terça-feira, 25 de maio de 2010

Futebol, letras e cortinas




Foi assim, como em um estalo, que o pequeno veio da sala radiante me dizer:


- Mãe, o Ronaldinho vai jogar na copa de 2014.


- Onde você viu isso, filhote?


- No jornal.

A televisão estava muda e eu também.

- Que jornal?

- Este aqui.



Debaixo do braço, estava o impresso do dia, que ele abriu com bastante pressa para me mostrar a foto do Ronaldinho jogando e o título da matéria “Ronaldinho quer jogar a Copa 2014”. Esta foi a primeira frase que o Tomás leu por completo, depois de um ensaio de um ano, quando começou a ser alfabetizado. Lia algumas palavras, outras não, perdia a paciência, chorava um bocado e dizia que o mundo das letras era muito difícil.


Mas, depois do bendito álbum de figurinhas da Copa, com seus nomes estrangeiros e uma porção de informações sobre jogadores, times e afins, o menino passou a se concentrar e a juntar as informações que dormiam na sua cabeça. Da semana passada para cá, ele lê todas as placas da rua e, volta e meia, me diz:

- Eu li no jornal, mamãe!

Aberta esta cortina, que nos deixa cegos, um novo mundo se apresenta para o meu pequeno. Um mundo cheio de letras, de exceções, de regras, de poesia e de notícias.

- Mãe, eu só não entendo muito o w. Afinal, ele é u ou é v?

E saber ler o coloca em outra categoria de meninos, não só de alfabetizados, mas capaz de fazer escolhas, de entender grandezas de uma vida que está escrita a nossa volta e o mostra um caminho para ser independente e construir sua própria história. Enquanto não se sabe ler, é preciso muita iluminação para ver além da escuridão do analfabetismo. E agora o Tomás não precisa mais dela, porque a leitura está iluminando o seu caminho.

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