mesa para que eu não desidratasse na gravidez;
- O empenho de dois amigos para fazer uma faxina antes da minha mudança, enquanto eu fiquei sentada feito uma pachá, com a desculpa da gravidez;
- A minha médica me ameaçando ligar para minha mãe caso eu não engordasse um quilo no mês seguinte, no meu pré-natal;
- O chá de casa nova “surpresa” organizado por amigas empenhadas e carinhosas;
- A correria da minha irmã para embalar de última hora as lembrancinhas de nascimento do meu filho e comprar roupas que vestissem seus 2,6 quilos;
- Todos os convites das festas do Tomás, feitos por mãos habilidosas de amigas tão queridas. E as ajudas que recebi para organizar as festas, do primeiro ao mais recente;
- As muitas mãos firmes que me ampararam no dia que meu pai se foi;
- A bandeja cheia de copinhos descartáveis com gelatina colorida que a Marta prepara toda vez que meu filho vai ficar na sua casa;
- As duas primeiras viagens que fiz com a Carlinha e o Pedro para Brasília, no banco de carona, aprendendo a viver;
- O copo de chá, em cima da bancada, toda vez que meu filho chega na casa da minha mãe;
- Os desenhos e pinturas do Tomás que enfeitam minhas paredes e minhas gavetas;
- Os encontros de amigas do dia 10.
Não sei se eu merecia tanto, mas dou a estes e outros momentos e fatos da minha vida um valor imensurável. Sou grata a estas pessoas, próximas ou distantes, por me ensinarem o valor da gentileza, de gestos pequenos e grandiosos que me fazem até hoje sorrir.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Gentileza II

Se as cidades e as casas tivessem seus muros e suas paredes cobertas de palavras de gentileza será que seríamos mais capazes de perceber o que é realmente necessário? José Daltrino, o profeta Gentileza, acreditava e vivia isso. Talvez seus cinco filhos tenham aprendido com ele o básico: amorrr (como ele escrevia), perfeição, beleza, bondade e sabedoria. A música acima está sempre tocando no meu fone de ouvido e foi bem lembrada pela minha afilhada Dri, em post anterior.

Às vezes estamos tão absortos nas tarefas cotidianas, no ir e vir da cidade, nas obrigações maternais e profissionais, que não dá tempo do básico. Temos que nos preocupar com o vil metal, com a violência que assola o mundo, com o fim dos recursos naturais, com a sucessão presidencial, com a gripe suína, com o modelo adotado pela escola, com a última pesquisa sobre o desenvolvimento da mente humana.

Outro dia, meio assim, sem querer dizer, ele me disse:

- Se eu sorrio para você, mamãe, você deve sempre sorrir para mim, né? Sim, filho.

Gentileza gera gentileza. E se eu fizer o contrário, por favor, me corrija...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gentileza I




Ensinamento


(Adélia Prado)


Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.

Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo:

"Coitado, até essa hora no serviço pesado".

Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.

Não me falou em amor.

Essa palavra de luxo.

x x x x x
Minha mãe também não me falou nada sobre o amor, nem a gentileza que envolve amar e ser amado. Não me falou de como deveríamos tratar e ser tratado. Mas bastava que eu, espirrasse ou amolecesse o corpo, para ela fazer a sua tradicional gemada com hortelã. Talvez a minha avó também não tivesse dito nada a ela sobre este luxo, descrito por Adélia Prado. Mas ela, provavelmente, reparou nas latas de biscoito escondidas na parte mais alta do armário para quando os netos chegassem em casa ou ainda nos miúdos da galinha, separados ainda na cozinha, para quem como eu, faz questão. Não há como mesmo falar de amor, dizer de certas gentilezas que aquecem o estômago e também o coração, porque estas não têm muita explicação. Talvez por isso, quando acordo em dia que nem é santo, e a minha mesa está posta por um guri de 5 anos com pratos e talheres para alimentar um batalhão, penso que sempre dá para ensinar o necessário em silêncio, em silêncio. E que uma mesa bem posta, um bolo bem feito valem mais do que mil palavras...

*Sempre Adélia Prado. Volto à ela depois da minha semaninha insone, de um final de semana mais tranquilo e depois de ler o blog da Nina sobre o amor feinho. Queria ser tão essencial quanto ela.

Foto: Deire Assis
Produção: Luisa e Tomás para grandes amigos

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Noite de paz

Sim. Eu tenho insônia e já faz muito tempo. Ela melhora. Ela piora. Junto com o meu humor. Às vezes não durmo pensando no boleto não pago, na palavra não dita, na ligação não feita. Às vezes não durmo porque o olho seca e a mente acelera. Às vezes não durmo porque os carneiros nunca acabam e contar até 100 de trás para frente me deixa perdida. Às vezes não durmo porque tenho palpitações e nunca sei do que se trata. Às vezes não durmo porque os travesseiros (são 3) ficam de mal de mim e não se ajeitam. Às vezes não durmo porque a cortina bate na parede e faz barulho. Às vezes não durmo porque o sonho é tão ruim que prefiro os livros da cabeceira. Às vezes não durmo porque já é tarde para quem irá acordar tão cedo. Às vezes não durmo por causa do trabalho atrasado e pensar nele é inevitável. Às vezes não durmo porque a dieta me rouba calorias e sono. Às vezes não durmo porque espero, espero e o sono não vem. Mas quando rezo, noite sim, noite não, imploro para dormir sem sonho, sem sobresaltos, sem interrupção por pelo menos uma noite, uma noite de paz.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Atchim!


Saúde, pelo amor de Deus. Não vá adoecer logo agora, quando parece que todo mundo vai morrer de forma inevitável ao virar a esquina e eu não posso viver sem você. Então, por favor, lave as mãos dez vezes ao dia, compre álcool gel e carregue para onde for, evite comer fora de casa, mantenha uma certa distância de qualquer um, suspenda demonstrações de afeto e prefira sempre por telefone do que pessoalmente.
Sim. Fiquei neurótica da semana passada para cá. Depois que uma amiga recebeu um email da escola do filho dela falando das precauções no retorno às aulas, eu dei uma pirada geral. Agora, o filhote vai com a sua própria garrafinha d´água para a escola, proibi o parquinho de areia e o lanche da lanchonete, compartilhar está um pouco em desuso e lavo as mãos dele sempre que posso. Com as amigas, é o primeiro assunto do dia. Tenho que me preocupar com quem está e com quem não está no grupo de risco. A que está gravidíssima está poupada de qualquer agenda em público. Quando fui a São Paulo, na semana passada, recebi a orientação de levar álcool gel e máscaras (o que não achei para comprar) e olhava para os lados para ver se tinha alguém espirrando.
Eu tentei, tentei muito evitar ler o que se falava do assunto. Mas fui pega. Minha tia, de Brasília, diz que é mais propaganda do Tamiflu do que outra coisa. Na contramão, dois amigos da família contraíram o vírus, sofreram e sobreviveram. Desde a época que trabalhei na saúde, sei que a gripe mata muito, principalmente os pobres e/ou idosos pela falta de defesas e de assistência adequada. Sei que a vacina, em quase todos os casos, é uma grande aliada. Mas quando uma doença nova chega, ganha proporções midiáticas, mata futuras mães de famílias e o seu filho, longe dos seus olhos, coloca a mão na boca 100 vezes por dia, você tem que pedir outras 200 vezes que ninguém espirre por perto e que se espirrar, saúde...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Benditos dias de aula


Enfim, acabou. As doces férias do meu filhote tiveram um final hoje e voltamos ao batidão: casa da vovó, trabalho, casa da vovó, escola, trabalho, casa da vovó, nossa casa. Na verdade, voltou o batidão dele, porque eu não tive muito sossego nestes dias das férias deles. Aliás, férias de filho deveriam ser férias compulsórias da mãe, porque haja criatividade, paciência e animação para inventar programações nos seus poucos minutos de folga e ainda aturar a frustração deles com a nossa pouca disponibilidade.
Ainda assim rolou uma colônia de férias, uma viagem de dois dias, passeios nas casas das tias, circo, clube, cinema, coleguinha dormindo em casa, lanchonete e, para finalizar, uma grande banana split. Ufa!
Diferente do Filipe, do Quino, o Tomás adora o retorno e entrou na escola todo serelepe com a pasta nova na mão. Abraçou a professora e disse que estava com muitas saudades e, provavelmente, estava, porque ninguém tem mais paciência com ele do que ela. E porque as tardes em frente à televisão na última semana já não estavam tão divertidas.
Que Deus abençoe todas as professoras das salas infantis! Que elas permaneçam sãs para dar conta dos nossos filhos! Que elas tenham descansado o suficiente e tenham energia de sobrar para os pequenos! Que eles aprendam muito, o necessário para mudar o mundo! Que agora ele durma mais cedo quando chegar em casa e não pergunte o que vamos fazer amanhã! E que ninguém adoeça, porque não consigo parar de pensar no risco que esta meninada corre na escola! Que sejam benditos todos esses dias de aula!